São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Marina assina filiação em PV heterogêneo

Deputados defendem desde energia nuclear a trens de alta velocidade; nos Estados, partido apoia governos de legendas rivais

Alfredo Sirkis afirma que partido abriu portas para novatos por temer perda de registro após desempenho baixo nas eleições de 2006

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao assinar sua ficha de filiação ao PV, a senadora Marina Silva (AC) encontra hoje -a 13 meses das eleições- um partido ainda verde para a corrida presidencial. Além da necessidade de consolidação de palanques nos Estados e de revisão de um programa obsoleto, Marina terá que lidar com uma bancada de deputados tão heterogênea que inclui até defensores da energia nuclear.
Adepto da adoção de código florestal regionalizado e do manejo até mesmo para extração de madeira da Amazônia, o engenheiro civil Ciro Pedrosa (PV-MG) chegou a apresentar um projeto para discussão da política nacional de energia nuclear. "Sou defensor da substituição das usinas a carvão vegetal e óleo combustível, na Europa e na Ásia, por usinas atômicas. Como somos ricos em urânio, podemos oferecer aos países urânio enriquecido", diz.
O também mineiro Fábio Ramalho (PV) afirma que "energia nuclear é limpa".
No partido, verdes tradicionais, como Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira e Fabio Feldmann, coabitam com aprendizes, como o médico Dr. Talmir (SP) e o ex-garçom Lindomar Garçon (RO).
Propondo obras de grande impacto -como um trem de alta velocidade de São Paulo a Cuiabá ou um presídio federal no Amazonas- Talmir compara a medicina e a assistência social à política ambiental.
"Se sou contra o desmatamento, tenho que ser também contra o cigarro. Podemos falar simbolicamente: o cigarro queima a árvore da vida, que é o pulmão", justificou Talmir, durante visita à Feira Agropecuária e Industrial de Presidente Venceslau (SP).
Essa diversidade se reproduz pelos Estados. O PV -que, em Mato Grosso, chegou a participar do governo do produtor Blairo Maggi (PR)- apoia o PT da Bahia, o PP de Rondônia e o PSDB de São Paulo e de Minas.
Autor de livros sobre comportamento humano, como o "Eu te Compreendo", o deputado Antônio Roberto avisa, por exemplo, que em Minas o partido deverá apoiar o candidato do governador Aécio Neves (PSDB). "Palanque em Estado não é só de governador."
Na Câmara, Antônio Roberto apresentou projetos ambientais, como o de desenvolvimento de uma política de biodiversidade aquática e de discussão da criação de serpentes para fins comerciais. Ex-consultor comportamental das siderúrgicas Acesita e Mannesman, o deputado também associa sua atividade profissional à ecologia.
"É impossível alguém que se dedica à felicidade das pessoas não estar envolvido com a questão ambiental?", disse ele, que deu parecer favorável à construção de uma hidrelétrica em Roraima.
Segundo Lindomar Garçon (RO) -que sugeriu troca de nome de uma hidrelétrica no Rio Madeira- o líder Sarney Filho (MA) costuma reunir a bancada, de 14 deputados, para palestras sobre meio ambiente.
Longe de se restringir à pauta ambientalista, os projetos da bancada vão da autorização de porte de armas para advogados ao financiamento, proposto por Edigar Mão Branca (BA), "destinado a rebocar todas as casas que têm sua fachada ainda em tijolo aparente".
Verde histórico, o presidente do PV do Rio, Alfredo Sirkis, aposta na chegada de Marina como um momento de depuração partidária. Nascido em 1986 sob os moldes do PV europeu, avalia, o partido abriu suas portas aos novos filiados por temer perda de registro como consequência de um baixo desempenho eleitoral em 2006.
Os candidatos, por sua vez, engordaram o PV, por acreditar ser fácil a eleição em comparação aos grandes partidos. Desde então, sofreu com denúncias de irregularidades na prestação de contas e cobrança de taxa para inscrição de candidatos.
Com Marina, a ideia é reorganizar o PV elegendo uma bancada mais identificada com o tema. "Não é a bancada dos sonhos. Mas a metade é de ambientalistas. Em meio ambiente, a bancada vota coesa. Fechamos questão. Fecharemos mais ainda. Quem não cumprir será expulso", afirma Sirkis.
Embora reconheça "gradações" no partido, o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, diz que esse não é o momento para a discussão e minimiza as diferenças. "Hoje, na universidade, nas variadas organizações, todo mundo é ambientalista. Só no PV tem essa discussão: quem é ambientalista e quem não é", reage.
O PV se dedicará à revisão do programa que, elaborado em 1994, ainda propõe benefício às mães que mantêm os filhos em aula (leia-se o Bolsa Escola).
O partido também terá que conciliar a eventual candidatura de Marina com a presença dos verdes em diferentes equipes, do governo Lula ao de José Serra (PSDB). Para Penna, todos devem ficar. "Você acha que, se o PMDB lançar candidato próprio, vai sair todo mundo do governo?"



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