Bichos & Donos 2014

Vereadores e candidatos investem em projetos voltados aos bichos

Aprovado na última terça (1º), o Plano Diretor trouxe diretrizes que estimulam a criação de crematórios públicos para animais domésticos até 2029 —mais uma vitória dos bichos na Câmara Municipal de São Paulo.

Antes vista como exótica, a bandeira pet virou um cobiçado ativo eleitoral. O nome mais popular em 2012 foi o de Roberto Tripoli (PV), vereador eleito com 132.313 votos, puxados pela causa, à qual também devem parte do sucesso o vereador George Hato (PMDB) e deputados estaduais, como Feliciano Filho, do PEN (Partido Ecológico Nacional).

Fernando Gonzales

Na Câmara, a defesa começou em 1948, e bem —autorizou-se ajuda de 100 mil cruzeiros (cerca de R$ 115 mil) à União Protetora dos Animais. Ganhou força após a regulação, em 1998, do trânsito de cães agressivos. Mas nada se compara ao último ano e meio, quando mais de 12 projetos para os bichos tomaram a pauta, como a proibição da venda de animais em pet shops e a regulação dos serviços de banho e tosa (ambos de Hato).

O número parece baixo diante de quase 1.400 propostas no período, mas ganha peso quando se leva em conta que a maioria das ideias são homenagens ou mudanças de nomes de ruas. Além disso, planos de legislaturas passadas engordam a conta.

Tripoli viu aprovada na casa, em dezembro, sugestão para que bichos pudessem ser enterrados com os donos em cemitérios públicos. O prefeito Fernando Haddad vetou, alegando falta de vagas para humanos e de garantias de salubridade. O vereador, porém, credita a negativa à pressão de dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo: "Haddad certamente sancionaria, isso já existe em outros países".

"Acho justo, o cachorro é um ser que vira da família", concorda Nelo Rodolfo (PMDB). Autor da proposta do Samuv, um serviço de ambulâncias veterinárias, ao estilo do Samu, ele também quer regrar a atividade de adestradores e acompanhantes.

Já Paulo Frange (PTB) é autor de um dos projetos para liberar o transporte de animais de até dez quilos nos ônibus municipais (à exceção dos horários de rush). "Na Europa isso nem se questiona mais", argumenta.

Vários vereadores agregaram ativistas de direitos dos animais ao corpo de assistentes. "Somos procurados por parlamentares querendo encampar nossos projetos ou pedir apoio aos deles", afirma Juliana Camargo, 32, diretora-presidente da ONG Ampara, que diz ter negado ofertas para uma unidade móvel de atendimento, que foi viabilizada por particulares.

A via contrária também é frequente, com ONGs e personalidades que praticam lobby. "É difícil achar alguém da militância que não esteja envolvido", diz um dos assistentes —com salários entre R$ 5 mil e R$ 9 mil— com quem a sãopaulo falou.

Essa influência pode afetar a sincronia com o interesse geral, analisa Marco Antonio Teixeira, 49, cientista político da FGV. "Mas o resultado eleitoral mostra que para um grupo significativo esse é um espaço com grande apelo emocional e que poucos vinham ocupando." (COLABOROU ELVIS PEREIRA)

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