|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
arte
Bote a boca no mundo
Projeto de artistas finlandeses transforma reclamações do cotidiano em música
DA REPORTAGEM LOCAL
Já parou para pensar
em quanto tempo e
em quanta energia você gasta reclamando
da vida? O casal de artistas finlandeses Tellervo Kalleinen e Oliver Kochta, sim. E
quando perceberam que boa
parte de seus dias era dedicada
à arte de reclamar, decidiram
que era hora de transformar toda aquela insatisfação em algo
mais produtivo.
Foi assim que nasceu o projeto "Complaints Choir" (coral
das reclamações), em 2005. A
dupla percorreu seis cidades ao
redor do mundo (Birmingham,
Helsinki, São Petesburgo, Cingapura, Hamburg-Wilhelmsburg e Chicago) com um único
objetivo: ouvir reclamações.
Em cada cidade, eles realizaram um workshop em que os
participantes eram estimulados a dizer o que mais os incomodava no dia-a-dia.
De problemas no trabalho a
dificuldades no relacionamento com vizinhos, valia tudo.
"Apareceram coisas esquisitas,
como "meus sonhos são chatos",
"minha avó é racista", "meu vizinho está tendo aula de danças
folclóricas em cima do meu
quarto" ou "não dá para acender
um cigarro no Fogo Eterno'",
comenta Tellervo, 32, que costuma reclamar de pessoas que
ficam muito próximas às esteiras de bagagens nos aeroportos,
impedindo que os outros peguem suas malas.
Os corais
Em cada destino, as reclamações foram transformadas em
música, que depois foram apresentada pelos participantes em
formato de coral em lugares
públicos de cada cidade.
As performances foram registradas em vídeo e podem ser
vistas no site www.complaintschoir.org. Até o começo do
mês, os vídeos integravam a
mostra "Arctic Hysteria: New
Art from Finland", no museu
nova-iorquino PS1 - o braço
contemporâneo do Moma
(Museum of Modern Art)-
que também bancou o projeto.
"As pessoas gostam de reclamar e de cantar juntas. São formas muito básicas de expressão humana. É prazeroso poder reclamar livremente, enquanto somos constantemente
estimulados a "pensar positivo'", filosofa Tellervo.
Em cada cidade, no entanto,
o projeto atrai um público diferente. "Em uma sociedade homogênea como a Finlândia é
mais fácil juntar adolescentes,
pensionistas, trabalhadores e
acadêmicos. Em uma sociedade segregada como Chicago, é
quase impossível superar a distância entre as comunidades.
Não havia afro-americanos no
coral, por exemplo."
Com a divulgação na internet, pelo site oficial e pelo You
Tube, a iniciativa chamou a
atenção de gente no mundo todo, e vários projetos do mesmo
tipo foram formados, mesmo
sem contar com participação
direta da dupla.
Cidades como Jerusalém (Israel), Melbourne (Austrália),
Budapeste (Hungria) e Florença (Itália), entre várias outras,
já têm seus próprios corais.
Talento para reclamar
Segundo os criadores, a América Latina é o único continente
que ainda não entrou na onda.
O Folhateen tenta corrigir essa "falha" publicando nestas
páginas uma espécie de mural
das reclamações, com as frases
mais legais enviadas pelos leitores ao longo dos últimos três
meses.
"Soubemos que os brasileiros são reclamões talentosos.
Um amigo nosso comentou
que na América Latina as pessoas reclamam muito sobre os
problemas sociais, mas eles
também sabem a solução. Isso
poderia trazer uma novidade
interessante ao projeto", diz a
artista.
(LETICIA DE CASTRO)
Texto Anterior: Desenho é "Corrida Maluca" japonesa Próximo Texto: 02 Neurônio: Vários tipos de aposta Índice
|