São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Regionalidade: ação e sentimento coletivo

JOSÉ AURICCHIO JÚNIOR

Os municípios da região do Grande ABC, isoladamente, não conseguirão encontrar respostas para os novos desafios

A GLOBALIZAÇÃO está entre os fatores de muitas e distintas naturezas que impuseram ao Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo, mudanças no perfil de sua atividade econômica.
Com a eliminação das barreiras de tempo, distância, ideologia ou cultura que pudessem impedir o ataque de empresas até então distantes, a economia local se viu às voltas com uma concorrência mundial, ágil, implacável e, muitas vezes, predatória. Ante um verdadeiro rolo compressor, as empresas regionais tiveram de repensar planos de expansão, quadros e métodos. Não foram poucas as que se transferiram em busca de custos menores ou encerraram atividades.
A globalização escancarou o que antes chegava a ser subliminar: o agrupamento geográfico que une as sete cidades da região tinha de se transformar -urgente e solidamente- em caminho para a sobrevivência comercial. Nunca antes o sucesso da gestão empresarial esteve tão atrelado à ação regionalizada.
A resistência contra esse irreversível processo impõe que os atores econômicos regionais se reúnam em torno de suas capacidades comuns ou complementares para buscar a sinergia imprescindível no enfrentamento à concorrência globalizada.
Nesse sentido, têm sido importantes as iniciativas do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. Nesta última, se destacam os resultados eficientes dos arranjos produtivos locais (APLs) das indústrias dos setores de ferramentaria, autopeças e plástico; incubadoras de empresas; orientação e suporte às atividades de comércio internacional; captação e administração de recursos das agências de financiamento nacionais e internacionais.
Esse esforço viabilizou nos últimos dois anos para a região mais de R$ 20 milhões a fundo perdido. Os recursos, destinados às micro, pequenas e médias empresas, contribuem para a capacitação de empresários e funcionários, o desenvolvimento de produtos novos e o aprimoramento de processos produtivos e de comercialização.
Porém, essa aproximação dos agentes econômicos não será uma boa solução se for motivada apenas pela melhoria de seus resultados financeiros.
É preciso mais. Faz-se necessário que toda a população da região e seus agentes públicos percebam que os municípios isoladamente não conseguirão encontrar respostas para os novos desafios. O orgulho de pertencer à região deve ser sentimento comum a todos. Essa condição é imperiosa para que o movimento de aglutinação seja duradouro e sustentável.
É insuficiente desenvolvermos uma prática regionalista clássica, entendida como um sistema de defesa dos interesses regionais. O regionalismo tende a perdurar só enquanto forem perceptíveis as ameaças que preocupam o conjunto e deixa de exercer seus efeitos quando voltar a prevalecer a sensação de que tais ameaças foram superadas, sendo retomada a prática do "cada um por si" nos limites de suas fronteiras.
As circunstâncias condicionantes do ambiente externo impõem que os agrupamentos regionais se formem de maneira definitiva, motivada por sentimentos sinceros, expressos na satisfação efetiva de fazer parte de uma coletividade.
A expressão que define esse sentimento com precisão é regionalidade, a qual não se encontra no dicionário, mas foi bem definida pelos professores Gil, Garcia e Klink, pesquisadores da Universidade Municipal de São Caetano do Sul na área de gestão da regionalidade, como o conjunto de propriedades e circunstâncias que distinguem um espaço e que permitem sua comparação com outras regiões; consciência coletiva que une os habitantes de uma determinada região em torno de sua cultura, seus sentimentos e problemas; formação social que surge da articulação de esforços conjuntos das autoridades públicas, dos empresários, dos representantes de segmentos da sociedade civil e dos representantes de outras organizações no espaço da região, que pode ser geográfico, administrativo, econômico, social e cultural.
Embora tenhamos nos referido especificamente à região do Grande ABC, essas idéias e conceitos se aplicam perfeitamente a qualquer região. Assim, seja um bairro, seja um conjunto de municípios ou seja um grupo de países, o importante é que haja laços sinceros de união para que ela seja duradoura e resistente.
As dificuldades encontradas para consolidar o Mercosul são exemplos vivos de que, ainda que prevaleça o caráter econômico, o conglomerado e, portanto, seus resultados só se efetivarão quando toda a população estiver consciente e sinceramente engajada na sua consolidação.


JOSÉ AURICCHIO JÚNIOR, 45, médico, é prefeito de São Caetano do Sul (pelo PTB) e presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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