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Zona Leste é maior reduto da cultura de Okinawa em SP

A Vila Carrão, localizada na zona leste de São Paulo, abriga o maior número de descendentes de japoneses da província de Okinawa no Brasil: são mais de 500 famílias, de acordo com dados da associação de "okinawanos" do bairro, criada em 1956 e a maior da capital –são mais de 20 no Estado.

Os primeiros imigrantes da província, localizada no extremo sul do Japão, chegaram ao país em 1908. Eram 376 pessoas. Desembarcaram em Santos e foram encaminhados para trabalhar em fazendas no interior do Estado. Com o passar dos anos, se espalharam por outras regiões.

Marcel Uyeta/Divulgação
14ª edição do Okinawa Festival, realizada em agosto
14ª edição do Okinawa Festival, realizada em agosto

A comunidade de Vila Carrão começou a se formar por volta de 1950. "A região era mais longe do centro e mais barata, o que a tornava mais acessível para os imigrantes", explica Tério Uehara, presidente da Associação Okinawa de Vila Carrão. Apesar de ter 500 famílias associadas, Uehara estima que existam mais de 3.000 no bairro.

O espírito de solidariedade entre os conterrâneos foi fundamental para a povoação da região, de acordo com ele. "Os que já estavam instalados no Carrão chamaram os recém-chegados para trabalhar em feiras, oficinas e mercados locais."

Além de Vila Carrão, os bairros de Casa Verde (zona norte), São Mateus (zona leste) e o município de Santo André (região metropolitana de São Paulo) também concentram muitos descendentes da província japonesa.

NOVA GERAÇÃO

O culto aos ancestrais é uma das características mais fortes da comunidade, cujo maior desafio é preservar a cultura da província e transmiti-la aos mais novos.

"Hoje, com as tecnologias, as pessoas não vão mais visitar parentes, não fazem refeições juntas. Antigamente, a família 'okinawana' sempre almoçava junto, todos eram solidários. Não é mais assim", diz o engenheiro Shinji Yonamine, 66, da terceira geração de okinawanos no Brasil e morador da Vila Prudente (também zona leste).

Para a antropóloga Lais Miwa Higa, neta de imigrantes da província e pesquisadora da Universidade de São Paulo, manter qualquer cultura é difícil, o que não é diferente com a okinawana. Mas, segundo ela, há um interesse crescente pelo tema por parte dos jovens.

"A nova geração participa de grupos de arte, procura conhecer as histórias de antepassados", afirma.

IDIOMA E FESTA

Uma das atividades da associação da Vila Carrão é ensinar o dialeto uchinaaguchi, idioma oficial da província. As aulas são oferecidas gratuitamente no local.

Apresentar os costumes okinawanos para a sociedade de uma forma geral é outro objetivo. O Okinawa Festival, realizado há 14 anos, surgiu com esse propósito e é hoje uma marca do bairro.

Durante a festa, em agosto, há comidas típicas e apresentações culturais -como a dança ryukyu buyo, com trajes tradicionais.

Há também muito pastel: a maioria dos pasteleiros da capital são descendentes de okinawanos, afirma Uehara. O curioso é que, na província japonesa, não existe o quitute, de acordo com ele.

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