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30/05/2011 - 19h01

"Não excluo sair com uma mulher", afirma modelo transexual Lea T.

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CHRIS MELLO
DE SÃO PAULO

Em uma tarde de outono, a modelo transexual Lea T. entra em um salão de cabeleireiro de São Paulo para cortar as pontas. Quase não é reconhecida, a não ser pela repórter de Serafina, com quem começa uma conversa informal.

"Coloquei silicone há dois dias. Quer ver?" Abre a camisa Givenchy e mostra os seios turbinados por 300 ml. A conversa toma o rumo de um longo depoimento sobre sua vida.

"Dois meses atrás, chegou o convite: um desfile de biquíni para a marca Blue Man, no dia 1º junho, no Fashion Rio. Meu primeiro desfile com peito, e com um biquíni pequenininho. Fiquei mais tímida ainda depois da cirurgia, mas decidi vencer o medo e aceitar o desafio.

Esconder os meus órgãos sexuais é o que menos me preocupa. Conheço vários segredinhos das 'trans' mais velhas que dão super certo. É o básico, a gente prende para trás, como todo garoto faz de brincadeira uma hora ou outra.

Vou fazer cirurgia de mudança de sexo em algum momento, mas não já. Deve ser na Tailândia, os médicos de lá estão acostumados, têm experiência.

Stefano Moro/.
Às vésperas do seu primeiro desfile de biquíni, a modelo fala de sua trajetória na moda e dos peitos de silicone
Às vésperas do seu primeiro desfile de biquíni, a modelo fala de sua trajetória na moda e dos peitos de silicone

A primeira pessoa que me disse que eu era transexual foi o (estilista italiano) Riccardo Tisci (apontado como o provável sucessor de John Galliano na Dior), um dos meus melhores amigos. O T do meu sobrenome é uma homenagem a ele.

A gente se conheceu em Florença. Vivo na Itália desde um ano; meu pai, o ex jogador Toninho Cerezo, foi transferido para Roma e levou a família.

Aos 17 anos, entrei na Academia de Belas Artes, em Florença. Eu era um garoto andrógino, não pensava em sexo. Meu lance era dançar, me divertir, não ficava questionando muito quem eu era. Tenho tendência a gostar de homem, mas não excluo sair com uma mulher.

Eu e o Riccardo viramos melhores amigos, gostamos dos mesmos artistas, das mesmas músicas e da Virgem Maria.

Riccardo fazia roupas em casa, eu era modelo e morria de vergonha quando me colocavam em castings com mulheres. Um dia, do nada, ele me perguntou: "Por que você não vira transexual?". Aquilo ficou na minha cabeça.

Quando assumiu a Givenchy, em 2008, ele me convidou para ser modelo de provas. Foi nessa época que comecei a entender a minha sexualidade. Percebi que tinha algo que não dava certo. Sabe quando você troca os sapatos nos pés?

Fui a vários psiquiatras até entender quem eu era. Um dia, decidi contar para minha família: "Sou transexual. Não é uma tara, nem uma fase".

Tive medo de não ser aceita e ter que virar prostituta. É a realidade de muitos 'trans' porque ninguém oferece trabalho. De novo foi o Riccardo que me tranquilizou: "Talvez eu arrume um trabalhinho para você". Em cinco dias, me ligou com o convite: era a campanha mundial da Givenchy.

A repercussão foi enorme. Fotografei para a "Vogue" francesa, fui capa da revista "Love" com a Kate Moss, entrevistada pela Oprah Winfrey. Agora vem esse desafio, desfilar de biquíni, me assusta mais que o sofá da Oprah. Mas vou fazer. E faço questão de deixar claro que sou transexual.

O mais importante para mim é passar a mensagem de que nós podemos fazer parte de qualquer grupo. Temos os mesmos direitos de todo mundo. Os mesmos deveres também. E não podemos passar a vida com medo de andar na rua."

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