São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007 |
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Caracas vê maior protesto contra reforma Milhares de estudantes marcham contra mudanças na Constituição propostas por Chávez; choques opõem manifestantes
Críticas ao projeto, que passará por referendo, crescem após emenda da Assembléia que endurece regras do estado de exceção
FABIANO MAISONNAVE DE CARACAS Enfrentando bombas de gás lacrimogêneo da Polícia Metropolitana, bloqueios da Guarda Nacional e militantes governistas, alguns milhares de universitários realizaram ontem em Caracas a primeira grande manifestação de oposição à proposta de reforma constitucional chavista, que prevê, entre outras mudanças, a reeleição indefinida para presidente. A marcha, convocada por grêmios estudantis de universidades públicas e privadas da capital venezuelana, reuniu-se de manhã na Praça Venezuela, espécie de divisor de águas entre a região leste da cidade, predominantemente opositora, e a centro-oeste, chavista. Dali, estudantes e simpatizantes dirigiram-se à Assembléia Nacional, onde a proposta de reforma constitucional está sob a terceira e última votação. "Vim protestar por meus direitos", disse à Folha a estudante de arquitetura Alejandra Loreto, 20. Apesar de considerar que vive numa "ditadura", ela disse que irá votar no referendo sobre a reforma, provavelmente em 2 de dezembro. A poucas quadras do Legislativo, a marcha foi interrompida por uma manifestação de não mais de 20 militantes governistas, alguns com o rosto coberto. Atrás de barreiras da Polícia Metropolitana, controlada pelo chavismo, gritavam: "Eles [estudantes] são "gusanos" [vermes], e não venezuelanos". "Não podemos permitir que eles protestem na zona central. Por que vir para cá, onde estão os prédios do governo e a Assembléia? Eles vêm para dizer que nós os agredimos", disse à reportagem um dos manifestantes chavistas, o assistente de construção José Farias, 27. Dos estudantes, ouviam-se coros como "Tem de estudar, quem não estuda chavista vai virar" e "Esse governo vai cair". Depois de alguns minutos, os estudantes retomaram a marcha -previamente aprovada pelo governo municipal- em direção à Assembléia, quando receberam bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral dos policiais, que, em menor número, recuaram e passaram a afastar os militantes chavistas. Na confusão, várias garrafas de vidro e outros objetos foram jogados de ambos os lados. Tenso, o protesto prosseguiu até encontrar uma nova barreira policial, a uma quadra da Assembléia. Dali, uma comitiva de estudantes foi ao Legislativo entregar um documento pedindo o adiamento do referendo sobre a reforma. Ônibus transportando estudantes do interior foram impedidos de chegar a Caracas por barreiras montadas pela Guarda Nacional no trajeto. As críticas à reforma constitucional vêm crescendo na última semana, depois que a Assembléia Nacional, de maioria chavista, acrescentou à proposta original uma emenda que suprime o direito ao devido processo legal em caso de estado de exceção. A emenda foi criticada mesmo pelo procurador-geral da República e o defensor do Povo, próximos a Chávez. Próximo Texto: Chavistas incham o projeto de mudança da Carta na Assembléia Índice |
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