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ELIO GASPARI
Uma reforma à altura da turma da pesada
Em silêncio, a Câmara
vai votar um projeto de censura para o horário gratuito de televisão
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A ATENÇÃO atraída pelas cavalariças
do Senado libertou a ousadia de
um pedaço da Câmara dos Deputados, dando-lhe a impressão que a pista
está livre para avanços sobre os direitos
da patuleia. Na semana passada livraram
o deputado-castelão Edmar Moreira de
um processo de perda do mandato por
uso indevido de dinheiro da Viúva. Nesta
semana poderão votar um projeto de reforma eleitoral que mutila o direito de
informação dos contribuintes e blinda os
malfeitores. Aos fatos:
No projeto da reforma incluíram um
parágrafo pelo qual "é proibida a utilização de imagem ou voz" de candidatos adversários. Trata-se de medida destinada
a proteger pessoas que querem esconder
a verdade. Se um candidato disse uma
coisa em lugar público, por que seus adversários não podem mostrá-lo? Num
exemplo extremo, os deputados não
querem que se mostrem nem mesmo as
falsas promessas que os candidatos fizeram durante o horário gratuito de televisão. Admitindo-se que pode haver má-fé
no uso do vídeo ou do áudio, é para isso
que está aí a Justiça Eleitoral, instância
eficaz de repressão aos excessos.
O projeto foi montado com o objetivo
de proteger parlamentares, amparar
candidatos e inibir a Justiça Eleitoral.
Noutra novidade, os doutores dizem que
os candidatos que já disputaram eleições
estão obrigados à "apresentação de contas de campanha". À primeira vista, nada
demais. Esqueceram de acrescentar
"aprovadas pela Justiça". A mesma Câmara que criou (talvez com razão) o cadastro positivo para o crédito da choldra,
blinda o cadastro de seus caixas dois.
Assim como há no Senado um contubérnio de burocratas e congressistas,
funciona na Câmara uma grupo interpartidário já apelidado de G8. Ele maquina tramitações silenciosas e mercadeja enxertos em medidas provisórias.
Nos últimos meses quase conseguiram
instituir o voto de lista e um sistema de
donatarias para tungar os donos de carro com a criação de uma Inspeção Técnica Veicular. Recuaram no reconhecimento de créditos de IPI, mas prevaleceram com a MP 449, que refrescou a
vida de sonegadores.
ACREDITOU NA INFRAERO? FEZ PAPEL DE BOBO
Terminou o mês de junho e
com ele venceu a promessa da
Infraero de instalar redes de
internet gratuita, mas nem
tanto, em 12 aeroportos brasileiros. Quem acreditou fez papel de bobo. A mesma Infraero prometera para dezembro
passado uma rede inteiramente grátis. Pelo que se sabe, na nova configuração,
quem quiser usar o serviço de
mensagens eletrônicas terá
que pagar. Hoje quem cai nas
mandíbulas dos donatários
da Infraero e não tem conta
num provedor associado à
empresa que intermedia a conexão tem que comprar um
acesso que num caso chega a
R$ 25 por dia.
O brigadeiro Cleonilson Nicácio da Silva deveria pedir às
companhias aéreas que lessem uma mensagem aos passageiros que chegam ao Rio
de Janeiro: "Bem-vindo à Cidade Maravilhosa. Graças ao
governo do Estado, aqui você
poderá conectar seu laptop na
praia sem pagar um tostão.
Graças à Infraero, se você quiser trabalhar enquanto espera o avião talvez tenha que desembolsar um pedágio".
O acesso a Copacabana é
gratuito. O uso dos aeroportos da Infraero custam à choldra até R$ 19, uma das maiores taxas de embarque do
mundo.
No ano passado a direção
da empresa recebeu uma proposta para a instalação do sistema Wi-Fi no seu prédio e no
aeroporto de Brasília.
Preço: R$ 3 milhões. Foi-se
conferir no mercado e apareceu quem fizesse o mesmo
serviço em 11 aeroportos por
R$ 1,1 milhão. O loteamento
de cargos é coisa perigosa
porque chama a atenção.
Contratos, concessões e espaços públicos são coisa mais
discreta.
TUCANOS INCAPAZES
O PSDB quer voltar ao governo
pela vontade do povo, mas é incapaz de dar aos seus afiliados o direito de escolher entre José Serra
e Aécio Neves. No melhor estilo
dos sábios da ditadura, há tucanos defendendo a prévia-indireta. O tucanato de todo o Brasil terá o direito de escolher entre
duas listas de delegados e a eles
caberá a escolha final. Se os tucanos inscritos no partido não têm
discernimento para escolher entre Serra e Aécio, com que cara
qualquer dos dois irá à rua para
pedir que votem nele e não em
Dilma Rousseff?
SEVCENKO E HARVARD
Nem só de Roberto Mangabeira
vive a Universidade Harvard. Ela
acaba de nomear o professor Nicolau Sevcenko para uma cadeira
de literatura de línguas neolatinas.
Lula pode ficar tranquilo, Sevcenko não quer ser ministro.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo soube que, sete anos
depois de deixar a Presidência, José Sarney comprou num leilão público uma casa que o banqueiro
José Safra tinha em Brasília. O
idiota teme que, em 2018, Lula se
interesse pela mansão de Safra no
Morumbi. Ela pode ser acanhada
para o ego de Nosso Guia, mas tem
130 cômodos e nove elevadores.
RECORDAR É VIVER
Há 40 anos, diante da iminente chegada da Apolo 11 à órbita
da Lua, um grupo de presos da
Marinha na ilha das Flores pediu
ao comandante do cárcere que
lhes permitisse ver o desembarque de Neil Armstrong pela televisão. Eles argumentavam que
aquele seria um dia inesquecível
e, se a licença fosse concedida, ficaria a memória da gentileza. O
pedido foi negado. Restou a lembrança de que a decisão veio do
comandante José Clemente
Monteiro Filho.
AMAZÔNIA NA MODA
A cidades perdidas da Amazônia estão bem nas livrarias
americanas. Depois do sucesso de "A Cidade Perdida de Z",
do jornalista David Grann,
acaba de sair "Fordlândia: Ascensão e Queda da Cidade Perdida de Henry Ford na Floresta", do professor Greg Grandin. O livro de Grann sairá no
Brasil até o fim do ano e pode
virar filme, com Brad Pitt no
papel do explorador inglês
Percy Fawcett, que desapareceu no Xingu em 1925.
"Fordlândia" não tem a
mesma receita de mistério,
mas é uma lição para governantes, empresários e candidatos a conhecedores da Amazônia. Conta a história do projeto de construção de uma cidade e o plantio de um imenso
seringal no meio da mata do
Pará. A ideia foi de Henry
Ford, o Bill Gates de seu tempo. Deu tudo errado. Ford perdeu US$ 160 milhões (em dinheiro de hoje), produziu um
desastre ecológico e abandonou o projeto. Seus funcionários chegaram como deuses de
uma nova era em 1928 e partiram como fugitivos em 1945.
Grann recuperou lembranças de pessoas que viveram naquilo que seria o paraíso americano de Fordlândia e trabalhou duro nos arquivos da empresa. Disso resultou um precioso exame do fracasso de um
empresário antissemita que
era venerado como profeta do
capitalismo industrial e acabou discutindo a estatização
de suas terras para que nelas
fossem instalados os judeus da
Europa. Ford achava que a vaca era a máquina mais desagradável e inútil da natureza.
Hoje seu velho campo de golfe,
bem como as quadras de tênis,
servem de pasto e estábulo.
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