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Manifestantes contra o G20 convocam queima de bancos
Londres se prepara para onda de protestos durante cúpula da próxima semana
Com a crise varrendo a Europa, banqueiros que receberam ajuda pública viram alvo número um de ativistas antiglobalização
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O G20, o grupo das maiores
economias do planeta, reúne-se na próxima quinta-feira em
Londres para discutir principalmente como sair do esfriamento econômico global.
Os adversários do G20 têm
uma sugestão de humor negro
para aquecer se não a economia, pelo menos o ambiente:
"Queime um banco", proclama
folheto de Guerra de Classes,
um dos grupos que prometem
fazer de Londres um inferno ao
menos para os banqueiros,
transformados nos últimos
tempos em inimigos públicos
número um do planeta.
"Queime um banco" não é
apenas linguagem figurada. Para começar, não chegaram a
queimar um, mas já atacaram a
casa de um banqueiro, Fred
Goodwin, o executivo do RBS, o
portentoso banco britânico que
só não faliu porque o governo
entrou com um caminhão de
dinheiro para ampará-lo.
Parte desse dinheiro acabou
nos bolsos de "sir" Goodwin,
graças ao acordo que lhe dá
uma aposentadoria generosa,
mesmo depois de ter levado a
sua instituição à quebra.
Para continuar, os ativistas -
cuja coalizão leva o nome de
"G20 Meltdown" ou derretimento do G20- pretendem sitiar na terça-feira a City londrina, segundo maior centro financeiro do mundo e o mais
importante da Europa, onde a
crise derruba governos e provoca protestos (veja quadro).
Com os nomes de cavaleiros
do Apocalipse, quatro marchas
partem de quatro estações do
metrô e convergem para o prédio do Banco da Inglaterra, o
BC inglês, diante do qual fazem
o que estão chamando de "carnaval", com música ao vivo, teatro de rua e, claro, o enforcamento de efígies de banqueiros.
De lá, uma das marchas, a de
uma coalizão contra a guerra
(do Iraque e do Afeganistão),
parte para a que era, antes dos
banqueiros, a inimiga número
um dos movimentos antiglobalização, a Embaixada dos EUA,
hoje um bunker a três quadras
da embaixada brasileira, onde,
em tese, estará o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia seguinte, o dia do encontro do G20, as manifestações tentarão chegar ao ExCel,
centro de convenções afastado
da City e que a polícia promete
tornar inexpugnável para a segurança dos chefes de governo.
Os protestos começam no sábado, mas é um dia em tese
tranquilo, porque se trata da
marcha oficialmente autorizada. Há dias as ruas centrais já
exibem, bem britanicamente,
os cartazes avisando que serão
interditadas amanhã por causa
de manifestação que se dirigirá
ao Hyde Park, uma das atrações
principais da cidade.
Como em Seattle
A marcha será precedida de
uma missa ecumênica, na catedral de Westminster, oficiada
pelo bispo de Londres.
Mas as bênçãos das diferentes igrejas podem não bastar
para dar ao protesto o caráter
pacífico pretendido pelos organizadores: o Bloco Anarquista,
usualmente violento, pretende
aproveitar a manifestação no
Hyde Park para angariar adeptos para os atos do dia 1º.
Se depender do entusiasmo
dos jovens que difundem a programação de protestos via
Twitter, será a volta dos grandes protestos de rua que se tornaram famosos há dez anos,
quando grupos similares impediram a abertura da conferência ministerial da Organização
Mundial do Comércio em Seattle (EUA). Conseguiram a rara
proeza de impedir uma secretária de Estado, no caso Madeleine Albright, de discursar em
solo americano.
Depois, protestos espetaculares acompanharam todos os
grandes eventos internacionais
até o 11 de setembro de 2001.
Para evitar serem acusados de
terroristas, os manifestantes se
encolheram, mas não desapareceram. Sem contar o fato de
que muitas cúpulas foram
transferidas para locais inacessíveis, como as do G8.
Mas a City londrina é o mais
acessível dos locais agora que o
protesto ganhou um novo alvo,
os bancos e os banqueiros.
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