São Paulo, Domingo, 26 de agosto de 2012 |
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RECORTE V VISTA ESSA CAMISA, GATINHA!por VIVIAN WHITEMAN, de São Paulo O furor em torno da prisão das garotas russas do Pussy Riot mostra que posar com o marketing da "liberdade de expressão" é fácil. Difícil é encontrar quem vista a causa como uma peça de resistência. A camiseta é o outdoor e a faixa de protesto do guarda-roupa. Há décadas, vem sendo usada como suporte vestível de propagandas e também de causas, das mais nobres às mais estúpidas. Dos hits "Free Assange" e "Free Winona [Ryder, atriz acusada por furto]" à extrema vergonha alheia de "Team Jolie" e "Team Aniston", uniformes dos "advogados" de Angelina Jolie e Jennifer Aniston no caso-celebridade "Quem vai ficar com Brad Pitt?". Neste mês, a "T-shirt" do momento estampa a seguinte mensagem: "Free Pussy Riot". São vários modelos e estampas diversas com moças mascaradas com balaclavas coloridas. Pussy Riot é um coletivo punk de Moscou, na Rússia. Três mulheres integrantes do grupo foram presas e condenadas sob acusações de vandalismo e incitação ao ódio religioso. Yoko Ono, Madonna, Paul McCartney e Björk pediram a libertação das moças. As gatas presas estavam num grupo que entrou na principal catedral ortodoxa de Moscou e, antes de ser expulso, realizou uma performance, sem instrumentos plugados, dançando e cantando o refrão de "Punk Prayer" (oração punk). A letra pede à Virgem Maria que afaste Vladimir Putin, presidente russo, do poder. Também diz que a santa se uniu a elas nos protestos e questiona o apoio da Igreja Ortodoxa ao governante, que tem sido alvo de uma série de protestos populares. Posar para fotos com o marketing da "liberdade de expressão" é fácil. Mais difícil, porém, é encontrar quem vista a causa como uma peça de resistência. CASA DE DEUSEm vez de defenderem o mesmo texto-tendência sobre liberdades individuais e os papéis distintos de religião e governo, as integrantes do Pussy Riot invocaram na prática o indiscutível caráter público da casa de Deus. Aberta a todos, inclusive aos lamentos daqueles que são oprimidos pelo Estado com a ajuda da instituição igreja. Nesse contexto, quem veste a camisa dessa causa deve pedir mais do que simplesmente "Free Pussy Riot" porque o episódio não se restringe a esse ou aquele grupo. Os defensores da "tendência" devem admitir que, embora não tenha adotado medidas suficientes para ser incluída na lista de ditaduras do mundo, a Rússia de Putin mostra a cara da democracia enquanto farsa. Um governo laico em que a igreja é aliada na hora de justificar ações políticas e sociais hipócritas. Um sistema que permite eleições, mas que, por outro lado, também abre margem para a proibição legal de protestos contra o governo. Um modelinho tão feio quanto ordinário, cada vez mais comum nas araras datadas do capitalismo decadente. A camiseta do momento, como as performances mascaradas do Pussy Riot, fala de um desejo clássico de massa, sem rosto individual, não de um "it momentâneo" restrito a essas prisões específicas. Não basta estar na crista da onda, gatinha, é preciso ir fundo nas referências. Vestiu? Próximo Texto: NOTÍCIAS DE L.Á.: Presidente e super-herói, por Fernanda Ezabella.
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