Família vende água em SP há quase 50 anos e armazena 1 milhão de litros

No fim dos anos 1960, o abastecimento de água em São Paulo era bastante irregular, o que atrapalhava a produção das indústrias.

Elias Araújo, um eletricista da Ford, cuja fábrica ficava no Ipiranga, teve uma ideia: vender para seus patrões a água da bica de sua chácara no Brooklin, na época uma região repleta de plantações e de galinheiros.

A montadora aceitou a oferta e fechou um contrato. Com o acordo em mãos, o imigrante português convenceu o gerente do banco a ceder um empréstimo, comprou um caminhão e deu início a uma das primeiras empresas de caminhões-pipa de São Paulo: a Aguamar.

Enquanto Elias abria seu primeiro poço artesiano, o governo construía o sistema Cantareira, inaugurado em 1974. O poço da época ainda fornece água. "Ele só seca se a gente tira mais do que pode. É preciso dar tempo para o aquífero se recuperar", explica Olivia Costa, 57, filha de Elias que administra o negócio atualmente.

"A crise elevou o faturamento em até 30% neste ano, mas não vivemos dela. Não adianta vender toda a água hoje e não ter o que entregar amanhã. Temos que pagar as contas durante os 12 meses do ano."

Os caminhões-pipa não atendem só emergências: eles fazem parte da rotina de várias empresas. A Aguamar tem contratos de demanda com várias indústrias e condomínios. Por meio deles, o cliente se compromete a comprar um valor mínimo de água por mês para usar em atividades do dia a dia e é atendido com prioridade quando há um imprevisto.

Uma das companhias que tem contrato é a Sabesp, que chama a Aguamar em casos de falta d'água prolongada.

Assim, quem liga pela primeira vez é encaixado na agenda do dia ou orientado a procurar outro fornecedor. Há 23 serviços de caminhão-pipa cadastrados na prefeitura da capital.

Além do abastecimento, a Aguamar faz chuva artificial para gravações de TV, entre outros serviços, como a limpar o barro das ruas perto de grandes construções.

MOTOR DE FUSCA

Elias começou o negócio com um caminhão pequeno, com motor similar ao de um Fusca. "Era fácil de fazer manutenção", conta Olívia. O porte dos veículos cresceu com a empresa, mas eles devem voltar ao tamanho de décadas atrás: as carretas, que levam até 25 mil litros, já quase não saem do pátio devido às restrições de trânsito na capital e à dificuldade para estacionar.

Adquirir caminhões VUC, que têm circulação liberada, é um plano para facilitar o trabalho e atender restaurantes. Por enquanto, uma central monitora a frota via GPS e usa a internet para descobrir rotas livres.

A empresária repete com seu irmão, também chamado Elias, a dobradinha que seus pais fizeram por décadas: ela cuida do administrativo e ele da operação, que inclui 40 caminhões, cem funcionários e dois reservatórios, capazes de guardar 1 milhão de litros. Cada caminhão pode sair de três a quatro vezes por dia.

Formada em direito e administração, Olivia diz ser apaixonada pelo produto que fornece. Fora do trabalho, participa de grupos que debatem a regulação do setor, como o Comin (Comitê da Cadeia Produtiva de Mineração, da Fiesp).

Ela prepara uma nova sucessão. Suas sobrinhas, Elisa, 25, e Anália, 22, já dão expediente no escritório. "Eu preciso me aposentar", brinca Olívia, que afirma que, ainda assim não deixará de zelar pela água: ela tem um aquário em casa. "Adoro ficar olhando. É relaxante."

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