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Disfarce de uma sobrevivente
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CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO
Dê um Google no nosso nome.
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Imbuia, sem acento. Verá que a maior parte das páginas está em língua estrangeira. E que a maior parte dos links levará a uma loja de móveis de luxo.
Lá está nossa família, quase toda. Fomos mortas para virar mesas, bancadas, aparadores e todo tipo de mobília num tom nobre que lembra os gringos de madeira de castanheira.
Sobraram pouquíssimas na cidade. Outro dia, houve um seminário sobre o holocausto numa faculdade aqui do lado, dentro do campus da USP. Pensei: também sou uma sobrevivente. Estou na lista de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. Se não há muitas como eu na mata atlântica, imaginem quantas pode haver em São Paulo.
Nossa família era na casa dos milhões na mata paulistana, estima o ambientalista Ricardo Cardim. Mas hoje acho que nós, as sobreviventes, estamos seguras pelo anonimato.
ÁRVORES DE SÃO PAULO |
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Veja o perfil de algumas das mais antigas |
Madame entre árvores, árvore entre madames |
Disfarce de uma sobrevivente |
A última jade atlântica |
A mais alta da micareta |
No ritmo da preguiça |
O triste fim da primeira árvore |
Um pé livre |
Quando alguém liga para o Instituto Butantan e pergunta pelos pés de imbuia, ouve como resposta: "Já não tem mais". Mas tem, sim. Estamos aqui, num desconhecimento que favorece.
As brotoejas na nossa casca também ajudam a disfarçar o quão boa nossa madeira é. Às vezes, ter um pouco de feiúra facilita, ainda que o porte ereto em 20 metros chame a atenção.
Só olhares mais sensíveis me divisam. "É um pé de viço. E olha que para eu, uma pessoa de bicho, notar árvore não é comum", diz Paulo Vanzolini, 89, zoólogo (e autor da música "Ronda").
Não brotamos aqui por acidente. O botânico Frederico Hoehne nos plantou no começo do século 20, quando já minguávamos pela cidade. Vamos ver por quanto tempo mais resistiremos.
Imbuias (Ocotea porosa) - Instituto Butantan. Av. Vital Brasil, 1.500, Butantã, zona oeste de São Paulo
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