'Doulas tratam da mulher gestante, não do parto', argumenta leitor

A carta do colega anestesista Marcelo Luis Abramides Torres ('Doulas interferem, sim, na conduta do obstetra') para a Folha é um emaranhado de preconceitos, erros de informação, visão enviesada, condescendência exagerada com as violências institucionais e uma visão futurista mitológica e fundamentalista. Não deve ser levada em consideração como uma crítica válida, embasada, adequada e sustentável por evidências.

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Entretanto, prefiro utilizar a parte em que critica a interferência das doulas no tratamento médico como a única parte útil do seu texto capaz de suscitar reflexão e, a partir dela, melhorarmos o trabalho que estamos fazendo na formação e na utilização das doulas como grandes propulsoras da humanização do nascimento.

As doulas recebem treinamento realizado por profissionais de saúde na atenção às mulheres gestantes, e não ao parto propriamente dito.

Ela não realizam (e não são instruídas para tanto) qualquer procedimento de caráter médico, diagnóstico ou terapêutico, e nenhuma ação de enfermagem.

Não estão autorizadas, muito menos estimuladas, a oferecer qualquer medicação às pacientes, seja esta alopática, homeopática ou fitoterápica. Elas são ajudantes da mulher e sua ação serve para auxiliá-las a vencer os desafios do trabalho de parto.

Quando a doula está presente, até mesmo as analgesias se tornam menos frequente, pois o aporte afetivo, psicológico, emocional, físico e espiritual que elas oferecem ajuda as parturientes a perceberem o sentido benéfico das dores a que são submetidas.

Essa compreensão faz com que tais dores sejam suportadas de forma muito mais fácil, a ponto de dispensar as analgesias e mesmo as cesarianas.

Doulas são recursos baseados em evidências científicas atualizadas --tal comprovação pode ser encontrada na Biblioteca Cochrane de medicina-- e baseadas em determinações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde do Brasil.

Ricardo Herbert Jones é obstetra e ginecologista