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ANÁLISE
Carga reflete "neoliberalismo à brasileira"
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Principal indicador do tamanho do Estado, a carga tributária começou a crescer de forma
acelerada justamente no auge
da aceitação do ideário neoliberal de menor intervenção do
poder público na economia.
Enquanto, na década de 90,
estavam em voga privatizações,
liberação de importações e
abertura ao capital externo, à
receita do Consenso de Washington era acrescentado um
inusitado ingrediente local -a
expansão ininterrupta das despesas do governo, viabilizada
por recordes sucessivos da arrecadação de impostos.
A carga tributária, que havia
oscilado em torno de 25% da
renda nacional por 30 anos, saltou para patamares que praticamente só existem nos países
com experiências comunistas
ou social-democratas. É ela que
permite ao Brasil manter um
aparato de seguridade social de
dimensões não encontradas
em nenhum outro emergente.
Mas, assim como o neoliberalismo à brasileira, o Estado
do bem-estar também foi adaptado aos costumes nacionais:
em vez de privilegiar a tributação direta e progressiva da renda, como se faz nos países de
tradição social-democrata, optou-se por concentrar a arrecadação em tributos indiretos,
que oneram mais a parcela
mais pobre da população.
Com números mais modestos, as mesmas contradições
são encontradas no resto da
América Latina, o que ajuda a
contar a história recente da
carga tributária nacional.
Na raiz do aumento do gasto
público estão as obrigações
criadas pela Constituição de
1988, que desenhou um Estado
distributivista para a redemocratização do país, em substituição ao Estado empresário da
ditadura militar.
O peso das novas despesas
com saúde, previdência e assistência social foi mascarado, primeiro, pela superinflação; depois, nos primeiros anos do
Real, pelo endividamento.
Quando, em 1998, os credores
decidiram não emprestar mais,
os impostos começaram a subir
com atraso de dez anos -e a tarefa adicional de pagar os juros
mais altos do planeta.
Se a arrecadação chegou aos
níveis de Primeiro Mundo, sua
distribuição manteve o padrão
de Terceiro. Quase metade da
receita vem de tributos embutidos nos preços de bens e serviços; menos de um quinto, da
taxação da renda de pessoas e
empresas. Na média dos países
ricos, as proporções são de 32%
e 36%, respectivamente.
A sobrecarga de tributos indiretos prejudica exportações e
investimentos, além de atingir
mais os pobres que os ricos.
São, no entanto, tributos mais
fáceis de cobrar e fiscalizar -e
de aprovar no Congresso.
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