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Dissidência mingua na China após Tiananmen
Passados 19 anos de repressão a protestos por democracia, mobilização é localizada
Em ano olímpico, governo aumenta restrição a direitos civis; advogados perdem registro após se oferecerem para defender tibetanos
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A polícia chinesa reprimiu
ontem um protesto de cem pais
de crianças que morreram após
o desabamento de escolas pelo
terremoto na Província de Sichuan, em 12 de maio. Mais de
13 mil estudantes morreram
quando suas salas de aula desmoronaram, e os pais questionam a má qualidade da construção das escolas.
Se persistirem, os protestos
de pais em luto em Dujiangyan
serão os únicos a acontecer na
China em plena semana que
marca o 19º aniversário do
massacre da praça da Paz Celestial, ou Tiananmen.
Na madrugada de 4 de junho
de 1989, cerca de 300 mil soldados chineses tomaram as principais avenidas da cidade e atiraram contra manifestantes
acampados na maior praça chinesa, exigindo a democratização do país. No auge, um milhão de pessoas participou do
protesto.
Infinitamente menor hoje, a
dissidência chinesa continua
sob dura repressão da ditadura.
Ontem, dois dos advogados
pró-direitos humanos mais reconhecidos do país tiveram sua
licença profissional cassada.
Teng Biao e Jiang Tianyong
fazem parte do grupo de 18 advogados que se ofereceram para defender os mais de mil tibetanos presos em março após
confrontos com a polícia chinesa. O governo disse que os integrantes do grupo não conseguirão renovar sua licença profissional por "insistir em tocar em
temas sensíveis do país", segundo Jiang.
"Nos aconselharam a não
darmos entrevistas a jornalistas estrangeiros também."
Repressão pré-olímpica
Organismos de direitos humanos calculam em 3.000 os
mortos em 1989 Tiananmen.
Milhares foram presos e outros
milhares tiveram que deixar o
país. Segundo a organização
Human Rights Watch, há 130
manifestantes ainda presos.
Dezenove anos depois, as
mudanças no país foram bruscas. Em 1989, a China sofria
com inflação acelerada. Hoje,
apesar da inflação voltar a crescer, a economia do país é dez
vezes maior que naquele ano.
Em tempos de bonança econômica, o assunto "democratização" desapareceu dos poucos
debates críticos tolerados na
China. Os novos dissidentes
atuam em campos mais específicos, como a defesa do ambiente, a atenção a soropositivos e a defesa de integrantes de
minorias religiosas, dos praticantes da Falun Gong a budistas tibetanos.
Às vésperas da realização da
Olimpíada de Pequim, o governo voltou a apertar o controle
sobre qualquer movimento
dissidente. Só no último ano,
750 oposicionistas foram presos, segundo a ONG Dui Hua,
sediada em San Francisco
(EUA).
"Os chineses estão voltando
a protestar por seus direitos e
todos os movimentos democratizantes começaram por lutas de direitos mais específicos", diz o ativista Erping
Zhang, 47, porta-voz do movimento espiritual Falun Gong,
banido da China.
Ele mora em Nova York e,
como milhares de outros ativistas, Zhang é proibido de retornar ao país desde 1998.
Repressão no interior
Em duas regiões chinesas,
Tibete e Xinjiang, o clima ainda
é bem parecido com o de 1989:
militares e tanques nas ruas,
toques de recolher e protestos
que desafiam a repressão.
Em Xinjiang, onde os muçulmanos da etnia uigur protestam contra a falta de liberdade
religiosa, e uma manifestação
em março terminou com 600
mulheres presas, o clima de
tensão pré-olímpica só cresce.
Há blitze de militares nas
principais estradas, escolas religiosas têm sido fechadas, e há
toque de recolher em cidades
do sul da Província.
O jornalista Nicholas Kristof,
colunista do jornal americano
"The New York Times", viajou
como turista à Província, mas
só conseguiu ficar um dia. Seu
motorista e intérprete foi detido e interrogado, e Kristof foi
seguido o tempo todo por policiais do Departamento de Segurança.
No Tibete, Província que clama pela autonomia ou independência desde que a China
reocupou em 1950, após breve
período de independência,
mais de mil manifestantes foram presos após os violentos
protestos de março. Turistas e
jornalistas estrangeiros são impedidos de visitar a Província
desde então.
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