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Gripe lota hospital, e médica é presa por não internar paciente
A médica, que trabalha em órgão que deve encaminhar pacientes a hospitais estaduais, descumpriu ordem judicial
Paciente estava em hospital particular com cardiopatia e infecção generalizada; Conselho Regional de Medicina repudiou prisão
DA SUCURSAL DO RIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE
Com os leitos cheios por causa da gripe suína, uma médica
da Central Estadual de Regulação do Rio foi presa na madrugada de ontem por descumprir
ordem judicial para internar
uma paciente.
O órgão em que ela atua
acompanha o número de leitos
em cada hospital estadual e encaminha pacientes. Ela alega
que não havia leito de CTI
(Centro de Terapia Intensiva)
disponível quando recebeu a
determinação da Justiça.
"O juiz me deu duas horas para resolver um problema de
madrugada que não tinha como
ser resolvido. A gente tem um
surto de gripe A, um bando de
pacientes morrendo e não pude
trabalhar", disse a médica ao
deixar a 5ª DP (Lapa), onde
prestou depoimento por mais
de três horas, ontem.
O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, endossou as
palavras da médica. "E o que se
ganhou com a prisão dela? Iríamos cumprir a decisão tão logo
tivéssemos um leito."
Ana Murai foi presa quando
estava de plantão no Iaserj
(Instituto de Assistência dos
Servidores do Estado do Rio). O
juiz André Nicolitt ordenou
que Maria Elza da Silva Aquino,
64, fosse transferida para uma
unidade municipal ou estadual.
Ela estava internada com
cardiopatia crônica e infecção
generalizada no hospital particular Santa Maria Madalena,
na Ilha do Governador (zona
norte). Ontem, após a prisão da
médica, foi transferida para o
Hospital Municipal de Acari
(também na zona norte).
"Eu cumpri três mandados
judiciais [durante o plantão] e
não cumpri o dela não porque
não quis, mas porque eu não
pude. Ele [o juiz] poderia ter
me ligado, perguntado. Eu tinha ontem 118 pacientes na fila
de CTI. O juiz viu o lado de uma
paciente, eu tenho 118 lados para ver", disse a médica, que terá
que comparecer a uma audiência na Justiça.
Joana Oliveira, filha de Maria
Elza, diz que a família se sentiu
humilhada por ter que recorrer
à Justiça para conseguir um leito. O Cremerj (Conselho Regional de Medicina) repudiou a
decisão de prender a médica e
ofereceu suporte jurídico.
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