No começo dos anos 1960, o emblema no capô do Fusca celebrava São Bernardo do Campo como a "capital do automóvel" brasileira. O tradicional lobo sobre o castelo, brasão da cidade alemã de Wolfsburg, sede da Volkswagen, foi substituído por um bandeirante e um índio, símbolo de São Bernardo.
A revolução sobre rodas que mudou a cidade paulista começou em 1956, quando o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) criou um órgão para incentivar e supervisionar a produção nacional, dando início à indústria automobilística brasileira.
Até então, multinacionais como a americana Ford faziam aqui apenas a montagem dos veículos, com peças trazidas do exterior. As linhas de montagem ficavam concentradas no Ipiranga e na Vila Prudente, em São Paulo.
A escolha por São Bernardo foi estratégica: a cidade possuía grandes terrenos a baixo custo, ficava próxima das fábricas já instaladas na capital e tinha fácil acesso à via Anchieta, que conectava o município ao porto de Santos, onde chegavam os componentes importados.
As pioneiras na cidade, em 1956 e 1957, foram a americana Willys Overland e a alemã Mercedes Benz. De suas fábricas surgiram clássicos como o Jeep e o caminhão Mercedes L-312.
A consolidação da "capital do automóvel" aconteceu três anos depois, com a inauguração da fábrica da Volkswagen em um terreno com 1,6 milhão de metros quadrados no km 23,5 da via Anchieta.
Da Volks Anchieta saíram o Fusca (oficialmente VW Sedan, mas cujo apelido virou nome próprio no Brasil), a Kombi, o SP2, entre outros.
No ápice da produção, no inicio dos anos 70, a Volks empregava 23 mil pessoas e havia se tornado uma minicidade dentro de São Bernardo. O complexo tinha delegacia, bombeiros, lojas e era dividido por ruas que ficavam congestionadas na chegada e na saída de funcionários.
Em 1960, foi a vez da Karmann Ghia se instalar na Via Anchieta, no km 21,5. Lá, a empresa alemã produzia o esportivo que leva seu nome, hoje item de coleção.
A francesa Simca abriu suas instalações em São Bernardo em 1959, onde ficou por dez anos e produziu modelos como o Jangada. A última a chegar foi a Ford, em 1967, quando comprou a Willys Overland. Da fábrica saíram carros icônicos, como o Maverick.
A chegada das montadoras ao município foi seguida pela migração de mão de obra de várias partes do país. Dos anos 50 aos 70, a população local saltou de 26 mil para 202 mil –todos atraídos por bons empregos produzindo componentes e automóveis.
ÊXODO
Em 1970, a italiana Fiat chegou ao Brasil e fugiu de São Bernardo. Ela abriu sua planta em Betim (MG), antecipando o êxodo da indústria automobilística da cidade.
O aumento do custo da mão de obra, uma sequência de amplas greves dos trabalhadores da cidade e o aceno de outros Estados com isenções de impostos e terrenos a preços simbólicos culminaram com a redução da produção das fábricas em São Bernardo nos anos 1990.
A Ford transferiu boa parte da linha de montagem para a Bahia. O complexo da Volks perdeu mais de 50% dos funcionários da sua época de auge e hoje tem cerca de 10 mil trabalhadores –o restante foi para o Paraná.
O símbolo mais marcante desse novo período é o prédio abandonado da Karmann Ghia, que teve a falência decretada pela Justiça em novembro passado.