São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Para pais, ouro mudará rumo do atletismo

ROBERTO MADUREIRA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS

A vitória de Maurren Higa Maggi, 32, em Pequim deve significar mais do que uma conquista pessoal para a família Maggi. A afirmação é do pai da atleta, William Maggi, 55. Ele crê que a façanha da filha possa mudar o atletismo no Brasil.
"O que muda nós não sabemos ainda, mas sei que vai mudar a maneira de se enxergar o atletismo. E essa era a meta dela. Ela não queria ganhar uma medalha apenas por ganhar."
De atleta de ponta, Maurren virou heroína na visão dos pais. Ele admitem que não esperavam o ouro porque tudo pesava contra a filha: a idade, o fato de não ter participado da última Olimpíada e de não ter a melhor marca da temporada.
"Ela precisava de algo de peso. Não que o Pan não seja, mas agora é ouro olímpico. Divide os grandes atletas dos heróis", disse a mãe, Ruth Maggi, que escolheu o segundo nome da atleta, Higa. "Era o nome de uma estrela [constelação], e ela quis pôr. Ironia, né?", disse o irmão, William Maggi Junior, 33.
A atleta deveria se chamar Maureen, nome da primeira mulher de Ringo Star -o pai, fã dos Beatles, queria homenagear o baterista. Mas devido a um erro do escrivão, a filha ganhou o nome de Maurren.
Ontem, cerca de 60 pessoas se reuniram na casa de classe média da família Maggi, na Vila São José, em São Carlos (SP), desde às 6h para ver pela TV a final do salto em distância.
A tensão durou até o último salto da russa Tatiana Lebedeva, que pulou 7,03 m. "Quem segurou este centímetro fomos nós, daqui", disse o irmão.
Na torcida, estava a filha de Maureen, Sophia, 3 anos e 8 meses. Por ironia, a menina havia pedido que a mãe trouxesse a prata. Segundo a mãe da atleta, após a vitória, Maurren "consolou" a pequena: "Fala para ela que a prata ela vai ver a das titias do futebol", brincou.
A Prefeitura de São Carlos anunciou que vai construir um monumento em homenagem à atleta na praça Coronel Salles. A volta da medalhista deve acontecer na terça. A família já confirmou que haverá festa, mas ainda não definiu o local.
Segundo o pai, o ouro premia a volta de Maurren, que, após ser pega em antidoping em 2003, deixou o esporte. "Ela ficou indignada. Para ela, o país foi ingrato após tudo o que ela tinha feito. Mas a raiva passou."
A decisão deixar o atletismo, diz a família, foi a mais firme que Maurren já teve. Durou mais de dois anos. Tempo para o início e o fim do casamento com o piloto Antonio Pizzonia e o nascimento da filha. "Criamos armadilhas para ela voltar, mas nada deu certo. Até que um dia, ela acordou, pôs a roupa e foi treinar. O técnico Nélio Moura até chorou", disse Ruth.


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