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13/05/2011 - 15h46

Zeca Baleiro comenta Bob Marley, que morreu há 30 anos

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ZECA BALEIRO
DE SÃO PAULO

Quando Robert Nesta Marley nasceu, sob o signo zodiacal de Aquário, a 6 de fevereiro de 1945, nem dona Cedella, negra da pequena Nine Miles, cidadezinha do interior da Jamaica, nem o senhor Norval, militar branco de sangue inglês, poderiam imaginar que aquele menino faria parte de uma seleta galeria de gênios musicais que mudariam o mundo --alguns dos quais também se chamavam Robert.

Febril como Mr. Plant, rebelde como Mr. Johnson, messiânico como Mr. Zimmerman e ultramusical como Mr. McFerrin, o garoto Bob não só seria um dos maiores artistas do século 20 como ainda espalharia pelos quatro cantos do mundo o reggae e a filosofia rastafári, anunciadores de uma nova era para a nação africana dispersa pelo mundo.

Foi no Maranhão dos anos 70, dominado por forças políticas obscuras --triste história feudal que perdura até os dias de hoje--, que ouvi pela primeira vez sua música e quedei-me entorpecido. Mal sabíamos o que dizia aquele inglês cheio de sotaque, mas a mágica e o calor de sua voz, o baixo gravíssimo fazendo o coração acelerar, as melodias que ecoavam no oco mais fundo da alma, aquilo tudo era como um grito de guerra, algo que nos enchia de entusiasmo e vontade de viver.

David Burnett/.
Bob Marley fez parte de uma seleta galeria de gênios musicais que mudaram o mundo, acredita Zeca Baleiro
Bob Marley fez parte de uma seleta galeria de gênios musicais que mudaram o mundo, acredita Zeca Baleiro

GROOVE AFIADO

Bob Marley tornou-se o ícone de uma saborosa música de cadência leve, dançante e mântrica, grito contra as injustiças do mundo cruel. Aliados ao som contagiante e versos de boa cepa, havia os preceitos de uma vida natural tornada por anéis de fumaça de marijuana e mergulho espiritual.

De Nine Miles para Trench Town, a célebre favela de Kingston. Foi lá que o jovem Bob começou a fazer um som com os amigos Bunny Livingstone e Peter McIntosh, influenciado pelos ídolos negros do rock, do soul e do rhythm'n'blues que ouvia no rádio e pelo ska, ritmo em alta na Jamaica dos anos 60. Assim nasceriam "The Wailing Wailers", que depois se tornariam os legendários "The Wailers", cuja excelência moldaria pérolas do gênero.

Para o êxito do grupo muito contribuiu a parceria com o gênio produtor Lee Perry. "Catch a Fire", o primeiro álbum internacional da trupe rasta, anunciava um novo som, um reggae de groove afiado, riffs mortais e letras combativas, e fez grande barulho na mídia.

A gravação de "I Shot the Sheriff" pelo deus branco da guitarra Eric Clapton, que em 1974 esteve no topo das paradas musicais americanas, fez o mundo ajoelhar-se aos pés deste jamaicano mestiço apaixonado por música e futebol. Até maio de 1981, há exatos 30 anos, quando morreu vitimado por um câncer aos 36 anos, Marley produziu canções e discos que se tornariam universais.

Meses atrás fui presenteado com a audição da sessão aberta de "Is This Love", ou seja, pude ouvir, canal por canal, todos os instrumentos tocados na gravação original da música (febre destes tempos tecnológicos e piratas, rolam por aí sessões de Beatles, Led Zeppelin etc). Ouvidos isoladamente, cada instrumento parecia meio desafinado, algo precário --guitarra, vocais, metais, baixo...

Mas, ao ouvirmos tudo junto, dava-se então o milagre. A música soava bela, fluente, íntegra, como se ninguém a houvesse feito, como se ela estivesse ali desde que o mundo foi criado, como se fosse obra de Deus. Obra do deus Robert Nesta Marley.

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