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24/06/2012 - 07h25

Escritora visita espaço dedicado a romances frustrados, na Croácia

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VANESSA BÁRBARA
DE ZAGREB

No número 2 da Cirilometodska, uma viela estreita no centro de Zagreb, na Croácia, há um sobrado branco com um banner roxo onde se lê: Museum of Broken Relationships. É um espaço dedicado às relações amorosas que não deram certo. Lá se exibem os objetos mais variados que restaram de trágicos romances -ursos de pelúcia, chaves de casa, vestidos de noiva, cartas rasgadas e calcinhas comestíveis.

A ideia é de dois croatas, Drazen Grubisic e Olinka Vistica, que namoraram de 1999 a 2003 e, quando romperam, não sabiam o que fazer com a vasta memorabilia da relação. Pediram contribuições aos amigos e, em 2006, fundaram o Muzej Prekinutih Veza, um porto seguro para a herança intangível dos amores frustrados. "Parecia uma solução mais sutil e poética do que ceder às explosões de raiva que acabam destruindo boa parte de nossa história íntima", explica Olinka no catálogo da exposição.

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É ela que recebe os visitantes na entrada, tranquila e sorridente, a poucos passos da primeira peça em exibição: um coelhinho movido à corda, lembrança de seu relacionamento com Drazen. Na inscrição: "1999-2003. Zagreb, Croácia. Este coelhinho deveria viajar pelo mundo todo, mas nunca foi além do Irã".

Divulgação
Buquê de papel do casamento da escritora, que passou a fazer parte do acervo do museu
Buquê de papel do casamento da escritora, que passou a fazer parte do acervo do museu

ANÃO DO DIVÓRCIO

Todos os itens possuem uma placa informando a procedência, duração do romance e uma breve justificativa de seu valor sentimental. A maioria vem de croatas e eslovenos, mas há também objetos bósnios e sérvios, alguns alemães, um suíço, dois filipinos e um sul-africano, entre outros. Em breve, uma peça brasileira entrará para o acervo permanente -um garboso buquê de casamento feito de papel, minha modesta contribuição à galeria croata.

Não será páreo para o "anão raivoso do dia do divórcio", um dos itens mais interessantes da coleção. Após 20 anos de matrimônio, o marido de uma eslovena resolveu comprar um carro novo e pedir a separação, ao que ela reagiu arremessando um anão de jardim no possante. O anão bateu no para-brisa, quicou e aterrissou no asfalto. "Descreveu uma parábola comprida que foi como um arco no tempo e marcou o fim do nosso casamento", ela escreve. A peça não tem nariz.

Já um alemão enviou um "recipiente para lágrimas" com a prova líquida do quanto sofreu. Uma americana, de Indiana, mandou "uma lata de incenso do amor" com a sucinta inscrição: "Não funciona".

De início, o Museu do Amor Malogrado era itinerante. Percorreu 12 países entre Singapura, Irlanda, Estados Unidos, Argentina e Inglaterra. Em novembro de 2010, ganhou uma galeria permanente em Zagreb.

O espaço é branco e sóbrio, minimalista. A trilha sonora é convenientemente composta de canções temáticas antigas escolhidas por Olinka, como "Hallelujah, I Love Her So" (Ray Charles) e "Cheek to Cheek" (versão de Frank Sinatra). É uma celebração ao amor -só que ao contrário.

MACHADO DA EX

Muitos visitantes assoam o nariz ao passar por um certo cavalinho de vidro com a legenda: "Seu amor desapareceu como o vento. Guardei o cavalo de vidro numa caixa com a aliança e a tranquei. Disse a mim mesma: 'Não chore! Amanhã é um novo dia'".

Tristeza, saudade e banalidade convivem no museu, que, segundo sua criadora, proporciona a chance de lidar com um rompimento de forma criativa, aprofundando a compreensão dos fatos e fortalecendo nossa crença em algo além do sofrimento aleatório. "A doação de um item proporciona a fusão entre realidade imutável -o objeto em si, que traz lembranças- e o caráter volátil de uma história pessoal, com o poder alternativo de sublimar a memória." Um bom exemplo é a camiseta que uma garota sérvia ganhou do namorado. Ela diz ter superado a tristeza no dia em que usou a roupa enquanto tingia o cabelo.

Olinka admite que "nunca ficará claro se fizemos isso para erradicar o amor ou para torná-lo eterno. Penso que o museu serve a ambos os propósitos".

Os objetos mais apreciados são os raivosos e cínicos, como um "machado da ex" ("an ex-axe"), usado para quebrar todos os móveis de uma donzela, ou uma prótese de perna que um soldado inválido ganhou da namorada. "A prótese durou mais do que o nosso amor. Era feita de um material mais resistente!", exclama o desiludido.

O destaque mais recente vai para uma foto de "um lago onde cabulei aula com meu namorado. A seta aponta para o local onde vi pela primeira vez um pênis ao pôr do sol".
No fim daquela tarde, em Zagreb, um alegre casal de noivos contraiu matrimônio na igreja St. Catherine, do outro lado da rua, e foi tirar fotos no café do museu. "Existe aqui um equilíbrio", afirmou Olinka.

Afinal, tudo se resume a um vestido de casamento (1995-2003) enviado por uma moça croata ao museu. No pacote, nenhuma explicação, além da pergunta: "Vocês devolvem se eu resolver casar outra vez?"

 

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