São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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arte

Bote a boca no mundo

Projeto de artistas finlandeses transforma reclamações do cotidiano em música

DA REPORTAGEM LOCAL

Já parou para pensar em quanto tempo e em quanta energia você gasta reclamando da vida? O casal de artistas finlandeses Tellervo Kalleinen e Oliver Kochta, sim. E quando perceberam que boa parte de seus dias era dedicada à arte de reclamar, decidiram que era hora de transformar toda aquela insatisfação em algo mais produtivo.
Foi assim que nasceu o projeto "Complaints Choir" (coral das reclamações), em 2005. A dupla percorreu seis cidades ao redor do mundo (Birmingham, Helsinki, São Petesburgo, Cingapura, Hamburg-Wilhelmsburg e Chicago) com um único objetivo: ouvir reclamações.
Em cada cidade, eles realizaram um workshop em que os participantes eram estimulados a dizer o que mais os incomodava no dia-a-dia.
De problemas no trabalho a dificuldades no relacionamento com vizinhos, valia tudo. "Apareceram coisas esquisitas, como "meus sonhos são chatos", "minha avó é racista", "meu vizinho está tendo aula de danças folclóricas em cima do meu quarto" ou "não dá para acender um cigarro no Fogo Eterno'", comenta Tellervo, 32, que costuma reclamar de pessoas que ficam muito próximas às esteiras de bagagens nos aeroportos, impedindo que os outros peguem suas malas.

Os corais
Em cada destino, as reclamações foram transformadas em música, que depois foram apresentada pelos participantes em formato de coral em lugares públicos de cada cidade.
As performances foram registradas em vídeo e podem ser vistas no site www.complaintschoir.org. Até o começo do mês, os vídeos integravam a mostra "Arctic Hysteria: New Art from Finland", no museu nova-iorquino PS1 - o braço contemporâneo do Moma (Museum of Modern Art)- que também bancou o projeto.
"As pessoas gostam de reclamar e de cantar juntas. São formas muito básicas de expressão humana. É prazeroso poder reclamar livremente, enquanto somos constantemente estimulados a "pensar positivo'", filosofa Tellervo.
Em cada cidade, no entanto, o projeto atrai um público diferente. "Em uma sociedade homogênea como a Finlândia é mais fácil juntar adolescentes, pensionistas, trabalhadores e acadêmicos. Em uma sociedade segregada como Chicago, é quase impossível superar a distância entre as comunidades. Não havia afro-americanos no coral, por exemplo."
Com a divulgação na internet, pelo site oficial e pelo You Tube, a iniciativa chamou a atenção de gente no mundo todo, e vários projetos do mesmo tipo foram formados, mesmo sem contar com participação direta da dupla.
Cidades como Jerusalém (Israel), Melbourne (Austrália), Budapeste (Hungria) e Florença (Itália), entre várias outras, já têm seus próprios corais.

Talento para reclamar
Segundo os criadores, a América Latina é o único continente que ainda não entrou na onda. O Folhateen tenta corrigir essa "falha" publicando nestas páginas uma espécie de mural das reclamações, com as frases mais legais enviadas pelos leitores ao longo dos últimos três meses.
"Soubemos que os brasileiros são reclamões talentosos. Um amigo nosso comentou que na América Latina as pessoas reclamam muito sobre os problemas sociais, mas eles também sabem a solução. Isso poderia trazer uma novidade interessante ao projeto", diz a artista.
(LETICIA DE CASTRO)


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