São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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ROBERTO RODRIGUES

De Cascavel a Luís Eduardo


São esses brasileiros heroicos, como os de Luís Eduardo, vindos de todo o país, que constroem o verdadeiro Brasil


NO ÚLTIMO final de semana, fui visitar alguns projetos agropecuários em Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. E lá tive mais um desses choques de brasilidade que nos enchem de garantia quanto ao formidável futuro de nosso país. A cidade, que até dez anos atrás era uma vila chamada Mimoso do Oeste, tem hoje 52 mil habitantes e vive um período de grande crescimento.
A região toda abrange mais seis municípios: Barreiras, Correntina, São Desidério, Jaborandi, Formosa do Rio Preto e Riachão das Neves. Juntas, nos últimos oito anos essas localidades saltaram de US$ 19 milhões de produtos exportados para US$ 239 milhões! Um aumento de 1.150%.
No mesmo período, enquanto no Brasil a área plantada com algodão crescia 21%, em Luís Eduardo Magalhães cresceu 544%. É 1,7 milhão de hectares que, em pouco tempo, "descobertos" por brasileiros de outros Estados e regiões que se somaram aos bravos baianos, foram incorporados ao sistema produtivo nacional, gerando milhares de empregos, excedentes exportáveis e formando cidades modernas, planejadas, com saneamento básico, ruas largas e espaço para crescer.
Naquela terra plana e arenosa, com uma raquítica vegetação original, encontrei gaúchos que deixaram sua pequena propriedade de 80 hectares no sul e hoje produzem sementes da melhor qualidade em 8.000 hectares de roça irrigada com a última palavra em tecnologia. Em 2006, último dado disponível, o PIB per capita em Luís Eduardo era de R$ 37 mil/ano, enquanto em São Paulo era de R$ 19 mil, na Bahia, de R$ 7.000, e, no Brasil, de R$ 12,7 mil.
Lembrei-me de outros tempos: em 1969, 40 anos atrás, fui pela primeira vez a Cascavel, ligada por estrada de terra a Foz do Iguaçu. Chovia muito, e a viagem de pouco mais de cem quilômetros demorou seis horas: em cada baixada, uma encalhada. Estive lá há 15 dias: que cidade progressista e que povo vencedor!
Das ruas de terra de 40 anos atrás para a civilizada metrópole de hoje, o que deu o empurrão para a mudança? Foi a agropecuária, foram as indústrias antes e depois das fazendas -o agronegócio.
Foi assim antes com Londrina e Maringá, também no Paraná. Foi assim em Chapecó e em Concórdia, em Santa Catarina; em Passo Fundo e em Ijuí, no Rio Grande -onde hoje floresce a notável Não me Toque. Foi assim em Uberaba e em Uberlândia, em Minas Gerais, em Rio Verde e em Quirinópolis, em Goiás, em Dourados e em Naviraí, em Mato Grosso do Sul, em Rondonópolis e em Juína, em Mato Grosso, está sendo assim no Tocantins, no Maranhão, no Piauí, em Rondônia, no Ceará, no Pará, em toda parte!
Uma agropecuária feita por pequenos, médios e grandes que se complementam com eficiência e competência, usando tecnologias de ponta, enfrentando a falta de infraestrutura e de crédito, a ausência de uma estratégia de Estado (não apenas uma política agrícola bem gerada pelo Ministério da Agricultura), lutando contra um protecionismo recrudescente nos países ricos e com eles competindo sem medo.
São esses brasileiros heroicos, como os de Luís Eduardo, vindos de todo o país -e Brasília nem sabe que existem-, que constroem o verdadeiro Brasil, o Brasil que trabalha, sol a sol e noite adentro, sustentavelmente; o Brasil que já alimenta boa parte do mundo lá fora e que alimentará todos os atletas da Olimpíada de 2016, da Copa do Mundo de 2014 e de todos os que virão para cá.

ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br


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