São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palocci e Dirceu ajudam a conter Mercadante

A pedido de Lula, czares do primeiro mandato participaram de reunião em que senador foi convencido a revogar o "irrevogável"

O próprio senador redigiu primeira versão de carta em que presidente pede que ele fique, mas Lula reprovou texto e Dulci o reescreveu

FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise política no Congresso e a ambiguidade no comando político do PT nos últimos meses levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a buscar apoio direto de seus principais auxiliares no primeiro mandato: os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci Filho.
Os dois foram convidados por Lula para participar de uma reunião reservada no último dia 20 com Aloizio Mercadante (PT-SP). O líder da legenda no Senado havia anunciado renunciar ao posto em caráter "irrevogável". Alegava ser contra uma decisão partidária de engavetar as acusações contra José Sarney (PMDB-AP).
Palocci e Dirceu ajudaram Lula a construir o discurso para o senador recuar no dia seguinte, o que de fato ocorreu. Mais do que isso, a presença dos dois no encontro foi uma demonstração de como o presidente desejava encerrar a crise no Congresso.
Lula respeita a experiência política de Dirceu e Palocci, dois "anjos caídos" do primeiro mandato que ele tenta reabilitar politicamente. O presidente gosta pessoalmente do ex-ministro da Fazenda, a quem sempre ouve sobre economia.
A relação com Dirceu é mais fria do ponto de vista pessoal, mas o ex-ministro da Casa Civil tem excelente relação com a titular da pasta, Dilma Rousseff. Lula acha que Dirceu, que chefiou sua campanha vitoriosa em 2002, deve ser um dos estrategistas de Dilma.
Mercadante foi confrontado com o fato de que o PT passava por um momento de fragilidade diante de uma parcela da opinião pública mais bem informada. Era a mesma semana na qual a senadora pelo Acre, Marina Silva, anunciara a saída do partido para ingressar no PV. Se o líder no Senado também entregasse o cargo, haveria um aprofundamento desnecessário desse desgaste.
Acertou-se então que uma carta assinada por Lula seria lida por Mercadante no dia seguinte. O próprio Mercadante fez a primeira versão da carta. No entanto, Lula achou o texto laudatório num tom acima do que gostaria. O presidente estava, de fato, furioso com Mercadante. Palocci e Dirceu o acalmaram. Para a segunda versão da carta, foi acionado o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. A versão que foi usada no dia seguinte é de Dulci.
Para os que estiveram na reunião, o episódio selou a volta de Palocci e Dirceu ao jogo de articulação política para 2010.
Dirceu saiu da Casa Civil e teve seu mandato de deputado federal cassado por causa do escândalo do mensalão, em 2005. Palocci renunciou ao cargo de ministro da Fazenda em 2006 sob acusação de ter quebrado o sigilo bancário de um caseiro -processo arquivado na última quinta-feira pelo Supremo.
Os dois participam do time de estrategistas da pré-campanha de Dilma ao Planalto.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Além da inocência
Próximo Texto: Marina assina filiação em PV heterogêneo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.