São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Gripe lota hospital, e médica é presa por não internar paciente

A médica, que trabalha em órgão que deve encaminhar pacientes a hospitais estaduais, descumpriu ordem judicial

Paciente estava em hospital particular com cardiopatia e infecção generalizada; Conselho Regional de Medicina repudiou prisão

DA SUCURSAL DO RIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE

Com os leitos cheios por causa da gripe suína, uma médica da Central Estadual de Regulação do Rio foi presa na madrugada de ontem por descumprir ordem judicial para internar uma paciente.
O órgão em que ela atua acompanha o número de leitos em cada hospital estadual e encaminha pacientes. Ela alega que não havia leito de CTI (Centro de Terapia Intensiva) disponível quando recebeu a determinação da Justiça.
"O juiz me deu duas horas para resolver um problema de madrugada que não tinha como ser resolvido. A gente tem um surto de gripe A, um bando de pacientes morrendo e não pude trabalhar", disse a médica ao deixar a 5ª DP (Lapa), onde prestou depoimento por mais de três horas, ontem.
O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, endossou as palavras da médica. "E o que se ganhou com a prisão dela? Iríamos cumprir a decisão tão logo tivéssemos um leito."
Ana Murai foi presa quando estava de plantão no Iaserj (Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio). O juiz André Nicolitt ordenou que Maria Elza da Silva Aquino, 64, fosse transferida para uma unidade municipal ou estadual.
Ela estava internada com cardiopatia crônica e infecção generalizada no hospital particular Santa Maria Madalena, na Ilha do Governador (zona norte). Ontem, após a prisão da médica, foi transferida para o Hospital Municipal de Acari (também na zona norte).
"Eu cumpri três mandados judiciais [durante o plantão] e não cumpri o dela não porque não quis, mas porque eu não pude. Ele [o juiz] poderia ter me ligado, perguntado. Eu tinha ontem 118 pacientes na fila de CTI. O juiz viu o lado de uma paciente, eu tenho 118 lados para ver", disse a médica, que terá que comparecer a uma audiência na Justiça.
Joana Oliveira, filha de Maria Elza, diz que a família se sentiu humilhada por ter que recorrer à Justiça para conseguir um leito. O Cremerj (Conselho Regional de Medicina) repudiou a decisão de prender a médica e ofereceu suporte jurídico.


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