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TENDÊNCIAS/DEBATES
Regionalidade: ação e sentimento coletivo
JOSÉ AURICCHIO JÚNIOR
Os municípios da região do Grande ABC, isoladamente, não conseguirão encontrar respostas para os novos desafios
A GLOBALIZAÇÃO está entre os
fatores de muitas e distintas
naturezas que impuseram ao
Grande ABC, na região metropolitana
de São Paulo, mudanças no perfil de
sua atividade econômica.
Com a eliminação das barreiras de
tempo, distância, ideologia ou cultura
que pudessem impedir o ataque de
empresas até então distantes, a economia local se viu às voltas com uma
concorrência mundial, ágil, implacável e, muitas vezes, predatória. Ante
um verdadeiro rolo compressor, as
empresas regionais tiveram de repensar planos de expansão, quadros e
métodos. Não foram poucas as que se
transferiram em busca de custos menores ou encerraram atividades.
A globalização escancarou o que
antes chegava a ser subliminar: o
agrupamento geográfico que une as
sete cidades da região tinha de se
transformar -urgente e solidamente- em caminho para a sobrevivência
comercial. Nunca antes o sucesso da
gestão empresarial esteve tão atrelado à ação regionalizada.
A resistência contra esse irreversível processo impõe que os atores econômicos regionais se reúnam em torno de suas capacidades comuns ou
complementares para buscar a sinergia imprescindível no enfrentamento
à concorrência globalizada.
Nesse sentido, têm sido importantes as iniciativas do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e da Agência de Desenvolvimento Econômico
do Grande ABC. Nesta última, se destacam os resultados eficientes dos arranjos produtivos locais (APLs) das
indústrias dos setores de ferramentaria, autopeças e plástico; incubadoras
de empresas; orientação e suporte às
atividades de comércio internacional;
captação e administração de recursos
das agências de financiamento nacionais e internacionais.
Esse esforço viabilizou nos últimos
dois anos para a região mais de R$ 20
milhões a fundo perdido. Os recursos,
destinados às micro, pequenas e médias empresas, contribuem para a capacitação de empresários e funcionários, o desenvolvimento de produtos
novos e o aprimoramento de processos produtivos e de comercialização.
Porém, essa aproximação dos agentes econômicos não será uma boa solução se for motivada apenas pela melhoria de seus resultados financeiros.
É preciso mais. Faz-se necessário
que toda a população da região e seus
agentes públicos percebam que os
municípios isoladamente não conseguirão encontrar respostas para os
novos desafios. O orgulho de pertencer à região deve ser sentimento comum a todos. Essa condição é imperiosa para que o movimento de aglutinação seja duradouro e sustentável.
É insuficiente desenvolvermos
uma prática regionalista clássica, entendida como um sistema de defesa
dos interesses regionais.
O regionalismo tende a perdurar só
enquanto forem perceptíveis as
ameaças que preocupam o conjunto e
deixa de exercer seus efeitos quando
voltar a prevalecer a sensação de que
tais ameaças foram superadas, sendo
retomada a prática do "cada um por
si" nos limites de suas fronteiras.
As circunstâncias condicionantes
do ambiente externo impõem que os
agrupamentos regionais se formem
de maneira definitiva, motivada por
sentimentos sinceros, expressos na
satisfação efetiva de fazer parte de
uma coletividade.
A expressão que define esse sentimento com precisão é regionalidade,
a qual não se encontra no dicionário,
mas foi bem definida pelos professores Gil, Garcia e Klink, pesquisadores
da Universidade Municipal de São
Caetano do Sul na área de gestão da
regionalidade, como o conjunto de
propriedades e circunstâncias que
distinguem um espaço e que permitem sua comparação com outras regiões; consciência coletiva que une os
habitantes de uma determinada região em torno de sua cultura, seus
sentimentos e problemas; formação
social que surge da articulação de esforços conjuntos das autoridades públicas, dos empresários, dos representantes de segmentos da sociedade
civil e dos representantes de outras
organizações no espaço da região, que
pode ser geográfico, administrativo,
econômico, social e cultural.
Embora tenhamos nos referido especificamente à região do Grande
ABC, essas idéias e conceitos se aplicam perfeitamente a qualquer região.
Assim, seja um bairro, seja um conjunto de municípios ou seja um grupo
de países, o importante é que haja laços sinceros de união para que ela seja
duradoura e resistente.
As dificuldades encontradas para
consolidar o Mercosul são exemplos
vivos de que, ainda que prevaleça o
caráter econômico, o conglomerado
e, portanto, seus resultados só se efetivarão quando toda a população estiver consciente e sinceramente engajada na sua consolidação.
JOSÉ AURICCHIO JÚNIOR, 45, médico, é prefeito de São
Caetano do Sul (pelo PTB) e presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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