São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Guerra Fria / EUA - Raul Juste Lores

O espírito chinês

HÁ MUITOS brasileiros em Pequim, não só atletas. Turistas e jornalistas choramingam ao comparar a velocidade da construção da nova China com o Brasil vagaroso de sempre.
A China desnutrida de 30 anos atrás se transformou em potência com infra-estrutura reluzente e consumo feérico em cada esquina. Sem favelas à vista, a China já parece bem mais rica que o Brasil.
Houve um evidente esforço para esconder mazelas e calar dissidentes, que engana bem. Mesmo sem a plástica, a pressa chinesa supera Usain Bolt.
O Brasil levará décadas para dar racionalidade a seus impostos, a seus gastos públicos, a suas universidades gratuitas para os mais ricos, a melhorar sua educação. Nos contentamos com pouco.
Enquanto a Europa discute semanas de trabalho de 35 horas e o Brasil aprova licenças-maternidade de seis meses, a China corre à toda velocidade. De uma maneira que não estaríamos dispostos a imitar.
O Spielberg chinês, Zhang Yimou, ao explicar como dirigiu a cerimônia de abertura dos Jogos, disse que performances humanas como aquelas são possíveis só na China.
"Treinamos duro e com muita disciplina. Atores aceitam ordens e agem como computadores. Os estrangeiros ficam admirados. Esse é o espírito chinês", disse Yimou.
O diretor chinês se queixa de sua experiência como diretor de óperas "no Ocidente".
"Lá é tão problemático. Eles trabalham quatro dias e meio por semana e têm direito a dois cafezinhos por dia. Não aceitam nenhum desconforto por causa dos direitos humanos. Você não pode criticá-los, eles sempre pertencem a algum sindicato", reclama.
"Nós podemos agüentar muita dureza. Os chineses fazem em uma semana o que eles levam um mês."
O mundo terá que aprender a competir com os chineses, goste-se ou não do seu espírito.


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