São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2008

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ARTIGO

Divisão é um presente para republicanos

BOB HERBERT
DO "NEW YORK TIMES"

Os democratas parecem enfim estar abandonando o pelotão de fuzilamento circular que tinham adotado como formação. E demoraram demais a fazê-lo. Há muitas coisas que o Partido Democrata precisa fazer para ter qualquer chance de conquistar a Casa Branca, e é bem tarde para que esteja apenas começando.
Só agora o partido começa a se unir em torno do senador Barack Obama, que há muito tempo já parecia ser o candidato provável. Ninguém sabe quanto tempo vai demorar para que a agremiação supere o conflito fratricida tornado desnecessariamente amargo pela ação de Bill e Hillary Clinton.
Os gritos de "McCain 2008!" ouvidos durante a reunião do Comitê de Regras e Estatuto do Partido Democrata, em Washington, no final de semana, vieram de uma partidária da senadora Clinton. Eles fizeram lembrar o comentário de Bill Clinton, de que "seria excelente que tivéssemos um ano eleitoral no qual os dois candidatos amassem este país e fossem devotados ao seu interesse". Ele estava falando sobre Hillary Clinton e John McCain.
O comentário do ex-presidente serviu muito bem aos esforços sustentados dos inimigos de Obama para retratar o senador como uma espécie de figura alienígena, menos que patriótica.
Os esforços de Obama para rebater essa linha de ataque foram completamente sabotados pelos incríveis pastores gritalhões da Igreja da Trindade Unida de Cristo, lugar que pode fazer bem à alma, mas tem o potencial de arruinar um aspirante à Presidência.
Este deveria ter sido o ano em que os democratas simplesmente avassalariam os republicanos em função da economia, da política energética, do sistema de saúde, das indicações para a Suprema Corte, do esforço para reconstruir Nova Orleans.
Mas, em lugar de procurar um esconderijo, eles estão a cada dia ganhando confiança em que os bailes de posse serão dados por John e Cindy McCain.
Há muita culpa a ser dividida entre os democratas. O casal Clinton se comportou de maneira execrável. Mas líderes partidários tampouco demonstraram coragem e disposição para impedir que eles promovessem a cisão do partido em linhas étnicas e sexuais.
Quanto a Obama, ele vem enfrentando uma série de problemas próprios que causou sérios danos à idéia que impulsionou sua candidatura, a de que ele representava uma nova forma de líder político, um candidato de união que começaria a reduzir as divisões entre os partidos em termos de raça, classe e até de convicção política.
Os democratas ainda podem reparar os danos?
Só se agirem rápido. O partido terá de exibir extraordinária unidade, e se alinhar rapidamente para curar as feridas. Os democratas causaram muito mais danos a si mesmos do que os republicanos poderiam ter infligido.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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