Advogado ganha fama ao lado de vítimas e réus de crimes midiáticos
Denunciado pela morte da ex-mulher, em 2008, o pagodeiro Evandro Gomes Correia Filho sai de um prédio na zona oeste que parece um templo da Grécia antiga. Mas o foragido não busca ajuda divina, tal qual helenos antigos em oráculos como o Partenon.
- Filha de Raul Seixas e Marcelo Nova tocam clássico em homenagem ao roqueiro
- KAOS: Após demolição, boate Kilt reabre com visual futurista na mesma rua em SP
- Confira 60 opções para fazer boas compras em Miami, Orlando e Nova York
"Ele irá se apresentar ao júri em maio", promete seu advogado, Ademar Gomes, 70, com conhecimento da causa: é seu o nome que encima as colunas gregas apoiadas em paredes espelhadas no imóvel na avenida Brasil, perto do parque Ibirapuera.
Como o pagodeiro, outras figuras conhecidas do noticiário criminal passaram pelo escritório. É o caso do ciclista David Santos de Sousa, 21, que perdeu o braço direito ao ser atropelado na avenida Paulista, há um mês. Também estiveram lá a família de Eloá Cristina, morta pelo namorado em 2008, em Santo André, e Francisco de Assis Pereira, o "maníaco do parque".
Essa é só parte da clientela de Ademar, que diz ter atuado em mais de 30 mil casos e jura que nunca correu atrás dos midiáticos: "Eles vêm até mim".
Para provar, o advogado oferece os telefones de alguns clientes. "Ele foi indicado por um policial", diz Adriana dos Santos, mãe de Gabriel da Silva Pinto, atropelado e morto quando andava de skate em Guarulhos, em março. Foi também por indicação que seu nome chegou à mãe do ciclista David.
Seu escritório em nada parece um ambiente austero, tal qual o de um tribunal. O interior é repleto de estátuas e murais em alto-relevo, como o da deusa Diana conduzida por cães.
Os bichos não se limitam às paredes: o golden retriever Nicky, 3, deita-se em uma escada de caracol sobre um minilago com carpas, e a maltês Luly come da mão do dono enquanto ele almoça no refeitório com a equipe.
No eclético ambiente também há espaço para a fauna morta. Araras e tucanos feitos de pedras brasileiras ocupam o térreo, onde uma televisão reproduz um portfólio de reportagens pré-gravadas. Os temas vão de trotes violentos até um papo com Caco Barcellos sobre a estética do escritório.
A relativa fama de Ademar, que costuma aparecer com os clientes nos telejornais, foi um longo caminho que partiu de Andradina (630 km da capital). Foi lá que ele começou na labuta como engraxate e, depois, como contínuo. Após ser transferido para São Paulo, aos 17 anos, estudou contabilidade e só perto dos 30 anos entrou no direito.
"Meu segredo é um só: trabalho", diz. Há 15 anos, graças a um infarto, ele reduziu o ritmo, mas não de todo: "Ainda me envolvo nos casos criminais, meus prediletos". Em anonimato, empresas dizem pagar até R$ 100 mil mensais pela consultoria do escritório, que também atua em áreas como trabalhista e de fusões. Ademar admite a fama de careiro, mas ressalva que atende de graça cerca de 4% dos casos, "para me justificar na porta do céu".
Com os ganhos, ele coleciona de cavalos, que somaram 300 na fazenda em Sorocaba, a combinações de lenços e gravatas da grife italiana Versace.
Antes de a reportagem sair, Ademar mostra uma cópia (colorida) de uma notícia de 1999. Com uma caneta Montblanc, assinala o trecho: "Gomes teria recebido, adiantados, R$ 500 mil [para defender um homem acusado de matar a namorada com 30 facadas]". Ele mesmo faz a atualização monetária: "Daria mais de R$ 4 milhões hoje em dia". E se despede com um abraço.
Três horas depois, liga para o repórter. "Se quiser dar à matéria o título 'O engraxate que conquistou São Paulo', não me incomodo não, ok?"