DA SUCURSAL DO RIO

Quem ouve a faixa "Rainha das Águas" (Douglas Couto/ Rodrigo Santiago) pode pensar: "Mais um clone de Clara Nunes...". E, além de cantar samba, a carioca Aline Calixto ainda cresceu em Minas, onde Clara nasceu. Mas a jovem de 28 anos mostra, em seu primeiro disco, que tem talento para não se limitar à influência hegemônica das novas vozes femininas do samba. Descoberta num festival na Lapa carioca, Calixto foi à luta para montar seu repertório. Conheceu, em rodas ou pela internet, autores mineiros ainda pouco conhecidos e gravou novidades como "Original" (Santão/ Sandro Borges), "Enfeitiçado" (Affonsinho) e "Faz o Seguinte" (Renegado). São composições que têm o DNA rural da tradição mineira de samba, mas já mostram influências contemporâneas, como uma aceleração no andamento de "Original" que remete aos subúrbios cariocas. Na sua versão rápida, estes subúrbios estão claramente representados em "O Teu Amor Sou Eu" (Rogê/ Arlindo Cruz). Na lenta, em "Retrato da Desilusão", uma bela peça romântica de Monarco/ Mauro Diniz, pai e filho. O CD trafega por várias linhas de samba, sem soar falso, pois a cantora parece familiarizada tanto com a escola baiana dos sambas de roda -"Tudo que Sou" (Toninho Geraes/ Toninho Nascimento) e o ijexá "Oxossi" (Roque Ferreira)- quanto com o samba carioca que bebe no choro e passou por gafieira e outros salões, caso das músicas de Edu Krieger: "Saber Ganhar" e "Uma Só Voz" (com participações dos mestres Monarco, Nelson Sargento, Walter Alfaiate e Wilson Moreira). Calixto ainda se arrisca como coautora de três músicas, saindo-se melhor na amaxixada "Cara de Jiló" (feita com Juliano Buteco). Ainda é uma porção na qual ela deverá se desenvolver, mas, com seu canto balançado e seu bom gosto nas escolhas, Calixto se revela uma artista promissora. (LFV)