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ANÁLISE
Seja quem ganhar a eleição, partidos aliados farão a festa
ESCORADOS EM ALIANÇAS EXTRAVAGANTES, DILMA E SERRA COMPROMETEM, JÁ NA CAMPANHA, A CAPACIDADE DE SE FIRMAREM COMO LIDERANÇAS ÉTICAS
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JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA
O fisiologismo deixou de
ser percebido como parte do
sistema político brasileiro.
Passou a ser entendido como
o próprio sistema.
A reiteração do fenômeno
conferiu ao anormal ares de
normalidade. Em nome da
pretensa "governabilidade",
o absurdo passa por natural.
A campanha atual, marcada pela ausência de oposição
a Lula, vai ao verbete da enciclopédia como marco estético na história das eleições.
O Brasil, que nunca tivera
políticos de direita, perdeu
também os que ainda se diziam de esquerda. Restou um
imenso centrão.
Dilma Rousseff e José Serra são prisioneiros de um paradoxo. Prometem a continuidade do "avanço" atrelados ao atraso.
Mantém-se agora agora o
ciclo que FHC batizara de
"realismo". Em meio ao surto
de amnésia, ninguém se lembra mais do que escreveu,
disse ou fez no passado.
A Brasília dos últimos
anos firmou-se como templo
de um sistema administrativo que gira em torno de privilégios, verbas e empregos.
Tancredo Neves teve a sorte de morrer antes de por em
prática a armadilha que engendrara. Herdeiro dos acordos, José Sarney honrou-os.
Acossado pelo impeachment, Fernando Collor renovou-os. Itamar Franco preservou-os. E Fernando Henrique Cardoso vestiu-os com
traje intelectual.
Situou o anômalo num
ponto qualquer entre as duas
éticas de Max Weber, a da
convicção e a da responsabilidade. Ao chegar ao Planalto, em 2002, Lula trazia na face a ilusão da novidade.
Dizia-se que, menos inepto que Sarney, mais honesto
que Collor, menos transitório
que Itamar e mais firme que
FHC, teria autoridade para
deter a sanha fisiológica.
Deu-se o oposto. O calor de
urnas logo se esvaiu no chão
frio e escorregadio do dia-a-dia administrativo. A aparência de super-homem derreteu no mensalão.
Vencido o ritual da eleição, os partidos consideram-se credenciados a avançar
pelas estruturas do Estado.
Em troca do apoio, pedem,
exigem, chantageiam.
De um líder se espera que
fixe padrões morais. Escorados em alianças extravagantes, Dilma e Serra comprometem, já na campanha, a capacidade de se firmarem como
lideranças éticas.
No Brasil, aliança política
tornou-se sinônimo de coligação partidária com fins lucrativos. Os partidos são movidos à base de certeza.
Sabem que, seja quem for
o eleito, voltarão a entoar
Ivete Sangalo, em 2011: Vai
rolar a festa. Ou, por outra: a
festa continuará rolando.
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