São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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EINSTEIN ESTÁ VIVO


Cem anos depois de o gênio alemão ter revolucionado o conceito de espaço e tempo, suas idéias sobre luz, os átomos, a estrutura do Universo e a busca por uma teoria final da natureza continuam mantendo os físicos ocupados e passam por uma renascença. Até seu maior erro hoje é considerado visionário


Nasce um gênio

A reputação de aluno medíocre de Albert Einstein, que se tornou legendária, não se justifica; ele sempre foi brilhante, mas só estudava o que lhe interessava na escola

Infância comum na Alemanha deu lugar à explosão do talento e à fama

Cássio Leite Vieira
Colaboração para a Folha

A primeira impressão que Albert causou em sua mãe, Pauline Koch Einstein (1858-1920), foi espanto. Ela achou que tivesse dado à luz uma criança deformada. Porém, a cabeça pontiaguda do recém-nascido voltaria ao normal pouco depois daquela sexta-feira, 14 de março de 1879, 11h30 da manhã, no endereço Bahnhofstrasse 135, em Ülm, sul da Alemanha.
O pequeno Einstein era rechonchudo, tímido e gostava de brincar sozinho (sua diversão predileta era fazer castelos de cartas). Quando participava de jogos, gostava de ser o juiz. Tinha acessos de raiva violentos. Num deles, abriu a cabeça da irmã, Maja (1881-1951), com uma bola de boliche.
Por volta dos seis anos, começou a ter aulas de judaísmo. Nessa época, entrou para uma escola pública e católica de Munique, para onde a família se mudou em 1880. Era o único judeu da classe. Foi um excelente aluno. Em agosto de 1886, Pauline escreveu para a mãe: "[Albert] foi novamente o melhor; o boletim é brilhante".
Os problemas escolares de Einstein começaram no Ginásio Luitpold. O autoritarismo de alguns professores o desagradava muito. A pedagogia militarista alemã, porém, não conseguiu destruir seu interesse pelos estudos. Por volta dos dez anos, começou a ler sobre física, matemática e filosofia. Mais tarde, passou a estudar sozinho matemática avançada.


Em 1900, Einstein estava formado. Desempregado. Sem a mesada familiar. E sem cidadania. Foi o único dos formados a não conseguir uma vaga como assistente na Politécnica. Para sobreviver, deu aulas particulares e em escolas secundárias suíças


Em 1894, a família se mudou para a Itália, depois de os negócios de seu pai, Hermann (1847-1902), falirem em Munique. Einstein ficou na cidade morando numa pensão. Passou, então, a articular um plano. Conseguiu dispensa da escola com um atestado médico que alegava estafa mental (sim, Einstein mentiu) e uma carta de recomendação do professor de matemática. Largou o Luitpold e foi para Pavia (Itália), onde passeou pelos museus e aprendeu um pouco de italiano.
Depois dessas "férias" prolongadas, decidiu entrar para a universidade. Conseguiu convencer um diretor da Escola Politécnica de Zurique (Suíça) de que tinha condições de prestar o exame de ingresso. Foi reprovado. Principalmente, nas disciplinas de humanas. Porém, duas justificativas a seu favor: ele era dois anos mais novo que a idade regulamentar para o exame e sua matemática e sua física impressionaram a banca examinadora.
Albert matriculou-se, ainda em 1895, na escola de Aarau, no cantão de Argóvia. Um ano depois, formou-se (em primeiro lugar de sua turma) e seguiu para a Politécnica. Nessa época, tomou uma decisão madura: renunciou à cidadania de seu Estado natal, Württemberg, e, conseqüentemente, à alemã, argumentando discordar da mentalidade militarista germânica.
Até o segundo ano do curso de formação de professores do ensino médio de matemática e física, Einstein foi excelente aluno. A partir daí, passou a matar aulas para estudar tópicos de seu interesse. Leu os clássicos da física e até Darwin. Mas, com isso, só passou nos exames finais porque estudou com as anotações de aula de um colega e de Mileva Maric, sua futura mulher.
Em 1900, Einstein estava formado. Desempregado. Sem a mesada familiar. E sem cidadania. Para sobreviver, deu aulas particulares e em escolas secundárias. Em 1902, conseguiu, por indicação do pai de um colega, um emprego como técnico de 3ª classe no Escritório de Patentes em Berna (Suíça), onde permaneceria por sete anos. Em 1905, produziu uma tese de doutorado e cinco artigos que mudariam a face da física.

