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07/10/2011 - 07h00

Leia a transcrição da entrevista de Sergio Habib à Folha e ao UOL

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FÁBIO BRANDT
DE BRASÍLIA

O presidente da JAC Motors no Brasil, Sergio Habib, participou do programa "Poder e Política - Entrevista" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. Esta edição especial foi gravada na sede da JAC Motors em São Paulo, em 6.out.2011. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

JAC Motors anuncia fábrica na Bahia
Veja a galeria de fotos da entrevista

Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:

Sergio Habib - 6/10/2011

Narração de abertura: O empresário Sergio Habib tem 53 anos. Formou-se em engenharia eletrônica pela FAAP e fez pós-graduação em administração de empresas em Harvard, nos Estados Unidos.

Habib construiu carreira no ramo de importação de automóveis nos anos 90. Hoje comanda o Grupo SHC no Brasil, que engloba as atividades comerciais da Citroën, Jaguar, Volkswagen e JAC Motors.

Um dos feitos do empresário foi ter introduzido a Citroën no Brasil. De 2001 a 2008, fez aumentar de 30 para 130 os pontos de venda dessa marca francesa aqui no país.

Neste ano seu desafio foi vender carros chineses da JAC Motors para os brasileiros. Habib abriu 50 concessionárias de uma vez. Reservou 60 milhões de reais para comerciais, com Fausto Silva de garoto propaganda. Barato, o carrinho chinês vendeu 15 mil unidades em 4 meses. Tudo ia bem... até o governo brasileiro aumentar em 30 pontos percentuais o imposto sobre carros importados.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política Entrevista", uma realização da Folha de São Paulo, do portal UOL e da Folha.com.

A entrevista está sendo agora realizada no escritório, na sede da JAC Motors em São Paulo. A entrevista é em São Paulo porque o entrevistado é o presidente da JAC Motors no Brasil, Sergio Habib.

Folha/UOL: Muito obrigado por sua disposição em falar com a Folha de S.Paulo e o UOL. Começo perguntando: essa decisão do governo Federal de aumentar em 30 pontos o imposto sobre produtos industrializados, no caso automóveis importados, afeta e como o seu negócio?

Sergio Habib: Essa decisão afeta profundamente o nosso negócio. Mas não é essa decisão que fez a JAC Motors decidir fazer uma fábrica no Brasil. Na realidade, nós já sabíamos, eu já sabia quando a gente lançou a JAC Motors no Brasil que a gente ia ter que fazer uma fábrica no Brasil rapidamente.

Nós anunciamos a fábrica dia 1º de agosto. Eu venho trabalhando com vários governos estaduais a implementação da fábrica já faz quase um ano. Ou seja, faz muito tempo que eu estou trabalhando neste projeto. E esse aumento de 30 pontos percentuais do IPI não mudou a nossa decisão. A gente já tinha decidido faze a fábrica. Isso não precipitou o nosso investimento.

Folha/UOL: Existe um certo preconceito, na sua opinião, a respeito de empresários que lidam com importação no Brasil? Eu digo preconceito sobretudo por parte da atual equipe econômica, do governo federal, até porque, quando foi tomada a medida, a presidente Dilma chegou a dizer por interpostas pessoas que carros importados poderiam fazer com que o mercado brasileiro fosse alvo de pirataria. Ela estava se referindo aos senhores todos? O que ela queria dizer com isso?

Sergio Habib: Eu não sei o que ela queria dizer. Eu não vi essa entrevista. E às vezes o que a gente lê no jornal não é bem o que a pessoa falou. Mas uma coisa é certa: os carros importados pela Abeiva [Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores] representam 5,8% do mercado nacional. Ou seja, 5,8% não é uma invasão. Os carros importados pela Abeiva vão pagar neste ano [2011] R$ 6 bilhões em impostos e geram 35 mil empregos na rede de distribuição. Fazem mais de 10 anos que o governo não tomava uma medida brusca para carros importados. A última vez que nós tivemos uma medida brusca contra carros importados foi em 95 [1995]. Eu, na época, já era importador da Citroën, a a alíquota de importação foi brutalmente de 32% para 70%. Mas, na época, o Brasil era bem menor que hoje. O nosso PIB era de 800 bilhões de dólares, hoje é de 2,2 trilhões de dólares. Nosso PIB hoje é maior que o PIB da Itália. Nós somos a sétima economia. Na época, o Brasil tinha déficit na balança comercial, hoje tem superávit. Na época, o Brasil tinha dívida externa. Hoje o Brasil é credor externo de 350 bilhões de dólares. E o Brasil não é uma Argentina. Não dá, no Brasil, para mudar a regra do jogo no meio do jogo, simplesmente porque o placar não está do jeito que a gente gostaria, ou algumas pessoas gostariam, que fosse. As coisas no Brasil... o Brasil é um país grande, é um país sério, eu acredito no meu país. E quando a gente quer mudar regra de jogo, primeiro, tem que conversar com todos os setores. Depois, tem que dar tempo para o setor se adequar a uma nova mudança.

