São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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teatro

Outras Cinderelas

Espetáculo coloca princesa na periferia e atualiza conto de fadas

GABRIELA ROMEU
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHINHA

Esqueça aquela Cinderela boazinha, seu sapatinho de cristal, a fada madrinha que tem solução para tudo e o príncipe encantado do baile. Na peça "Cindi Hip Hop -Pequena Ópera Rap", que está em curta temporada em São Paulo, a protagonista de um dos mais populares contos de fadas entoa raps, usa tênis, pega "busão", tem outros dilemas -e pode estar bem ao seu lado.
Ou melhor, as protagonistas. Há outras quatro Cindis na peça do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, que transpõe clássicos para a realidade urbana. Foi assim em "Bartolomeu, que Será que Nele Deu?" (a partir de "Bartleby, o Escriturário", de Herman Melville) e "Acordei que Sonhava" (inspirado em "A Vida É Sonho", de Calderón de la Barca).
"Cindi Hip Hop" reúne retratos da juventude da periferia num musical que segue a estética da Old School -efervescência do hip hop, do final dos anos 70 até o começo dos anos 90, época do rádio nos ombros, dos agasalhos Adidas e das "block parties" (festas de quarteirão).
"Nossa Cinderela é um jovem que, apesar das dificuldades, chega lá. E com outro sapatinho, com outros príncipes. O "fado padrinho" não é nada mágico, mas pode ser aquela pessoa que dá um toque, um livro que a gente lê e uma música que escuta", explica a diretora Roberta Estrela D'Alva.
Nas quatro histórias costuradas pela estrutura dos contos de fadas, os atores-MC (cantam, dançam e imprimem seu ponto de vista crítico sobre a realidade) trazem os conflitos do menino que busca a identidade do pai, da garota adotada que é tratada como empregada, da jovem que tem de escancarar a homossexualidade para a família e do cobrador de ônibus que sonha ser escritor.
"A gente trabalha com a urgência do depoimento do dia. Se as pessoas vão parar duas horas para te ouvir, não dá para vir com balela, tem que botar o dedo nas feridas", afirma a diretora, fazendo alusão aos programas de TV que retratam uma juventude "maquiada".
A autora Claudia Schapira (melhor dramaturgia no Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro) conta que fez questão de preservar a estrutura e os elementos do mito da mocinha que supera as adversidades da vida. "Assim, dá para perceber como ele ecoa na vida real", conta Schapira, que trabalha na pesquisa de um Orfeu que também mostre a juventude.
Se a dramaturgia retrata o jovem da periferia, Schapira aponta que a linguagem, o musical, conversa com os jovens em geral. E a angústia e os conflitos do adolescente diante do mundo, diz a dramaturga, perpassam todas as classes sociais.

"CINDI HIP HOP - PEQUENA ÓPERA RAP"


Quando: sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Para a sessão do dia 29, às 20h, dá para reservar ingressos gratuitos pelo e-mail nucleobartolomeu@gmail.com (120 vagas). Até 31/5
Onde: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (r. Dr. Augusto de Miranda, 786, tel. 0/xx/11/3803-9396; www.nucleobartolomeu.com.br)
Quanto: R$ 10
Classificação indicativa: 12 anos


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