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Para pais, ouro mudará rumo do atletismo
ROBERTO MADUREIRA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS
A vitória de Maurren Higa
Maggi, 32, em Pequim deve significar mais do que uma conquista pessoal para a família
Maggi. A afirmação é do pai da
atleta, William Maggi, 55. Ele
crê que a façanha da filha possa
mudar o atletismo no Brasil.
"O que muda nós não sabemos ainda, mas sei que vai mudar a maneira de se enxergar o
atletismo. E essa era a meta dela. Ela não queria ganhar uma
medalha apenas por ganhar."
De atleta de ponta, Maurren
virou heroína na visão dos pais.
Ele admitem que não esperavam o ouro porque tudo pesava
contra a filha: a idade, o fato de
não ter participado da última
Olimpíada e de não ter a melhor marca da temporada.
"Ela precisava de algo de peso. Não que o Pan não seja, mas
agora é ouro olímpico. Divide
os grandes atletas dos heróis",
disse a mãe, Ruth Maggi, que
escolheu o segundo nome da
atleta, Higa. "Era o nome de
uma estrela [constelação], e ela
quis pôr. Ironia, né?", disse o irmão, William Maggi Junior, 33.
A atleta deveria se chamar
Maureen, nome da primeira
mulher de Ringo Star -o pai, fã
dos Beatles, queria homenagear o baterista. Mas devido a
um erro do escrivão, a filha ganhou o nome de Maurren.
Ontem, cerca de 60 pessoas
se reuniram na casa de classe
média da família Maggi, na Vila
São José, em São Carlos (SP),
desde às 6h para ver pela TV a
final do salto em distância.
A tensão durou até o último
salto da russa Tatiana Lebedeva, que pulou 7,03 m. "Quem
segurou este centímetro fomos
nós, daqui", disse o irmão.
Na torcida, estava a filha de
Maureen, Sophia, 3 anos e 8
meses. Por ironia, a menina havia pedido que a mãe trouxesse
a prata. Segundo a mãe da atleta, após a vitória, Maurren
"consolou" a pequena: "Fala
para ela que a prata ela vai ver a
das titias do futebol", brincou.
A Prefeitura de São Carlos
anunciou que vai construir um
monumento em homenagem à
atleta na praça Coronel Salles.
A volta da medalhista deve
acontecer na terça. A família já
confirmou que haverá festa,
mas ainda não definiu o local.
Segundo o pai, o ouro premia
a volta de Maurren, que, após
ser pega em antidoping em
2003, deixou o esporte. "Ela ficou indignada. Para ela, o país
foi ingrato após tudo o que ela
tinha feito. Mas a raiva passou."
A decisão deixar o atletismo,
diz a família, foi a mais firme
que Maurren já teve. Durou
mais de dois anos. Tempo para
o início e o fim do casamento
com o piloto Antonio Pizzonia
e o nascimento da filha. "Criamos armadilhas para ela voltar,
mas nada deu certo. Até que um
dia, ela acordou, pôs a roupa e
foi treinar. O técnico Nélio
Moura até chorou", disse Ruth.
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