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Atraso em restituição foi por necessidade, diz Lula
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira declaração pública sobre o atraso do governo
em liberar as restituições do
Imposto de Renda das pessoas
físicas, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse ontem que
foi preciso tomar essa atitude
não por desejo, mas por necessidade. Segundo o raciocínio do
presidente, os contribuintes
não estão sendo prejudicados,
porque o dinheiro da restituição está sendo remunerado
com a taxa Selic.
Conforme a Folha revelou
anteontem, a queda na arrecadação federal e a manutenção
do alto padrão de gastos do governo jogarão para o ano que
vem cerca de R$ 3 bilhões em
restituições a que os contribuintes teriam direito ainda
neste ano.
"Acho falta de compreensão
achar que o governo teria interesses econômicos em reter o
Imposto de Renda, porque nós
pagamos a taxa Selic [sobre o
dinheiro retido]. Portanto, nós
não temos nenhum interesse
de reter [as restituições]", declarou o presidente, durante
cerimônia na sede do Ministério das Relações Exteriores ao
lado do presidente da África do
Sul, Jacob Zuma.
Lula demonstrou certa irritação com o assunto e parecia
ansioso para dar explicações.
Sem entender direito a questão
de um jornalista sobre o MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por
exemplo, chegou a perguntar
se ela se referia ao IR.
Assessores do governo identificaram possível prejuízo político caso fique cristalizada a
interpretação já alardeada pela
oposição de que o governo está
sacrificando a classe média.
Lula tentou minimizar a importância da polêmica, afirmando que a medida não é inédita. "Não é a primeira vez na
história do Brasil, nem na história mais velha nem na história mais nova, que em alguns
momentos, por problemas de
receita, a emissão dos pagamentos [da restituição] pode
atrasar 10 ou 15 dias."
Sem precisar datas, Lula afirmou que o oposto também já
aconteceu em seu governo.
"Nós também já pagamos
adiantado [a restituição]."
Interesse no consumo
O presidente declarou que o
interesse maior do governo é
que as pessoas tenham mais dinheiro para consumir.
"Não há nenhum interesse
de que essas coisas aconteçam,
porque o que nós queremos é
que o povo tenha mais dinheiro
para consumir", disse ele.
O presidente repetiu um discurso frequente de seus ministros, de que o Brasil precisa viver um "círculo virtuoso" de
crescimento, que se inicia com
a irrigação da economia.
"Se o povo tiver dinheiro na
mão, quem vai ganhar é o consumo, são os índices de produtividade das empresas e os índices de comércio."
Entre junho e outubro, houve queda de 21,7% nas restituições na comparação com igual
período do ano passado -de R$
7 bilhões para R$ 5,48 bilhões.
As maiores reduções foram em
agosto e em setembro, quando
os valores devolvidos aos contribuintes foram reduzidos a
menos da metade dos números
de 2008.
A devolução do IR se dá
quando o contribuinte paga
mais imposto do que devia, gerando saldo a ser recebido do
governo. As restituições são feitas de junho a dezembro, com
as devoluções referentes às declarações retidas em malha fina
podendo ser estendidas para os
anos subsequentes.
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