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teatro
Outras Cinderelas
Espetáculo coloca
princesa na periferia e atualiza conto de fadas
GABRIELA ROMEU
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHINHA
Esqueça aquela Cinderela boazinha, seu
sapatinho de cristal,
a fada madrinha que
tem solução para tudo e o príncipe encantado do
baile. Na peça "Cindi Hip Hop
-Pequena Ópera Rap", que está
em curta temporada em São
Paulo, a protagonista de um dos
mais populares contos de fadas
entoa raps, usa tênis, pega "busão", tem outros dilemas -e
pode estar bem ao seu lado.
Ou melhor, as protagonistas.
Há outras quatro Cindis na peça do Núcleo Bartolomeu de
Depoimentos, que transpõe
clássicos para a realidade urbana. Foi assim em "Bartolomeu,
que Será que Nele Deu?" (a partir de "Bartleby, o Escriturário", de Herman Melville) e
"Acordei que Sonhava" (inspirado em "A Vida É Sonho", de
Calderón de la Barca).
"Cindi Hip Hop" reúne retratos da juventude da periferia
num musical que segue a estética da Old School -efervescência do hip hop, do final dos anos
70 até o começo dos anos 90,
época do rádio nos ombros, dos
agasalhos Adidas e das "block
parties" (festas de quarteirão).
"Nossa Cinderela é um jovem
que, apesar das dificuldades,
chega lá. E com outro sapatinho, com outros príncipes. O
"fado padrinho" não é nada mágico, mas pode ser aquela pessoa que dá um toque, um livro
que a gente lê e uma música que
escuta", explica a diretora Roberta Estrela D'Alva.
Nas quatro histórias costuradas pela estrutura dos contos
de fadas, os atores-MC (cantam, dançam e imprimem seu
ponto de vista crítico sobre a
realidade) trazem os conflitos
do menino que busca a identidade do pai, da garota adotada
que é tratada como empregada,
da jovem que tem de escancarar a homossexualidade para a
família e do cobrador de ônibus
que sonha ser escritor.
"A gente trabalha com a urgência do depoimento do dia.
Se as pessoas vão parar duas
horas para te ouvir, não dá para
vir com balela, tem que botar o
dedo nas feridas", afirma a diretora, fazendo alusão aos programas de TV que retratam
uma juventude "maquiada".
A autora Claudia Schapira
(melhor dramaturgia no Prêmio Cooperativa Paulista de
Teatro) conta que fez questão
de preservar a estrutura e os
elementos do mito da mocinha
que supera as adversidades da
vida. "Assim, dá para perceber
como ele ecoa na vida real",
conta Schapira, que trabalha na
pesquisa de um Orfeu que também mostre a juventude.
Se a dramaturgia retrata o jovem da periferia, Schapira
aponta que a linguagem, o musical, conversa com os jovens
em geral. E a angústia e os conflitos do adolescente diante do
mundo, diz a dramaturga, perpassam todas as classes sociais.
"CINDI HIP HOP - PEQUENA ÓPERA RAP"
Quando: sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Para a sessão do dia 29, às 20h, dá para reservar ingressos gratuitos pelo e-mail nucleobartolomeu@gmail.com (120 vagas). Até 31/5
Onde: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (r. Dr. Augusto de Miranda, 786, tel. 0/xx/11/3803-9396; www.nucleobartolomeu.com.br)
Quanto: R$ 10
Classificação indicativa: 12 anos
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