São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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China frustra firmas americanas de mídia

Por TIM ARANGO

Depois de muitos anos de lobby fervente e de negócios na China, as empresas de mídia americanas têm pouco a mostrar por seus esforços, e cada vez mais transferem sua atenção para a Índia.
Os executivos de mídia ainda acham o público chinês receptivo à cultura ocidental, mas muitas empresas têm recuado por causa da frustração em relação a censura, pirataria, rígidas restrições aos investimentos estrangeiros e o ritmo lento da burocracia chinesa.
Nas últimas semanas, a America Online encerrou suas operações no país pela segunda vez. O estúdio de cinema Warner Brothers, que tem uma matriz corporativa comum com a AOL na Time Warner, chegou a planejar a abertura, até 2006, de mais de 200 lojas de varejo em toda a China, com um parceiro local. Esses planos foram arquivados.
"Ninguém tem realmente uma presença de tamanho decente lá, e ninguém parece saber como consegui-la", disse Michael Del Nin, vice-presidente sênior de estratégia corporativa e internacional da Time Warner. "Em termos de prioridade, o foco está em outro lugar."
Cada vez mais esse foco é para a Índia, país com uma economia de rápido crescimento e menos empecilhos governamentais para empresas de mídia estrangeiras. Em março, a Associação Americana de Cinema abriu um escritório na Índia pela primeira vez, em Mumbai. Pouco mais de quatro anos atrás Dan Glickman tornou-se chefe da associação e visitou a China várias vezes. "A sensação é de que antes havia mais oportunidades lá do que hoje", ele disse.
Essa é uma inversão radical. Durante muitos anos os executivos de mídia americanos elogiaram o potencial da China, cortejando os executivos locais e promovendo a potencial mina de ouro representada por sua população de mais de um bilhão. Sumner M. Redstone, que controla a Viacom e a CBS, recebeu autoridades chinesas em sua mansão em Beverly Hills.
Mas as frustrações são crescentes para as companhias de mídia. Há anos a China limitou em 20 o número de filmes estrangeiros que podem ser exibidos nos cinemas.
Às vezes os estúdios desistem de conseguir a aprovação das autoridades chinesas, como fez a Warner Brothers no ano passado com "Batman: O Cavaleiro das Trevas", por acreditar que o filme não agradaria aos censores oficiais.
Em novembro, a Warner tornou-se o primeiro estúdio a anunciar que disponibilizaria novos filmes na China pelo sistema de vídeo "on-demand", por preços baixos -cerca de R$ 1,20 a R$ 2- o suficiente para concorrer com as versões piratas. O serviço ainda não foi implementado.
"Parecia que a China capturava a imaginação de todos", disse William H. Roedy, presidente da MTV International. "Acho que todo o mundo tinha expectativas demais. É preciso ser
paciente."
Na Índia, as redes americanas podem alcançar públicos muito maiores do que na China, porque há menos restrições governamentais. Recentemente, a Turner Broadcasting e seu estúdio de cinema, Warner Brothers, que fazem parte da Time Warner, criaram um novo canal em inglês na Índia chamado WB. A Turner Broadcasting Systems, outra unidade da Time Warner, lançou um canal de TV paga no idioma hindi, chamado REAL.
"Certamente estamos nos concentrando na Índia", disse Louise Sams, vice-presidente-executiva e conselheira das redes Turner. "Houve um enorme crescimento no número de redes na Índia nos últimos anos."
Enquanto isso, a Viacom fez um investimento significativo no país no ano passado com Colors, que nas últimas semanas se tornou a principal rede de entretenimento da Índia.
Mas os executivos continuam alerta para qualquer mudança na China. Quando "Quem Quer Ser um Milionário?", filmado na Índia, ganhou o Oscar de melhor filme, este ano, provocou agitação na comunidade cinematográfica chinesa e despertou esperanças de que o país, deixando a rivalidade e a inveja regionais, pudesse se abrir-se aos estúdios americanos.
"Agora que eles viram "Milionário", querem mais filmes produzidos na China", disse Jeanette Chan, advogada que representa os estúdios americanos na Ásia. "Existe essa tensão subjacente, essa concorrência entre China e Índia. Especialmente quando eles veem que Bollywood faz sucesso."


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