São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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JANIO DE FREITAS

A pretexto do Senado


O verdadeiro nome da alegada governabilidade fica melhor em algarismos, quatro apenas: 2010

FEITAS, mas não esgotadas, denúncias para todos os gostos fora do Senado e interesses dentro dele, Lula resolveu ampliar a dimensão do jogo. Ao acordar na marra o punhado de senadores petistas que sonharam estar ainda no velho PT, e se posicionaram contra o peemedebista José Sarney, Lula falseia o seu motivo: "é preciso manter a governabilidade", ou o PMDB na aliança governista. Mas o verdadeiro nome da alegada governabilidade fica melhor em algarismos, quatro apenas: 2010.
A atitude de Lula tem as mesmas razões de outros casos simultâneos. Um deles, a irritação, e o consequente "passe bem" que dirigiu a Mangabeira Unger, ao ser informado de que o seu (então) ministro, nomeado de favor ao vice José Alencar e ao senador Marcelo Crivella, buscava articulações no PMDB e em outros partidos contra a candidatura de Dilma Rousseff.
O outro caso é o de Nelson Jobim. Durante as articulações para a eleição de 2006, Jobim antecipou sua aposentadoria no Supremo Tribunal Federal com a expectativa de sair candidato a vice de Lula e pelo PMDB. Por esse motivo, embora também por outros, Lula retardou até onde pôde a confirmação de José Alencar na chapa. Já que, tal como Mangabeira, Jobim considera-se ungido para as alturas presidenciais, sua saída do Ministério da Defesa está em preparativos do governo e do próprio. Da parte de Jobim, com a expectativa de uma candidatura do PMDB, como defende um segmento do partido, ou a vice. De José Serra, inclusive.
Mangabeira e Jobim não têm importância política, e de eleitoral nem se fale, para justificar, por si, preocupação e atos de Lula. Mas nisso mesmo comprovam que Lula olha hoje para o PMDB com a vista posta na disputa sucessória.
Governabilidade? A parcela do PMDB que pulasse do governismo explícito para o alto do muro, em resposta à ação decisiva do PT contra a presidência de Sarney, seria por certo inexpressiva em tamanho e influência. O PMDB está infiltrado do topo até as últimas raízes do governo, e sua finalidade principal é essa mesma. Se um Edson Lobão talvez saísse do ministério por interesses maranhenses, os outros peemedebistas do governo se engalfinhariam pela indicação do substituto também peemedebista. E tudo seguiria igual por bom tempo. Ou até as negociações finais para as candidaturas, quando as alianças para alguns governos estaduais serão mais influentes, na formação das alianças federais, do que em todas as outras eleições do pós-ditadura.

Outros motivos
Na celebração dos 15 anos do Real como moeda, chegou a ser aberrante a injustiça dos meios de comunicação com duas pessoas. Já ao assumir, em lugar de Collor, Itamar Franco nomeou Paulo Haddad, competente e discreto economista de Minas, para ministro da Fazenda com a missão de lançar um plano radical contra a inflação. A ansiedade de Itamar era tanta que considerou Haddad lento e substituiu-o. Em pouco tempo, Fernando Henrique foi o quarto ocupante do ministério, não com a missão de fazer, mas de trazer quem fizesse o plano.
Todo o fundamental no Plano Real foi elaborado por André Lara Resende, com ideias importantes também de Pérsio Arida.
Itamar Franco e André Lara ficaram no esquecimento. Quinze anos são, porém, muito pouco tempo para um esquecimento histórico.


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