São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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música

Mallu mulher

A cantora paulista Mallu Magalhães, 16, lança CD de estréia como se já fosse adulta

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em fevereiro deste ano, Mallu Magalhães esteve na capa do Folhateen, ao lado de outras três jovens cantoras. Ela começava a fazer sucesso na internet com "Tchubaruba" e tinha tocado em apenas uma casa noturna até então. Na semana passada, a cantora lançou seu primeiro disco em uma ação de marketing com uma operadora de celular, que está vendendo cada faixa por R$ 1,99 em seu site.
Além disso, cinco modelos de telefone estão sendo lançados com o álbum completo armazenado na memória. Em novembro, o CD chega às lojas e, em dezembro, ela lança também um DVD.
Em apenas oito meses, Mallu passou de mero hype da internet a cantora profissional. Aos 16 anos, ela conta com uma estrutura que muitas bandas com muitos anos de estrada ainda estão longe de conquistar.
Ela tem um empresário (Rafael Rossatto, da banda Bidê ou Balde), um produtor - que a leva de um lugar para outro e providencia, entre outras coisas, o alvará do Juizado de Menores exigido em cada apresentação-, um produtor artístico e uma assessora de imprensa.
Graças a essa estrutura profissional, Mallu já vendeu uma música para um comercial de TV -que bancou a gravação do disco-, produziu dois clipes, foi indicada em três categorias no VMB -inclusive "artista do ano"-, se apresentou em quase todas as capitais do país, gravou um DVD e está escalada para tocar no festival Planeta Terra, em novembro, ao lado de bandas como Bloc Party e Jesus and Mary Chain. Tudo isso muito antes de o primeiro disco chegar às lojas.
"Acho que foi bem rápido em relação a outras bandas, mas é natural. Estava na hora de acontecer, foi um ótimo momento para eu crescer", diz a garota, que, com o dinheiro que está ganhando, quer comprar um apartamento para morar sozinha quando fizer 18 anos.
Rossatto, o empresário, não abre o valor do cachê, mas diz que está na faixa do de Marcelo Camelo, 30 anos, quatro discos lançados com o Los Hermanos e um CD solo no currículo.

Estudos
Em meio ao turbilhão de acontecimentos, a escola ficou em segundo plano. Só não foi totalmente limada da rotina por imposição do pai. "Foi a condição que ele colocou para eu exercer a minha profissão. A escola é importante se você quer fazer parte da sociedade, mas eu não faço a mínima questão. Isso não está me trazendo nada. Mas, como o meu pai manda, eu tenho que obedecer", diz a cantora, que está no primeiro ano do ensino médio e já mudou de colégio duas vezes só neste ano por não acompanhar o ritmo das aulas.
Mallu também já está experimentando o "gostinho da fama". Além de receber diariamente centenas de mensagens em sua página no MySpace, que raramente consegue responder, ela já recebeu cartas, presentes e até visitas de fãs em sua casa, no bairro nobre do Morumbi.
"Tive que aprender a lidar com o pessoal aparecendo na porta da minha casa. Acho legal, mas não posso ser muito carinhosa com a pessoa, porque, bem ou mal, não é só a minha privacidade que está em jogo, é a privacidade dos meus pais, da minha irmã. Por isso eu dou uma "escondidinha" quando aparece alguém", diz.
Durante a gravação do DVD, há duas semanas, o público que lotou o Na Mata Café, em São Paulo, cantou as músicas com a garota e deu presentinhos para ela durante o show.
Mas a fama repentina também tem seu lado negativo. "O tempo que eu passo em casa é bem menor. De vez em quando eu chego cansada, estressada e tenho que tomar cuidado para não descarregar nos meus pais. Tive dificuldade em não fazer isso no começo, mas hoje eu consigo lidar melhor. Guardo um pouco da minha energia e do meu sorriso pra eles", conta a garota, que também está se esforçando para não virar uma "pessoa esnobe, sem pé no chão". "Eu me preocupo com isso, tem que ter cuidado porque não é parte de mim."

O disco
Gravado no Rio ao longo de 20 dias, durante as férias de julho, o disco "Mallu Magalhães" tem produção de Mario Caldato Jr., brasileiro que teve seu auge nos anos 1990 ao trabalhar com artistas como Beastie Boys. Mais recentemente, produziu os brasileiros Marcelo D2 e Nação Zumbi.
"Quem propôs (o Mario como produtor) foi o meu empresário. Eu não o conhecia direito e nem sabia o que faz um produtor. Só percebi a diferença que ele fazia quando a gente foi gravar mesmo. Não sei explicar direito, mas acho que ele capta a atmosfera", afirma.
Quem espera a ternura de "Tchubaruba" ou de "Vanguart" pode se surpreender com a densidade quase melancólica de faixas como "Noil" e "O Preço da Flor", uma das poucas em português.
"Tenho vários lados, alguns mais maduros, outros menos. Tenho dias tristes, outros felizes. Acho que isso ficou evidente no disco, naturalmente. Tem músicas pesadas. Tem músicas mais "mulheres", como "Noil", que eu compus no piano. É tipo um rugido de liberdade", diz.
O folk que ela introduziu para o público adolescente está presente em faixas como "Angelina" e "Don't Look Back".
A capa traz um desenho da própria cantora. Um leãozinho, em homenagem à música de Caetano Veloso que o pai cantava para ela na infância.
Alternando a pose de menina e o jeito de mulher bem-sucedida, Mallu não confirma nem desmente o namoro com o vocalista do Vanguart, Helio Flandres. "Não quero comentar porque não está estável o suficiente. Tenho medo de chatear alguém."
Mas confessa que está "definitivamente" apaixonada. "Tenho um (amor) que é acima de tudo. Eu, infelizmente, não posso exercê-lo atualmente."


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