São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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Demissões causam crise de identidade em cidade japonesa que abriga a Toyota

O pior pesadelo de Toyota City: virar uma nova Detroit

Por MARTIN FACKLER

TOYOTA CITY, Japão - Durante anos, Toyota City prosperou juntamente com a montadora gigantesca cujo nome carrega, tornando-se um centro manufatureiro automotivo global ao mesmo tempo em que sua cidade irmã oficial, Detroit, entrava em declínio.
A crise econômica atual pôs fim aos bons tempos na "cidade do automóvel" japonesa. Diante do primeiro resultado negativo líquido anual em 59 anos, a Toyota Motor, maior empregadora e presença dominante na cidade, suspendeu a atividade em algumas de suas fábricas e reduziu a produção. Isso provocou a maior queda em Toyota City na memória de seus habitantes; empregos desapareceram, a receita tributária secou, e as ruas comerciais do centro da cidade ficaram estranhamente vazias. A inversão de fortuna converteu as duas Toyotas -a cidade e a montadora- em símbolos de uma recessão global que vem poupando a poucos, incluindo a indústria automotiva japonesa, que até pouco tempo parecia irrefreável. "No início, nossa aspiração era nos convertermos na segunda Detroit", contou Tatsuya Yoshimura, dono de uma loja de câmeras no centro de Toyota City. "Agora é isso que temos medo de nos tornarmos."
Muitas pessoas nesta cidade de 423 mil habitantes, erguida em volta da empresa, vêm questionando sua dependência econômica de uma única grande empresa, mesmo que seja a maior montadora de automóveis do mundo. "Quando a Toyota espirrou, nós contraímos pneumonia", disse Shoji Sawahira, diretor da seção financeira da prefeitura de Toyota City. "Nunca imaginamos que isso pudesse acontecer com a empresa número 1 do mundo."
O medo do futuro é perceptível no departamento local de ajuda aos desempregados, que tem o nome otimista de Hello Work Toyota e que, de repente, se viu assediado por novos desempregados.
Até meados do ano passado, o escritório da Hello Work costumava ficar quase vazio. A indústria automotiva local sofria de uma escassez crônica de mão de obra e buscava trabalhadores em todo o Japão e até mesmo em Brasil e Peru. Hoje a Hello Work recebe mais de mil candidatos a empregos por dia.
Uma das pessoas em busca de trabalho era Masahiro Tanaka, 30, que perdeu seu emprego numa fábrica de vidros para automóveis em fevereiro. É a primeira vez que ele -bem como qualquer conhecido seu- foi demitido, em 14 anos trabalhando em fábricas de autopeças em Toyota City.
"Os únicos lugares que ainda estão ativos são os que produzem para o Prius", disse Tanaka, referindo-se ao carro híbrido da Toyota, que consome menos combustível e continua a ser procurado apesar da recessão. "Em todos os outros lugares, os empregos desapareceram. Sumiram por completo."
O vice-diretor da Hello Work, Masami Kawajiri, contou que entre janeiro e março o escritório foi procurado por 8.042 pessoas em busca de trabalho, aumento de 133% em relação ao mesmo período em 2008. O aumento repentino no número de candidatos a empregos está obrigando os funcionários da Hello Work a trabalhar seis dias por semana, sem folgas, disse ele.
"Nunca antes tivemos tanto movimento", disse Kawajiri. "Nem quero pensar no que vai acontecer se a situação da economia se agravar ainda mais."


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