São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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Arquitetos propõem um túnel para conectar a Bolívia ao mar

Construção sob fronteira de Chile e Peru é um "absurdo jurídico", diz ex-chanceler

DO "FINANCIAL TIMES"

Três arquitetos chilenos afirmam ter descoberto uma maneira de restaurar o acesso perdido da Bolívia ao oceano Pacífico sem que isso prejudique a soberania chilena: um túnel de 150 km, que correria sob a fronteira entre o Peru e o Chile e terminaria em uma ilha artificial construída com os resíduos da própria escavação, cerca de um quilômetro mar adentro.
A Bolívia perdeu o acesso ao mar após derrota em uma guerra contra o Chile há 130 anos. A questão ainda é ferozmente contenciosa. Além de prejudicar a relação diplomática entre os dois países, atrapalha a abertura de mercado para o gás natural e a riqueza mineral bolivianos na região do Pacífico.
"No começo, achávamos a ideia um tanto maluca, mas a verdade é que ela pode se provar viável", disse um dos arquitetos, Humberto Eliash.
Eliash começou a discutir a ideia com Fernando Castillo Velasco e Carlos Martner, dois dos mais respeitados arquitetos chilenos, há três anos. Mariano Fernández, ministro do Exterior do Chile, diz que deseja saber mais sobre a proposta "de vanguarda" e convidou os arquitetos para uma reunião, ainda sem data definida.
O túnel seria um dos mais longos do mundo, mas Eliash diz que, em termos técnicos, seria um projeto menos exigente do que o túnel sob o canal da Mancha, que conecta França e Reino Unido, já que sua porção submarina seria muito curta.
Chile e Peru são regiões altamente sísmicas, mas ele lembra que túneis foram construídos com sucesso no Japão, também propenso a terremotos.
O principal problema é político. Peru e Chile ainda não se entenderam sobre suas fronteiras marítimas. O Peru, aliado da Bolívia na guerra contra o Chile em 1879, está defendendo seu direito a um triângulo de 38 mil km2 nas águas do Pacífico diante da Corte Internacional de Justiça, em Haia.
Pela a proposta, a ilha -que, como o túnel, seria boliviana- ficaria no vértice do triângulo.
As águas em disputa seriam internacionalizadas. Nenhum país perderia território.
Apesar da perda de sua área costeira, a Bolívia mantém Marinha com cerca de 170 embarcações nas águas do lago Titicaca, e Eliash diz que o país poderia criar um porto na ilha artificial. Ele acredita que o túnel poderia ser construído em prazo de uma década e que serviria para transportar carga e veículos passageiros, com uma linha de trens e um gasoduto.
A Bolívia não reagiu à ideia, mas Manuel Rodríguez Cuadros, ex-chanceler peruano e autor de livro sobre a disputa, diz que a proposta, apesar de bem-intencionada, é "bizarra" e um "absurdo judicial".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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