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CLÓVIS ROSSI
Nem G20 nem G8. É G1
SÃO PAULO - O governo Barack
Obama anunciou seu plano para a
regulação dos derivativos, um mecanismo de apostas em diferentes
tipos de ativo (da cotação de moedas às commodities). Os derivativos
foram (ou são) um dos vilões da
crise econômica em curso.
Seu valor, segundo o Council on
Foreign Relations, é inacreditável:
US$ 680 trilhões, muitíssimo mais
que toda a economia mundial.
Como é possível? É um desses mistérios da riqueza puramente virtual, que não se materializa.
Ao contrário dos ativos tóxicos,
não é um produto desconhecido no
Brasil. Seu estoque, em meados de
2008, era de US$ 2,5 bilhões, pouco
em relação ao conjunto de investimentos externos (US$ 1 trilhão),
mas de crescimento explosivo:
multiplicou-se por 11,5 desde 2005,
enquanto o total geral só duplicou.
O eixo do plano é a introdução de
uma espécie de câmara de compensações, como a que existe para os
cheques. Centralizaria o risco, em
vez de disseminá-lo, o que é coerente com a discussão havida no G20
de março/abril: o sistema financeiro deveria ser amortecedor e não
propagador de riscos.
Regular todos os produtos financeiros foi a principal decisão do G20
no que se refere à elaboração de
uma nova arquitetura financeira
global. O fato de os Estados Unidos
saírem na frente é institucional e
politicamente significativo.
Primeiro, a ideia de que todos
atuariam coordenadamente foi
atropelada. Segundo, a fanfarra em
torno do papel relevante dos emergentes emudece algo. Claro que a
China tem um peso novo no mundo
(os outros emergentes ainda precisam comer muito arroz-e-feijão para chegar perto dos chineses), mas
em matéria de liderança e capacidade de iniciativa não há nem G20
nem mesmo o G8, o velho e ultrapassado clubão dos ricos. É G1
mesmo. Mas pode chamar de Estados Unidos da América.
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