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Marina assina filiação em PV heterogêneo
Deputados defendem desde energia nuclear a trens de alta velocidade; nos Estados, partido apoia governos de legendas rivais
Alfredo Sirkis afirma que partido abriu portas para novatos por temer perda de registro após desempenho baixo nas eleições de 2006
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao assinar sua ficha de filiação ao PV, a senadora Marina
Silva (AC) encontra hoje -a 13
meses das eleições- um partido ainda verde para a corrida
presidencial. Além da necessidade de consolidação de palanques nos Estados e de revisão
de um programa obsoleto, Marina terá que lidar com uma
bancada de deputados tão heterogênea que inclui até defensores da energia nuclear.
Adepto da adoção de código
florestal regionalizado e do manejo até mesmo para extração
de madeira da Amazônia, o engenheiro civil Ciro Pedrosa
(PV-MG) chegou a apresentar
um projeto para discussão da
política nacional de energia nuclear. "Sou defensor da substituição das usinas a carvão vegetal e óleo combustível, na Europa e na Ásia, por usinas atômicas. Como somos ricos em urânio, podemos oferecer aos países urânio enriquecido", diz.
O também mineiro Fábio Ramalho (PV) afirma que "energia nuclear é limpa".
No partido, verdes tradicionais, como Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira e Fabio Feldmann, coabitam com aprendizes, como o médico Dr. Talmir
(SP) e o ex-garçom Lindomar
Garçon (RO).
Propondo obras de grande
impacto -como um trem de alta velocidade de São Paulo a
Cuiabá ou um presídio federal
no Amazonas- Talmir compara a medicina e a assistência social à política ambiental.
"Se sou contra o desmatamento, tenho que ser também
contra o cigarro. Podemos falar
simbolicamente: o cigarro
queima a árvore da vida, que é o
pulmão", justificou Talmir, durante visita à Feira Agropecuária e Industrial de Presidente
Venceslau (SP).
Essa diversidade se reproduz
pelos Estados. O PV -que, em
Mato Grosso, chegou a participar do governo do produtor
Blairo Maggi (PR)- apoia o PT
da Bahia, o PP de Rondônia e o
PSDB de São Paulo e de Minas.
Autor de livros sobre comportamento humano, como o
"Eu te Compreendo", o deputado Antônio Roberto avisa, por
exemplo, que em Minas o partido deverá apoiar o candidato do
governador Aécio Neves
(PSDB). "Palanque em Estado
não é só de governador."
Na Câmara, Antônio Roberto
apresentou projetos ambientais, como o de desenvolvimento de uma política de biodiversidade aquática e de discussão
da criação de serpentes para
fins comerciais. Ex-consultor
comportamental das siderúrgicas Acesita e Mannesman, o deputado também associa sua atividade profissional à ecologia.
"É impossível alguém que se
dedica à felicidade das pessoas
não estar envolvido com a
questão ambiental?", disse ele,
que deu parecer favorável à
construção de uma hidrelétrica
em Roraima.
Segundo Lindomar Garçon
(RO) -que sugeriu troca de nome de uma hidrelétrica no Rio
Madeira- o líder Sarney Filho
(MA) costuma reunir a bancada, de 14 deputados, para palestras sobre meio ambiente.
Longe de se restringir à pauta
ambientalista, os projetos da
bancada vão da autorização de
porte de armas para advogados
ao financiamento, proposto
por Edigar Mão Branca (BA),
"destinado a rebocar todas as
casas que têm sua fachada ainda em tijolo aparente".
Verde histórico, o presidente
do PV do Rio, Alfredo Sirkis,
aposta na chegada de Marina
como um momento de depuração partidária. Nascido em
1986 sob os moldes do PV europeu, avalia, o partido abriu suas
portas aos novos filiados por temer perda de registro como
consequência de um baixo desempenho eleitoral em 2006.
Os candidatos, por sua vez,
engordaram o PV, por acreditar
ser fácil a eleição em comparação aos grandes partidos. Desde então, sofreu com denúncias
de irregularidades na prestação
de contas e cobrança de taxa
para inscrição de candidatos.
Com Marina, a ideia é reorganizar o PV elegendo uma bancada mais identificada com o
tema. "Não é a bancada dos sonhos. Mas a metade é de ambientalistas. Em meio ambiente, a bancada vota coesa. Fechamos questão. Fecharemos mais
ainda. Quem não cumprir será
expulso", afirma Sirkis.
Embora reconheça "gradações" no partido, o presidente
nacional do PV, José Luiz Penna, diz que esse não é o momento para a discussão e minimiza
as diferenças. "Hoje, na universidade, nas variadas organizações, todo mundo é ambientalista. Só no PV tem essa discussão: quem é ambientalista e
quem não é", reage.
O PV se dedicará à revisão do
programa que, elaborado em
1994, ainda propõe benefício às
mães que mantêm os filhos em
aula (leia-se o Bolsa Escola).
O partido também terá que
conciliar a eventual candidatura de Marina com a presença
dos verdes em diferentes equipes, do governo Lula ao de José
Serra (PSDB). Para Penna, todos devem ficar. "Você acha
que, se o PMDB lançar candidato próprio, vai sair todo mundo do governo?"
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