CA de direito do Mackenzie elege 1ª mulher negra como presidente

"Um grupo de esquerda no direito do Mackenzie? Mas será que dá certo?" Essa foi a dúvida na cabeça da aluna Tamires Gomes Sampaio, 20, quando criou com amigos um coletivo de esquerda em uma universidade historicamente conservadora.

As reuniões, que começaram em 2013, discutiam como combater as opressões no campus, segundo ela. "Às vezes um professor tem preconceito com um aluno por ele ser bolsista", diz ela, cujo grupo faz intervenções no trote para evitar violência, racismo e estupros.

Mastrangelo Reino/Caixapreta
Tamires Gomes Sampaio, primeira mulher, negra, prounista e moradora da periferia a presidir o grêmio do CA do Mackenzie
Tamires Gomes Sampaio, primeira mulher, negra e moradora da periferia a presidir CA do Mackenzie

Um ano depois o coletivo cresceu para mais de 300 pessoas e dele saiu uma chapa que ganhou as eleições para a 60ª gestão do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito com a maior participação da história da entidade, que começou em 1955.

Tamires é a primeira mulher negra, beneficiária do Prouni (programa de financiamento universitário do governo federal) e moradora da periferia a ser presidente do órgão. A posse foi na semana passada.

"É uma revolução", brinca ela, que acredita que o perfil do Mackenzie esteja mudando por causa do aumento de programas de bolsas. "Por conta do perfil da universidade, quem é conservador tem mais voz. A gente quer que quem for de esquerda, prounista, gay, feminista, também tenha chance de discutir", diz.

Filha de uma militante do movimento negro, Tamires se envolveu com política ainda pequena, acompanhando as atividades da mãe, com quem mora em Guaianases (zona leste). Tirou o título de eleitor aos 16 anos, mesma idade com que pegou fila de madrugada para conseguir vaga para fazer o último ano em um colégio público do Tatuapé.

Apesar do sucesso da chapa, Tamires não planeja concorrer a cargos eletivos fora da universidade no futuro. "É muito complicado", desabafa.

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