São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Obra do metrô pode danificar mais 200 casas, diz consórcio

Construção da linha 4-amarela já causou estragos em 783 imóveis; 25 foram desocupados

Diretor do consórcio diz que danos são normais em obra desse porte; para diretor do Instituto de Engenharia, túnel mais fundo evitaria problema

TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As obras da futura linha 4-amarela do metrô causaram estragos em 781 imóveis nos 13 quilômetros que separam as estações República (região central) e Vila Sônia (zona oeste).
Outras 200 casas ainda podem sofrer algum tipo de dano até o final das obras, em 2010, de acordo com uma estimativa do Consórcio Via Amarela, responsável pela construção.
Os danos detectados vão desde a ruptura de canos até rachaduras mais graves, que culminaram na desocupação de 25 imóveis até agora. Os moradores tiveram que ser alojados em hotéis ou em outras casas, com o aluguel pago pelo consórcio.
Para o diretor de contrato do Via Amarela, Marcio Pellegrini Ribeiro, os danos encontrados são normais para uma obra desse porte. "Em qualquer construção de metrô e em qualquer lugar do mundo é assim. Esses problemas acontecem."
Os estragos, segundo ele, são conseqüência da movimentação do solo, que em alguns locais é de qualidade ruim e muito heterogêneo. Com a perfuração do túnel, o lençol freático nessas áreas sofre rebaixamento, gerando a reacomodação do solo que se reflete na superfície e causa as rachaduras e fissuras nos imóveis.
Segundo Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia e professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), o problema poderia ter sido evitado se o túnel tivesse sido escavado em profundidade maior, dentro de uma área composta apenas por rochas. Assim, a movimentação do lençol freático seria menor.

Reparos
Os 781 imóveis que apresentaram problemas sofreram reparos, segundo o consórcio. Mas eles só passarão por obras definitivas depois que o lençol freático assentar, o que pode acontecer de um a três meses após o término da construção do túnel, programado para dezembro deste ano.
Moradores ouvidos anteontem pela Folha disseram te mer que os reparos nos imóveis não sejam realizados após o término da construção do túnel porque não receberam nenhum documento do consórcio com essa garantia. A empresa afirma que eles receberam uma carta que garante a realização dos reparos e aconselha aos moradores que quiserem que peçam aos engenheiros da obra a realização de um relatório detalhado dos danos.
Uma das áreas mais afetadas pelas obras do metrô foi o entorno da estação Butantã (zona oeste). Como a Folha divulgou ontem, 20 imóveis tiveram que ser desocupados em sete ruas da região -de quatro deles os moradores ainda não saíram, 13 estão desocupados no momento e três já foram desocupados e, após reparos, os moradores voltaram.
Na região, o trecho que teve imóveis afetados foi maior do que o previsto inicialmente pelo consórcio, considerado como área de influência das obras -que era de um raio de até 50 metros de cada lado do túnel.
Mas algumas casas a 300 metros do túnel também apresentaram rachaduras ocasionadas pelas escavações. Segundo o consórcio, isso ocorreu porque o solo se "mostrou pior do que se previa" no estudo inicial.
O promotor da Vara de Habitação e Urbanismo Roberto Carramenha contesta a explicação de "imprevisibilidade". Segundo ele, esse foi o mesmo argumento utilizado após o acidente em Pinheiros que matou sete pessoas. Laudo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) diz que houve erros de execução nas obras.


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