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"Ex-xerife" do combate ao PCC está na periferia
Ruy Ferraz Fontes foi colocado na "geladeira" depois que surgiram suspeitas contra policiais da sua equipe
Um outro caso que chama atenção na polícia é o de um delegado que, anos atrás, foi flagrado por superiores ao circular em uma Ferrari
Juca Varella - 1º.out.03/Folha Imagem
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Delegado Ruy Ferraz Fontes, na época em que atuava no Deic; hoje, ele está à frente do 69ºDP
DA REPORTAGEM LOCAL
As recentes mudanças na Polícia Civil de SP têm atingido
até mesmo policiais como o delegado Ruy Ferraz Fontes, o xerife do Deic (departamento de
roubos), considerado durante
anos como o número 1 no combate à facção criminosa PCC.
Com grandes divergências
com o secretário da Segurança
Pública de José Serra (PSDB),
Antonio Ferreira Pinto, Fontes
foi sacado da chefia da 5ª Delegacia de Roubos a Bancos e, hoje, está à frente do 69º Distrito
Policial (Teotônio Vilela), no
extremo leste de SP.
O 69º é um distrito onde quase nenhum policial quer trabalhar. É muito distante do centro, tem pouca estrutura e atua
em uma das áreas mais violentas da cidade. Questionado sobre o seu afastamento do posto
de destaque no Deic, onde
constantemente comandava
ações com grande exposição na
mídia, Fontes disse ter sido ele
que pediu a transferência.
Nos bastidores da polícia, a
história que se conta é outra.
Fontes teria perdido prestígio
depois que policiais de sua
equipe começaram a ser investigados por suspeita de extorsão de dinheiro de criminosos,
inclusive membros do PCC.
Em um dos casos, o investigador Wilson de Souza Caetano
foi preso em flagrante há um
mês sob acusação de exigir R$
300 mil de um suspeito de estelionato, que teve seus bens
apreendidos irregularmente. A
Folha tentou localizar, sem sucesso, o advogado de Souza para ouvir sua versão sobre o caso.
Ferrari
Um outro caso que chama
atenção na chamada operação
de depuração da Polícia Civil é
o de um delegado que, anos
atrás, foi flagrado por superiores ao rasgar as ruas do Jardim
Europa a bordo de uma Ferrari.
Espantado com a cena, o chefe do delegado à época mandou
ele se desfazer do carro para
não chamar atenção. O nome
desse policial está na lista dos
que hoje estão na mira da Corregedoria, mas é mantido em
sigilo, pois o caso ainda está na
fase de apuração de provas.
Num outro caso ainda mais
curioso, um policial aposentado, também investigado, costuma se gabar de ser dono de uma
pequena vila na Itália.
A Corregedoria encontra dificuldades de obter provas de
enriquecimento ilícito contra
esses delegados porque eles
normalmente usam nomes de
"laranjas" ou parentes para registrar os bens.
Outro problema da Corregedoria é que muitas apurações
foram retardadas e até comprometidas por antigos funcionários do órgão, hoje afastados
pelo secretário Ferreira Pinto.
Suspeita-se que recebiam propina de policiais para avisá-los
sobre investigações e, em casos
mais graves, retardá-las.
Hoje, sem as históricas interferências corporativas, a Corregedoria até consegue desenvolver ações como a que atinge o
investigador Renzo Borges Angerami, filho do número 2 da
Polícia Civil, o delegado-geral-adjunto Alberto Angerami.
Renzo é investigado sob a
suspeita de tentar extorquir R$
300 mil de um suposto estelionatário (no mesmo caso citado
acima, do policial Caetano).
Renzo foi transferido do Setor da Investigações Gerais da
4ª Seccional Norte (central da
Polícia Civil) na zona norte para a de São Bernardo do Campo.
A reportagem tentou, mas
não conseguiu localizar Renzo
na sexta-feira. Seu pai, o delegado-geral-adjunto Alberto
Angerami, disse que o filho não
tem participação na extorsão e
não é investigado por nenhum
crime.
(ANDRÉ CARAMANTE)
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