Folha/UOL: Mas esse temor de que o Brasil estaria exportando empregos para a China, então, na sua opinião, o governo erra quando diz isso?

Sergio Habib: O que acontece é o seguinte: nos dias de hoje, no mundo moderno, a indústria emprega cada vez menos gente. Vou dar alguns números para você que são impressionantes. A Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores], em 1990...

Folha/UOL: Anfavea que é a associação dos fabricantes de veículos aqui no Brasil.

Sergio Habib: A Anfavea reuniu todas as montadoras de veículos, caminhões, tratores. Ou seja, tudo o que se move em cima de roda, está na Anfavea. A Anfavea, em 1990, tinha 100 mil empregos e fabricava 1 milhão de veículos. Era o que a gente fazia em 1990. Hoje, o Brasil fabrica 4 milhões de veículos. São 4 vezes mais. E a Anfavea emprega 144 mil pessoas. Ou seja, a produção quadruplicou e os empregos diretos foram de 100 mil para 144 [mil]. [Esses] 144 mil empregos, para um país como o Brasil, é um número pequeno. Para vocês terem uma ideia, o Banco do Brasil tem 120 [funcionários], sozinho. O Itaú tem 110 mil [funcionários]. O Pão de Açúcar tem 110 mil [funcionários]. Ou seja, 144 mil empregos, claro que é importante, mas... gente, o Banco do Brasil tem 120 mil e o Itaú tem 110 [mil]. Outro dado interessante é que a Fenabrave [Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotore], que é a associação que distribui esses automóveis fabricados pela Anfavea, as concessionárias elas empregam 360 mil empregos. Isso quer dizer o seguinte: nós temos hoje, no Brasil quase três vezes mais empregos ligados à distribuição do que ligados à fabricação. Claro que, depois, nós temos que somar a indústria de autopeças. Mas isso dá uma ideia que, hoje, a geração de emprego, ela está também muito ligada a serviço, a atender o consumidor. As empresas de serviço geram muito mais serviço do que as empresas que fabricam.

Agora, não tenho nada contra, pelo contrário, eu sou brasileiro, eu acho que a gente tem que incentivar a indústria nacional. A Petrobras, por exemplo: se uma empresa quer fornecer para a Petrobras, ela tem que fabricar no Brasil. E eu sou favorável. Mas o negócio é o seguinte, a regra do jogo é clara. Você quer fornecer para o Brasil, então você tem que fazer o seguinte: primeiro tem que montar uma fábrica. No primeiro ano, você tem que ter, por exemplo, 20% de integração local. No segundo, você tem que ter 30%. No terceiro, você tem que ter 50%. E do quarto ano em diante, você tem que ter 60% de integração local. Se não tiver, paga multa para a Petrobras. Ótimo, a regra do jogo é clara. Quando você entra numa licitação da Petrobras, você sabe que, se você é um fornecedor estrangeiro, e você quer vender para a nossa Petrobras, vai ter que fabricar no Brasil, mesmo que for um pouco mais caro. O que não pode é mudar a regra do jogo, violentamente, no meio do jogo.

