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ANÁLISE
Governo faz de tudo para reforçar o caixa
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão de apertar o cerco
aos contribuintes inadimplentes é apenas mais uma da lista
de medidas de um governo que
procura receita por todos os lados para fechar suas contas. Até
agora, a solução tem sido aplicar remendos em vez de cortar
gastos. E torcer para que a arrecadação reaja logo à retomada
da economia e também cresça.
Em agosto, por exemplo, metade do superavit do Tesouro
Nacional foi resultado de receitas extraordinárias. O levantamento do economista Maurício
Oreng, do Itaú Unibanco, mostra que o governo arranjou R$
1,8 bilhão com a chamada "conversão de depósitos judiciais",
que nada mais é do que contabilizar como receita recursos
que ainda estão em disputa na
Justiça. A alegação oficial é que
as chances de vitória são muito
grandes e, portanto, é dinheiro
líquido e certo.
Mas a fonte dos milagres fiscais foram mesmo as estatais.
Em agosto, o governo recebeu
R$ 7,8 bilhões em dividendos,
valor sem precedente na história. De janeiro a agosto, o pagamento de dividendos somou R$
17,9 bilhões, muito mais do que
os R$ 10,1 bilhões previstos para 2009 pela lei orçamentária.
O governo também conta
com o dinheiro que vai entrar
com o parcelamento de dívidas
e, agora, com a cobrança dos
inadimplentes. Isso tudo deve
reforçar o caixa de novembro e
dar fôlego para o aumento de
despesas típico de final de ano.
O Tesouro Nacional também
voltou a controlar as despesas
na boca do caixa. Quando tem
dinheiro, paga. Se não tem, segura o pagamento. Isso fez com
que os gastos sobre os quais a
União tem controle recuassem
em agosto quando comparados
com o mesmo mês de 2008.
Mas as despesas com pessoal
saltaram e, quando analisados
em conjunto, os gastos federais
crescem neste ano 12% acima
da inflação. No ano, o economista do Itaú Unibanco estima
um crescimento de 14% nas
despesas federais.
O aumento de gastos do governo não é novidade. Resolver
o problema pelo lado da receita
é muito mais fácil do que enfrentar o lobby do funcionalismo público. Também foi assim
nos dois governos do tucano
Fernando Henrique Cardoso.
A diferença é que, até 2002,
aumentar impostos era uma
saída aceitável. Agora não é
mais. Basta lembrar que o Congresso derrubou a prorrogação
da CPMF (o chamado imposto
do cheque), apesar de todo o cenário de caos alardeado pela
equipe econômica.
Se até o final do ano a arrecadação der sinais de melhora, o
governo terá saído do sufoco.
Se não for o caso, será complicado sustentar um resultado
positivo nas contas públicas
com receitas extraordinárias,
por mais que as estatais sejam
obrigadas a ajudar, e os contribuintes, apertados para pagar.
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