'Governador falar que vai acabar com o PCC é lorota', diz candidato do PSOL

Gilberto Maringoni (PSOL), 55, entrará pela segunda vez na corrida eleitoral. Em 2012, candidatou-se a vereador na capital paulista. Conquistou votos suficientes para ser suplente, mas nunca assumiu a função. Desta vez, buscará a vaga de governador de São Paulo.

O professor não atingia 1% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (17), e reconhece que a tarefa não será nada fácil. "Sei qual é o alcance que a gente pode ter no PSOL... É muito importante a possibilidade de se expor, de conhecer gente, a cidade e o Estado."

A entrevista é a primeira da série preparada pela sãopaulo com candidatos ao governo paulista.

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sãopaulo - Com qual bairro da capital ou cidade paulista o sr. se identifica?
Gilberto Maringoni - Com o Belém e a zona leste, porque moro aqui. O Belém foi se verticalizando muito, como a cidade, mas ainda há a mercearia, a padaria, a feira do lado de casa, o metrô. E a zona leste é a história da formação de São Paulo, da industrialização e da classe operária.

O que mais o agrada no Estado?
Há uma diversidade de ocupação, de sotaques, de estilo de vida, de maneira. Há uma riqueza cultural no interior do Estado, de diversidade humana.

E o que mais o irrita?
Não gosto do sentimento conservador de uma parcela da população de achar que São Paulo está acima do Brasil.

Por que quer ser governador?
A gente sempre vai para uma campanha com a perspectiva de ganhar, mas sei qual é o alcance que a gente pode ter no PSOL... É muito importante a possibilidade de se expor, de conhecer gente, a cidade e o Estado, além da chance de colocar em pauta temas como a privatização da água. Hoje, discutir a privatização é discutir o cotidiano em termos de saúde e de abastecimento.

Os protestos de junho de 2013 mudaram a sua forma de ver a política?
Aquilo foi uma explosão. Mas não muda o meu modo de pensar. Liga um alerta no sentido de que a realidade é muito mais complexa do que as planilhas e os indicadores.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestante?
Claro que não. As forças de segurança têm de ser dissuasórias. Não podem ter o grau de violência que estão tendo nas manifestações, porque gera uma reação ruim.

A polícia deve reprimir os black blocs ou deixá-los protestar do jeito deles?
Você não pode depredar. Sou contra a ação deles. Os movimentos [sociais] também têm de isolar os black blocs. Não é uma tarefa só da polícia.

Como pretende combater o PCC?
A única maneira é reprimir a parte criminal com policiamento preventivo e tornar o Estado mais eficiente. No fundo, é ter mais serviços públicos, como escola em tempo integral. Não há opção de lazer e de emprego na periferia. Um governador falar que vai acabar com o PCC é lorota. Quem falar que vai acabar em quatro anos com o PCC está mentindo.

Como se prepara para enfrentar uma eventual escassez de água?
O primeiro passo é o Estado recapitalizar a Sabesp, aumentar a parcela estatal. Isso garante que o investimento será mais eficiente. Hoje, metade vai para o ralo do lucro privado [acionistas da empresa]. E tem de ter algum tipo de ação emergencial para minorar os danos.

O sr. acha a qualidade da água boa? Bebe água da torneira?
Não, não bebo água da torneira [risos]. Não me arrisco a falar da qualidade. Não sou técnico, seria leviano. Não bebo, como a maioria das pessoas.

A tarifa do transporte pode ser zero?
Sou a favor, mas temos de saber os passos. Há uma série de mecanismos. O poder público tem de gerir o sistema. Você tem de conhecer os custos e criar formas de subsídio para caminhar para uma redução, chegando talvez à tarifa zero.

O metrô é a única salvação para o trânsito em São Paulo? Quantos quilômetros pretende construir?
Se fosse falar quantos quilômetros precisam ser construídos, talvez 200 km. Agora, vou fazer 200 km? Claro que não. É impossível em quatro anos. Mas tem de expandir o metrô com outras modalidades que são mais rápidas de serem construídas e mais baratas.

Qual o seu principal projeto para a rede pública de saúde?
Tem de aumentar o orçamento da Secretaria da Saúde, e o Estado tem de reassumir hospitais e postos de saúde conveniados com a iniciativa privada. A rede tem de ser pública de fato. Tenho plano de saúde e está lá que ele apresenta o Hospital das Clínicas. Mas o HC não tem de estar no meu plano, o HC é público.

Utiliza algum serviço público?
Ônibus, metrô e eventualmente posto de saúde, apesar de ter convênio.

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
Destaco pontos positivos nos governos André Franco Montoro [1983-1987] e Carvalho Pinto [1959-1963], que tenho notícias que instaurou um planejamento público para todas as áreas.

E o pior?
[Risos] Olha... A combinação do pior do Paulo Maluf [1979-1982] e do Adhemar de Barros [1938-1941/1947-1951/1963-1966], os piores governadores que São Paulo teve, sintetiza-se no governo Alckmin, que não investe, que tem CPIs paralisadas na Assembleia, que é blindado contra investigação.

Em que político o sr. se inspira?
Dois deles são o Plínio de Arruda Sampaio [morto no último dia 8] e o Salvador Allende [ex-presidente do Chile], que quis fazer o que tenho como meta: uma sociedade socialista.

Se eleito, qual será a marca do seu governo?
A retomada do papel do Estado, da capacidade de investimento e planejamento.

O que não faltará no seu gabinete?
Diálogo. O que vai faltar é pirotecnia.

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