Folha/UOL: Esse seria o regime apropriado, no seu entender, o regime automotivo apropriado para empresas como a JAC Motos, por exemplo? Esse escalonamento de integração nacional.
Sergio Habib: O que acontece é que, da maneira como a medida foi escrita, ela não permite a implantação de novas marcas no Brasil. O Brasil virou o clube do bolinha. Costumo dizer: quem está aqui, fica. Quem não está, não consegue chegar. Porque uma nova marca chegando no país, ela precisa de duas coisas, qualquer nova marca. Primeiro, ela precisa montar uma rede de distribuição. E, segundo, ela precisa ter um processo de integração nacional paulatino. Mas eu estive no MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior], no ministro do Comércio e Indústria e o governo está aberto a novos projetos de implantação e nós estamos apresentando nosso projeto. E está aberto a fazer modificações.

Basicamente, qualquer marca que se implantar no Brasil, precisa de um processo de integração local paulatino conforme os anos passam. Então, no primeiro ano, 20%, 25%. Segundo ano, 35%. Terceiro ano 50%. E, a partir do quarto ano ou quinto ano, aí sim, ter 65% de integração local. Isso é possível.

A segunda coisa: uma empresa para se implantar no Brasil, ela tem primeiro que ter uma rede. Porque uma montadora, uma fábrica quando ela está lá, ela custa caro. Ela tem que produzir praticamente, instantaneamente, os seus volumes de carro. Tem que ter rede para vender. Uma fábrica não pode começar e fabricar 200 carros por dia. Ela tem que começar e já fazer, imediatamente, 500, 600 carros por dia. Senão ela não é viável.

Todas as montadoras que se implantaram no Brasil no final da década de 90... Então vamos lá, você tem a Honda. A Honda começou importando carros durante 6, 7 anos e abriu a montadora. A Toyota importou carros durante 7,8 anos e abriu a montadora. A Renault importou carro durante 8 anos e abriu a montadora. A Peugeot mesma coisa. E a Citroën da qual eu fui presidente, nós importamos carros durante 10 anos. Em 2001, abriu nossa fábrica. E hoje essas montadoras estão todas aqui, gerando emprego, gerando tecnologia, talvez não o suficiente, mas gerando alguma tecnologia. Então é um processo normal. Nós da JAC Motors, nós vamos importar carros durante 2 ou 3 anos. O tempo da nossa fábrica estar operando. Mas a decisão já estava tomada [antes do o governo aumentar imposto de importação para carros produzidos fora do Mercosul].

Folha/UOL: O sr. esteve recentemente na China e também em Brasília. Na China, falou com os dirigentes da JAC Motors na China e, em Brasília, falou com integrantes do governo. Com quem o sr. falou nesses lugares e que tipo de decisão foi tomada depois desses seus contatos?

Sergio Habib: A JAC Motors é uma estatal. Na China eu falei com o governador da província... A JAC Motors é uma empresa de capital misto, um pouco como a nossa Petrobras. Ela é uma mistura de capital estatal, 75%, e 25% flutuam na bolsa de Xeizen, que é uma cidade no sul da China. Então eu falei com o governador, é o acionista da empresa. E eu falei com os presidentes da empresa, tentei explicar as medidas, e eu expliquei que eu ia tentar fazer junto com o governo brasileiro algumas alterações que permitissem a implantação da nossa fábrica.

Folha/UOL: O que eles disseram?

Sergio Habib: "Vamos esperar". Eles disseram o seguinte: vamos esperar que você consiga fazer essas modificações e nós estamos dispostos a investir no Brasil. Nós estamos dispostos a investir no Brasil.

Folha/UOL: E em Brasília, que tipo de sinal objetivo o senhor obteve do governo sobre essa sua intenção de instalar a fábrica?

Sergio Habib: Que o governo, apresentando um projeto completo no MDIC, está disposto a estudar o que precisa ser feito para permitir a implantação de novas marcas no Brasil.

Folha/UOL: O sr. vai apresentar esse projeto nesta sexta-feira, 7 de outubro [de 2011]. O sr. poderia dizer em linhas gerais como será esse projeto dessa fábrica da JAC Motors no Brasil?

Sergio Habib: A primeira característica da nossa fábrica é que nós, o grupo SHC, que é brasileiro, nós vamos ter 80% da fábrica.

Folha/UOL: De um valor total de quanto de investimento?

Sergio Habib: R$ 900 milhões.

Folha/UOL: Ao longo de quanto tempo?

