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Berlusconi recua e não vai prender imigrantes ilegais
Liga Norte, que integra coalizão de governo, bloqueia obras para ciganos em Veneza
Recuo do premiê contradiz decreto aprovado por seu gabinete; comissariado da ONU e Vaticano haviam criticado nova legislação
DA REDAÇÃO
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, recuou
no principal dispositivo de sua
política de segurança e anunciou ontem que não mais consideraria a imigração ilegal como
um crime. Anteontem o Vaticano e a comissária de direitos
humanos da ONU haviam duramente criticado o governo
italiano pela possibilidade de
condenar um imigrante a até
quatro anos de prisão por não
possuir visto de residente.
Berlusconi abriu mão do dispositivo em entrevista ao lado
do presidente francês, Nicolas
Sarkozy, a quem recebeu em
Roma. O radicalismo da proposta italiana estava indiretamente contaminando as discussões lideradas pela França,
para que os 27 países da União
Européia endurecessem de
modo conjunto suas políticas
contra a imigração ilegal.
Sarkozy assume em julho a
presidência rotativa do bloco, e
suas propostas são mais bem
mais moderadas. Defende a expulsão em massa dos ilegais,
mas também prevê ajuda econômica aos países, sobretudo
africanos, que exportam esse
tipo de mão-de-obra.
Berlusconi afirmou não acreditar "pessoalmente que se
possa perseguir alguém por
permanência irregular em nosso país, condenando-o a uma
pena". Mas a falta de visto de
permanência "pode ser uma
agravante caso o imigrante cometa um delito". Disse ainda
que o tema será analisado pelo
Parlamento, "que é soberano e
decidirá com bom senso".
O recuo cria um imbróglio jurídico, assinalado já ontem pelo
ministro do Interior, Roberto
Maroni, que é também um dos
dirigentes da conservadora Liga Norte. Segundo ele, o decreto já está em vigor, foi assinado
pelo premiê, "e é esse texto que
eu continuo a defender".
A questão também política.
Um eurodeputado da Liga Norte foi bem explícito: "Berlusconi corre o risco de desiludir milhões que votaram em nossa
coligação e que precisam continuar a confiar em nossa coerência", disse Mario Borghezio.
Na oposição, o líder do Partido Democrático, Walter Veltroni, disse que Berlusconi
"cancelou o crime de imigração
clandestina e acabou nos dando
razão" na controvérsia.
Confusão em Veneza
Um grupo de dirigentes e
simpatizantes da Liga Norte
bloqueou ontem de madrugada
em Mestre, subúrbio de Veneza, o canteiro de obras de um
conjunto habitacional que seria entregue a integrantes da
comunidade cigana. Ela tem sido o principal bode expiatório
da política de segurança pública do governo Berlusconi.
Durante a operação, alguns
dos manifestantes se acorrentaram junto à porta principal
para impedirem a entrada dos
operários. O vereador Alberto
Mazzonetto, líder da bancada
local da Liga Norte, acusou o
prefeito de esquerda, Massimo
Cacciari, de "trair os venezianos" porque entre os não-ciganos há 2.000 munícipes sem
moradia adequada.
O prefeito qualificou a manifestação de "vergonhosa e sem
fundamentos". Disse que o
conjunto habitacional foi aprovado pelos vereadores em 1997
e que seus futuros moradores
"são italianos de terceira ou
quarta geração", cujos filhos
freqüentam as mesmas escolas
que "os arruaceiros".
Com agências internacionais
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