São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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Fotógrafo retrata personagens das ditaduras latino-americanas

Português João Pina está no Brasil para desenvolver pesquisa sobre regimes militares

Autor já fez livro sobre o regime salazarista e fotografou para publicações como 'New York Times' e 'El País'

MÁRIO MOREIRA
DE SÃO PAULO

O desejo de manter viva em imagens a lembrança das ditaduras, para que elas não se repitam, move o fotojornalista português João Pina, 30.
Autor, com o escritor e conterrâneo Rui Daniel Galiza, do livro "Por Teu Livre Pensamento", com fotos de pessoas e lugares ligados à ditadura salazarista, Pina investe agora na América Latina.
Ele está no Brasil para o projeto "Sombra do Condor" -um livro sobre ditaduras sul-americanas, incluindo a brasileira (1964-1985). O interesse de Pina pelo tema vem desde a infância. Os avós maternos, membros do Partido Comunista Português, foram presos políticos do regime que governou o país por 48 anos, até 1974.
"Cresci ouvindo essas histórias", diz. "Mas a memória desse período é muito pouco falada, e senti a necessidade de contá-la." O livro sobre Portugal saiu em 2007.
Dois anos antes, Pina já começava a desenvolver outra ideia, voltando-se para a Operação Condor, plano das ditaduras militares do Cone Sul de repressão aos opositores.
Isso o trouxe ao Brasil, onde, em 2005, iniciou pesquisas e entrevistas que se estenderam pelos anos seguintes. Entre os personagens já retratados, está a pernambucana Elzita Santa Cruz, 97, mãe do desaparecido político Fernando Santa Cruz. Atualmente em São Paulo, Pina dá continuidade ao projeto, que envolve também pesquisas no Rio e em Recife. Há planos de levar um participante da guerrilha do Araguaia à região onde ocorreu.
Na semana passada, ele clicou o 36º DP, na Vila Mariana, em São Paulo, que abrigou o DOI-Codi, órgão de repressão do regime militar.

DIFERENÇAS
Apesar de as ditaduras sul-americanas terem ocorrido na mesma época, Pina procura registrar as características de cada uma. "Para mim, a diferença mais interessante é a da atuação da Igreja Católica no Brasil e na Argentina. No Brasil, ela esteve muito do lado dos reprimidos. Na Argentina, foi ao contrário: as pessoas pediam ajuda à igreja e acabavam delatadas", diz.
Segundo ele, a meta não é reforçar campanhas, como pelo fim do sigilo dos arquivos brasileiros ou pela punição a torturadores. "O que espero é contribuir para mostrar que houve uma operação entre países vizinhos, não pretendo entrar em discussões individuais." A ideia, afirma, é "captar e guardar a memória e a experiência de pessoas e lugares". "Os países sem memória têm a tendência de que sua história se repita", conclui.


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