Sergio Habib: 2, 3 anos. Então o que acontece é o seguinte: é um investimento de R$ 900 milhões. Nós, grupo SHC, vamos ter 80% do capital, e os chineses vão ter 20% do capital. Então é a primeira montadora de carro de volume, abaixo de R$ 40 mil, onde nós vamos ter uma empresa de capital nacional, 80% de capital nacional. Essa é a primeira coisa. Isso já está acertado com os chineses.

Folha/UOL: O seu grupo tem capital próprio? O sr. tem que capitar no mercado esses recursos para investir esses 80% dos R$ 900 milhões?

Sergio Habib: Não, uma parte vai ser recursos próprios e uma boa parte vai ser financiamento com BNDES e esse tipo de banco. Como fazem as montadoras estrangeiras quando investem no Brasil. As montadoras estrangeiras investem no Brasil, mas pegam dinheiro do BNDES. Para você ter uma ideia, no ano passado [2010], o setor automotivo como um todo remeteu para o exterior 4,2 bilhões de dólares de remessa de lucro. E investiu no Brasil, o setor automotivo, 450 milhões [de dólares]. Só. Com 450 milhões [de dólares] você não faz uma fábrica.

Isso quer dizer o seguinte: as próprias montadoras estrangeiras quando investem no Brasil utilizam os bancos de fomento, de desenvolvimento, que a gente tem no Brasil. Não trazem dinheiro de fora. E este ano [2011], essas mesmas multinacionais que fabricam carros no Brasil remeteram para o exterior junto com as empresas de autopeças de capital estrangeiro 3,16 bilhões de dólares em 7 meses. 3,16 bilhões [de dólares] de remessas de lucro em 7 meses. Dados do Banco Central.

A totalidade de carro importado na China é 300 milhões. Então funciona assim: os carros chineses, que competem com a fabricação nacional são 300 milhões de dólares de importação. E a remessa de lucro para o exterior das multinacionais que fabricam automóveis no Brasil e dos fabricantes multinacionais é 3,16 bilhões [de dólares]. Isso dá uma ideia do que está acontecendo no Brasil.

Folha/UOL: Agora, voltando para o projeto da empresa da indústria. O sr. disse que são R$ 900 milhões em investimentos...

Sergio Habib: R$ 900 milhões em investimentos, 3.500 empregos diretos, 80% de capital nacional, 100 mil carros por ano...

Folha/UOL: E qual modelo o sr. vai produzir no Brasil, nessa fábrica, a expectativa...

Sergio Habib:...a expectativa é fazer um carro abaixo de R$ 40 mil.

Folha/UOL: ...que é esse carro pequeno que já é vendido aqui, importado da China?

Sergio Habib: Não, não seria o J3.

Folha/UOL: Não seria o J3?

Sergio Habib: Não. Seria um outro carro. Um carro diferente do J3. Nós já estamos, eu já estou trabalhando no projeto desse carro, mas... Não posso comentar, mas vai ser um carro diferente do J3, muito mais moderno que o J3, porque ele vai ser lançado daqui 3 anos. 2014 é a data de abertura da fábrica. E na nossa fábrica nós vamos ter um centro de tecnologia, nós vamos ter um departamento de estilo, onde nós vamos desenhar os carros para os brasileiros. Eu já estou começando a montar esse centro de...

Folha/UOL: Onde vai ser instalada essa fábrica?

Sergio Habib: Nós estamos com negociações muito adiantadas com o governo da Bahia.

Folha/UOL: Por que na Bahia?

Sergio Habib: Por várias razões. Uma delas é que eu tenho casa em Trancoso, eu gosto muito com a Bahia. Eu tenho uma ligação sentimental com a Bahia. Eu gosto muito da Bahia. E é importante, ligação... Muitas vezes, homens de negócios fazem negócios por razões, às vezes, irracionais. O fato é o seguinte: eu gosto muito da Bahia. Eu tenho casa na Bahia. Nós temos um projeto social muito grande, a gente tem, a nossa empresa tem 1.800 crianças que estudam completamente de graça numa região muito pobre de Trancoso, onde as crianças estudam em período integral com aula de música, aula de judô etc. Então eu tenho uma ligação sentimental com a Bahia.