Rumo à relatividade geral
Em 1907, Einstein dá um passo decisivo rumo à generalização de sua teoria da relatividade restrita (ou especial) publicada dois anos antes. Em 1915, a relatividade geral, uma nova teoria da gravitação, estava pronta. De 1906 a 1911, Einstein praticamente deixou a relatividade para se dedicar à teoria quântica. A alternância entre ambas marcaria sua carreira.
A partir de 1909, Einstein começou a ganhar prestígio. Passou pela Universidade de Zurique, Universidade Alemã de Praga e retornou (ironicamente) para a Politécnica. Em 1913, aceitou ser membro da Academia Prussiana de Ciências. Era, agora, membro da elite da física alemã.
No ano seguinte, seguiu para Berlim. Foi lá que sua faceta política floresceu. Assinou um manifesto contra a entrada da Alemanha na 1ª Guerra Mundial.
Logo depois da relatividade geral, apresentou ao mundo um modelo para explicar o Universo. E, tão impressionante quanto, um livro de popularização sobre as teorias da relatividade. Em 1916 e 1917, com três artigos, voltou à teoria quântica. Esses resultados seriam a base para a construção do laser, quatro décadas depois.
A comprovação histórica da relatividade geral, em 1919, tornou Einstein um fenômeno da mídia. Com a fama, vieram as primeiras manifestações nazistas contra ele e sua obra. Ameaçou deixar a Alemanha, mas foi dissuadido por colegas. Resolveu, no entanto, se afastar de Berlim, iniciando um período de viagens pelo mundo.

Fuga para os EUA
As homenagens cresceram na mesma proporção dos ataques nazistas. Em 1932, a situação tornou-se insustentável e ele resolveu aceitar oferta para trabalhar em Princeton, EUA. Ele e a segunda mulher, a prima Elsa, partiram com a intenção de voltar. Porém, sua cabeça foi posta a prêmio por radicais (achou o valor, US$ 5 mil, surpreendentemente alto). Nunca mais voltaria à Europa.
Seu último trabalho importante foi feito em 1925 (nele previu que um aglomerado de partículas a baixíssimas temperaturas poderia se comportar como um átomo gigante). Em 1935, já em Princeton, publicou um artigo que punha em dúvida os rumos tomados pela teoria quântica e que foi fundamental para dar fôlego ao debate que ele e o físico dinamarquês Niels Bohr travavam desde 1927 -e que se estendeu até a morte de Einstein, em 1955. Nas décadas seguintes, dedicou-se, sem sucesso, à unificação dos fenômenos eletromagnéticos e gravitacionais. Até hoje essa tarefa atormenta a cabeça dos físicos.
Agora, a ciência, foco de sua vida emocional, cedia parte de seu tempo para a militância política. As bombas nucleares lançadas sobre o Japão o deixaram arrasado. Passou, então, a defender uma base política supranacional para fortalecer a paz mundial. Foi chamado de ingênuo e atacado por capitalistas e socialistas.
Einstein também foi paradoxal. Como internacionalista, defendeu a identidade do povo judeu -mas recusou a presidência do Estado de Israel quando esta lhe foi oferecida, em 1952. Como pacifista, disse que o nazismo deveria ser enfrentado com armas; como humanitário, deu pouca atenção à própria família. Não há biografia definitiva de Einstein. E provavelmente nunca haverá.


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