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No Brasil
Em maio de 1925, depois de passar pela
Argentina e pelo Uruguai, Einstein esteve
no Brasil; deu palestras e se admirou com a
riqueza da fauna e flora, mas não chegou a
se entusiasmar com os cientistas locais
No auge da fama, cientista-celebridade se rendeu aos encantos tropicais do Rio
Da reportagem local
À noite, sozinho em meu quarto
de hotel -nu-, aprecio a vista da baía com suas incontáveis ilhas verdes e de rocha
parcialmente exposta sob a luz
do luar", escreveu Einstein em
seu diário, enquanto contemplava o cenário costeiro do Rio
de Janeiro, da janela do hotel
em que estava hospedado, com
vista para o mar. O ano era
1925, e o cientista estava no auge da fama -era, no momento, a maior celebridade do
mundo científico.
A viagem ocorreu depois do
eclipse solar de 1919, que confirmara a teoria da relatividade geral, e da conquista do Prêmio Nobel de 1921, pelas contribuições à
física em geral e pela explicação
que deu ao efeito fotoelétrico.
Convites abundavam dos quatro
cantos do mundo para que ele
fosse visitar outras nações.
Quando argentinos e uruguaios
acertaram com ele uma visita à
América do Sul, a comunidade judaica brasileira pensou que deveria aproveitar a oportunidade.
Coordenou-se com os cientistas
brasileiros (na época, a maioria
era de engenheiros; havia pouquíssimos físicos) e estendeu um
convite a Einstein, que o aceitou.
Em 21 de março, Einstein desembarcou no Rio de Janeiro, depois da viagem a bordo do transatlântico Cap. Polonio. Mas estava
apenas de passagem, a caminho
da Argentina e do Uruguai. Somente em 4 de maio retornaria à
Cidade Maravilhosa, para se render aos seus encantos.
"Ele não estava interessado nas
paisagens nem do Uruguai, nem
da Argentina, mas a vegetação
tropical do Brasil parecia estonteá-lo de algum modo", diz Thomas Glick, historiador da Universidade de Boston que escreveu
um artigo sobre sua visita ao Rio
de Janeiro. "Basta ver trechos de
seu diário de viagem", afirma o
pesquisador americano.
De fato, Einstein transpira admiração pela natureza do Brasil.
Depois de visitar o Jardim Botânico, ele escreve que, assim como o
resto da flora, ele "supera os sonhos vistos nas "Mil e Uma Noites'". Em compensação, não via
isso tudo como uma qualidade
para os europeus. Como muitos
outros em sua época, ele achava
que o clima tropical prejudicava a
atividade intelectual.
"O europeu precisa de um estímulo metabólico maior do que
esse clima eternamente úmido e
quente oferece. Com relação a isso, beleza natural e riqueza são de
pouca utilidade. Eu acho que a vida de de um europeu que é escravo de seu trabalho é ainda mais rica e acima de tudo menos nublada e parecida com um sonho. Talvez a adaptação seja possível, mas
somente ao custo da interrupção
das atividades", escreve.
Durante sua passagem pelo
país, Einstein ficou hospedado no
Hotel Glória, apartamento 400, e
visitou pontos famosos da cidade,
como o Pão-de-Açúcar, o Corcovado e a floresta da Tijuca. Sua
passagem por terras brasileiras limitou-se ao Rio de Janeiro.
A programação do físico também contou com uma reunião
com a comunidade judaica e a visitação de vários institutos de pesquisa nacionais. Einstein também
proferiu três palestras. Na primeira, realizada no dia 6 de maio, o
cientista falou sobre a relatividade
especial. Mas não gostou. "Às 16h,
primeira conferência no Clube de
Engenharia em um auditório lotado, com barulho da rua. As janelas estavam abertas. A acústica
não permitia o entendimento.
Pouco científico", registrou.
A terceira, realizada dois dias
depois na Escola Politécnica, teve
por tema a relatividade geral. Desta vez, o número de espectadores
fora limitado pela organização.
Entre as duas, uma apresentação fora da programação: durante
uma sessão da Academia Brasileira de Ciências, Einstein fora condecorado e deveria fazer um discurso de agradecimento. Preferiu,
em vez disso, proferir uma rápida
comunicação sobre os "quanta de
luz". Foi a única coisa de real importância científica que o físico
fez no Brasil.
O alemão deixou o país em 12 de
maio, rumo à Europa. A impressão final não foi das melhores, como escreveu ao amigo Michele
Besso: "Para achar a Europa agradável, é preciso visitar a América.
Na realidade, as gentes de lá são
desprovidas de preconceitos, mas
são, ao contrário, em sua maioria,
vazias e pouco interessantes, ainda mais que entre nós".
(SALVADOR NOGUEIRA)
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