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17/06/2011 - 19h33

Em Los Angeles, mania é ter galinha como animal de estimação

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FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

O topete branco trouxe problemas na infância da pequena Billie Holiday. Suas companheiras, talvez por inveja, cismavam com a cabeleira e as brigas eram diárias. Acabou isolada, levada para longe. "Ficou carente, chorava o dia todo, como se cantasse um blues", diz Deborah Dentler, explicando o nome que deu à sua galinha de estimação, de penas pretas e raça européia.

"Galinhas são muito sociáveis, precisam de amigos, são como seres humanos e abelhas. É cruel ter uma só", diz a advogada americana de 58 anos, moradora do bairro de Glendale, em Los Angeles.

Deborah, que acabou comprando mais duas aves, aderiu ao movimento dos entusiastas urbanos de galinhas há um ano. São pessoas da cidade que resolveram adicionar um pouco de realidade rural ao seu estilo de vida, uma moda que pegou também celebridades, como a top Gisele Bündchen, que fez questão de ter um galinheiro na mansão de US$ 20 milhões que está construindo na região.

Mabel Feres/.
Margie Levy com a galinha Verneta Green da raça Barred Plymouth Rock
Margie Levy com a galinha Verneta Green, da raça Barred Plymouth Rock

Segundo Traci Torres, do site www.mypetchicken.com, não existe nenhum estudo sobre o número de criadores urbanos de galinhas, mas ela estima que chegue perto de 1 milhão nos EUA. "Comecei a vender pintinhos em 2006, e, desde então, as vendas dobram a cada ano", afirma. Em 2011, sua média já chega a 3.000 pintos por semana.

As três galinhas de Deborah vivem numa pequena casa de madeira construída debaixo de uma árvore no jardim, bem ao lado de seu escritório. Quando viaja nos fins de semana, paga a secretária para checar se as "meninas" estão bem.

"Gosto da ideia de alimentá-las e elas me alimentarem", diz Deborah, que come os ovos de suas galinhas, mas não comeria as próprias. "Mas poderia cozinhar a de um vizinho. É uma das polêmicas do grupo. Tem gente que cria para isso. Não vou matar a minha galinha e comê-la. Mas compro frango no supermercado sem problemas".

Margie Levy, americana de 47 anos, mora numa casa menor no subúrbio de Van Nuys, também Los Angeles, e recebeu seus primeiros seis pintinhos em fevereiro, apelidados com nomes das heroínas do filme "Kill Bill".

Assim como Deborah e a maioria dos entusiastas das galinhas pet, Levy entrou na moda porque queria levar uma vida mais próxima da terra. "Minha maior preocupação era se ia dar muito trabalho, mas tem sido fácil", conta Margie, que trabalha como parteira (outra moda assolando os EUA: ter bebês fora de hospitais, mas esse é assunto para outra hora).

Ela diz que enche os reservatórios de comida e água duas vezes por semana e limpa todo domingo. As galinhas também ajudam a cuidar dos jardins, comendo ervas daninhas e insetos, mas às vezes também os destroem com suas ciscadas.

Em geral, botam um ovo por dia. Margie faz planos para quando as aves começarem sua produção, em geral depois de quatro ou seis meses. Diz que seu marido gosta muito de ovos, mas, ainda assim, seis por dia é muito. "Vou levar para minhas clientes, dar para meus vizinhos, é um ótimo presente", diz.

FRALDAS E CÂMERAS

Margie comprou seus pintinhos junto com uma colega de trabalho, Carol Braun, que mora em North Hollywood. Os animais, todos de raças diferentes, vieram pelo correio, comprados no site My Pet Chicken, que os despacha com horas de vida.

O site, assim como outras empresas do ramo, explica que os filhotes aguentam de três a quatro dias sem comer, tornando a viagem possível, embora não sem gerar duras críticas dos defensores dos animais.

De acordo com os empresários, o pintinho, formado da parte branca do ovo, se alimenta da gema antes de nascer, o que lhe oferece nutrientes suficientes para esperar os dias em que a galinha-mãe precisa chocar os ovos restantes.

O site recebe centenas de milhares de visitantes por mês e virou símbolo do movimento por trazer um guia gratuito de como criar galinhas na cidade e uma ferramenta online para descobrir qual a melhor ave para seu quintal.

A galinha da raça brahma, por exemplo, se adapta bem em regiões de invernos rigorosos, tem uma personalidade tranquila e mansa, além de botar em média três ovos de cor marrom por semana. Já a ameraucana tem ovos azulados, é mais rara e muito dócil.

"O maior desafio é convencer sua cidade que é OK ter galinhas, que elas não são sujas, não vão atrapalhar os vizinhos, não vão desvalorizar os imóveis e não serão usadas em rituais", diz Traci Torres, do My Pet Chicken e dona de 26 "meninas".

Além dos pintinhos, de 60 raças diferentes, Traci também vende produtos básicos como chocadeira e até invencionices como fraldas --para os donos que trazem as aves para dentro de casa e querem manter os móveis limpos-- e mimos como o "Chunky Chicken Caviar", uma comidinha especial para galinhas.

Deborah, Margie e Carol Ann têm cada uma seu jeito de mimar as galinhas. Deborah está fazendo uma horta só para elas. Margie compra minhocas no pet shop. E Carol Ann colocou a câmera que usava para vigiar seu bebê dentro do galinheiro para poder observá-las na TV da sala.

"Esse negócio de fralda eu acho meio maluco, mas vou te dizer que elas gostam de um carinho", diz Margie. "Uma delas, a Beatrix (da raça orpington buff), é muito fofa, doce e muito macia. As pessoas não sabem como uma galinha pode ser macia. E quando faço carinho, ela senta e começa a dormir."

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