Faxineira cria mistura de grãos de café que leva seu nome na Coffee Lab

"É ela", diz quem aponta para Raimunda de Figueiredo Conrado, 49. Também conhecida pelo apelido Rai, a mulher indicada olha para trás e vê um grupo se aproximar.

No instante seguinte, ela está sorrindo para uma foto ao lado de "uns gringos".

"Às vezes, as pessoas querem saber se a Rai é de verdade", diz, a própria, em terceira pessoa, referindo-se a clientes do Coffee Lab, na Vila Madalena, na zona oeste, onde trabalha. A faxineira, cozinheira e arrumadeira empresta seu nome a um dos produtos mais vendidos ali, o Café da Raimunda (R$ 16; 250 g). O "blend" (mistura de grãos diferentes) nasceu sem ser planejado —"mas foi parar até no Japão", gaba-se a criadora.

A homenagem é merecida: há 11 anos, Rai é uma espécie de peça híbrida e indispensável no negócio comandado pela barista Isabela Raposeiras. Ela é sempre a primeira a chegar à loja, às 7h, quando faz a limpeza, cozinha quitutes e prepara o café "dos 'meninos'" —o primeiro do dia, para os funcionários.

De tanto olhar (e ajudar), ela passou a repetir o passo a passo dos baristas: abre a válvula da torre de água, escalda o coador de papel ("para não deixar resíduo de sabor", explica), põe o grão no moedor, mede a água para obter um resultado preciso e ajusta a proporção —120 g de pó para 250 ml de líquido. O resultado é um café bem forte.

O "blend" surgiu de uma quase alquimia: aos bocados, ela misturava as variedades disponíveis de café, como catuaí e bourbon vermelho. Pronta, a bebida nunca sobrava na garrafa, e lá ia ela preparar uma nova leva, a pedidos de repeteco. Com o tempo, o café passou a ser servido aos clientes. Há cerca de três anos, ele é vendido em pacotes para levar. A versão das gôndolas tem inspiração no trabalho de Rai, mas é composta de uma base revisada por Isabela e varia de acordo com os lotes torrados na semana.

Rai tem orgulho da homenagem. Atualmente, ela só usa o seu café. O aroma é tão expressivo que, quando leva um pouco para sua casa, em Embu das Artes, ela ouve comentários no ônibus: "Tá cheirando café, né?". Duas fãs são suas sobrinhas, Lorena e Luiza, que só tomam do pacote que tem o nome da tia. "O café da mamãe não fica legal!" Elas não têm problema em dizer.

Coffee Lab. R. Fradique Coutinho, 1.340, Vila Madalena, tel. 3375-7400

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