São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA DO MEDO

Fala de assessor sobre 11 de Setembro põe McCain na berlinda

Charles Black disse que novo ataque favoreceria candidatura de republicano; veterano do Vietnã diz que idéia "não é verdade"

Campanha de Obama diz que tal declaração "é uma vergonha"; ex-lobista de ditadores, Black já provocou polêmica na corrida eleitoral

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A teoria de que um novo atentado terrorista nos EUA favoreceria o republicano John McCain na disputa pela Presidência do país, com a qual concorda grande parte dos analistas, se voltou nesta semana contra o candidato, ao ser mencionada pelo estrategista-chefe de sua campanha.
Charlie Black declarou à revista "Fortune" que um ataque renderia "uma grande vantagem" nas urnas para McCain, ex-piloto da Marinha vindo de família de militares e ex-prisioneiro de guerra no Vietnã.
O comentário causou polêmica e foi condenado ontem pela campanha do democrata Barack Obama. Cerca de 3.000 pessoas morreram nos ataques do 11 de Setembro, em 2001.
"O fato de o principal conselheiro de McCain dizer que um ataque terrorista em solo americano seria uma "grande vantagem" para sua campanha política é uma vergonha e exatamente o tipo de política que precisa mudar", declarou o porta-voz Bill Bourton. "Barack Obama vai virar a página dessas políticas falidas (...) para que possamos unir esta nação e terminar a luta contra a Al Qaeda."
Em evento sobre energia na Califórnia, McCain comentou a fala do assessor. "Não posso imaginar por que ele diria isso. Isso não é verdade."
Black se desculpou. "Eu me arrependo profundamente dos comentários, eles foram inapropriados", disse o personagem polêmico da campanha republicana. Lobista durante décadas, Black representou em Washington interesses de ex-ditadores como Ferdinand Marcos (Filipinas), Joseph Mobutu (Zaire, atual República Democrática do Congo) e Mohamed Siad Barre (Somália). A ONG MoveOn, que apóia os democratas, chegou a liderar uma campanha por sua demissão.
Para o cientista político Lawrence Mead, da Universidade de Nova York, é difícil crer que McCain discorde do comentário. "McCain seria claramente favorecido por um ataque terrorista e sabe disso. Há muitos eleitores que votariam em Obama apesar de achá-lo inexperiente. O medo do terrorismo poderia mudar esses votos."
Para Mead, em um possível cenário em que o país sofresse ou passasse a temer um ataque, o nome do presidente John F. Kennedy (1961-1963) seria provavelmente evocado pelos dois lados da disputa. "McCain poderia argumentar que Kennedy, muito inexperiente, comandou o fiasco da invasão à baía dos Porcos, em Cuba [1961]. Mas Obama pode lembrar de como Kennedy foi brilhante na Crise dos Mísseis de Cuba [em 1962, quando os EUA descobriram que a URSS instalara mísseis nucleares na ilha]."

Combustíveis
Com o preço da gasolina nas alturas, McCain e Obama duelaram ontem em discursos sobre política energética. O democrata criticou a proposta do rival de investir na busca por petróleo em alto-mar e o projeto de fomentar a construção de novos reatores nucleares.
Já Brian Rogers, porta-voz do rival, disse que Obama é o "Dr. No" da segurança energética, em alusão ao cientista louco do filme de 007, mas também por dizer "no" ("não") a propostas de McCain no tema.


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