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CLÓVIS ROSSI
Uma Argentina desconhecida
MADRI - É a primeira eleição argentina, desde a redemocratização
(1983), que deixo de cobrir ao vivo e
em cores. Computando-se as posses dos generais-presidentes do período 1976/83, foram tantas que até
decorei o juramento, que repito de
memória: "Juro por Dios y por los
Santos Evangelios respetar e hacer
respetar la Constitución y las leyes
de la República Argentina".
Cheguei até a discutir comigo
mesmo se desfazia ou não os compromissos assumidos na Espanha e
me oferecia à Folha para cobrir a
eleição de domingo.
Agora vejo que fiz bem em não
ter tomado a iniciativa, até porque
a Folha está mais bem representada pelo time que está lá. Afinal, texto de Rodrigo Rötzsch informa que
72,8% dos argentinos dizem se interessar pouco ou nada por política.
Não é a Argentina, pelo menos não
é a "minha" Argentina.
Nesta última, não havia rodinha
de duas pessoas em qualquer esquina da Florida, o grande calçadão
central, que não se transformasse
numa animadíssima mesa-redonda
sobre política e os destinos da pátria. Todo mundo na "minha" Argentina parecia pós-graduado em
sociologia ou política.
Agora, os números citados por
Rötzsch mostram "graus a mais de
degradação num país com antecedentes de primeira grandeza", como escreve Newton Carlos, provavelmente o jornalista que mais conhece a América Latina.
Ajuda na degradação o fato de o
sistema partidário ter implodido
completamente, na esteira, aliás,
do que aconteceu ou está acontecendo em toda a região. É triste verificar que o que nem a ditadura
mais selvagem conseguiu (erradicar os partidos históricos) ocorreu
na democracia.
No Brasil tampouco há grande
apreço pelos partidos, mas que dê
um passo à frente quem tenha uma
outra fórmula -e menos ruim- de
fazer a intermediação entre o Estado e a sociedade.
crossi@uol.com.br
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