A segunda [razão para instalara a fábrica da JAC Motors na Bahia] é que o Nordeste está crescendo muito. Nos últimos quatro anos, o mercado de automóveis no Brasil cresceu 44%. São Paulo cresceu 15%. Salvador cresceu 65%. Uma estatística simples: o mercado hoje, Salvador mais Recife, é maior que Colômbia. Salvador mais Recife é maior que Colômbia. O mercado de automóveis, Salvador hoje é a terceira maior cidade do Brasil. O mercado de Salvador hoje é uma vez e meia o mercado de Porto Alegre. É metade do mercado do Rio.

Folha/UOL: Essa é uma das razões. Agora, o governo do Estado da Bahia está oferecendo algum incentivo, alguma facilidade para a
instalação da fábrica lá?

Sergio Habib: Sim. Vários governos oferecem incentivos. A gente viu agora que o Paraná acabou de oferecer incentivo fiscal para a Renault aumentar os investimentos em Curitiba. Eu conversei com vários Estados. Nós temos incentivos fiscais na Bahia. Mas o nosso projeto é um projeto para 30, 40 anos. Incentivo fiscal tem uma data para começar, uma data para acabar.

Folha/UOL: Onde vai ser [a fábrica] fisicamente?

Sergio Habib: Vai ser no Polo Industrial de Camaçari.

Folha/UOL: Já tem um local designado? O sr. já visitou o local?

Sergio Habib: Nós temos um local designado. Nós sabemos que vamos fechar nesse local. É próximo à fábrica da Ford. A Bahia já tem lá um polo industrial em Camaçari. E vai ser lá perto.

Folha/UOL: Essa decisão de fazer a fábrica depende necessariamente de uma revisão da medida que aumentou o IPI ou não?

Sergio Habib: Depende. Sem a revisão [da medida] não dá para fazer a fábrica. Mas eu estive no MDIC, no Ministério de Comércio e Indústria, e o governo está aberto a fazer as modificações necessárias para permitir que novas marcas invistam no Brasil, criem empregos industriais e tecnologia no Brasil.

Folha/UOL: Que tipo de revisão o sr. considera desejável para manter esse seu plano de instalação da fábrica?

Sergio Habib: Qualquer montadora que se instala em qualquer país, precisa ter duas coisas. Primeiro: integração local que aumente com o tempo. Não dá pra começar com 65% [de componentes locais na fabricação do produto final]. E a segunda coisa, condições para criar a rede. Porque a fábrica quando está operando, ela já tem que ter rede. Então, da maneira como nós estamos, o nosso crescimento no Brasil está comprometido. Nós vamos continuar vendendo, nós vamos continuar crescendo um pouco. Mas em condições econômicas muito ruins. Não dá para crescer muito. Não dá para fazer muita propaganda.

Eu diria que a gente estava investindo, a gente investiu neste ano R$ 100 milhões em propaganda. Com essa lei, da maneira como está, no ano que vem nós vamos investir R$ 30 [milhões], R$ 40 [milhões] de propaganda. Ou seja, as mídias, Rede Globo, Abril, jornais, com essa medida estão perdendo R$ 60 milhões de verba. E eu digo para você: esses R$ 60 milhões não vão ser reinvestidos por outras montadoras. Simplesmente é dinheiro que se perde no Brasil.

Folha/UOL: Mas voltando ao aspecto específico da medida do IPI. Que tipo de alteração objetivamente o sr. acha que seria desejável de imediato no seu caso?

Sergio Habib: Qualquer marca que chega no Brasil precisa de duas coisas. A primeira é condições econômicas de implantar a rede. Ou seja, nós precisamos ter uma condição econômica que nos permita desenvolver a rede e criar emprego. Nós no grupo SHC, na rede JAC, nós temos 2.500 empregos diretos e 50 e poucas concessionárias.

Folha/UOL: Então o sr. acha que é necessário que, no caso da JAC, que vai se comprometer a construir uma fábrica no Brasil, que volte a situação anterior, sem esses 30 pontos de aumento de IPI nesse período de implantação da fábrica? É isso?

Sergio Habib: Nós precisamos de condições econômicas para implantar. Ou seja, nós precisamos voltar a pagar o IPI que a gente pagava antes, com compromisso de investimento. E nós precisamos... Isso não é suficiente. Nós precisamos de um prazo para realizar a integração local e chegar a 65% de conteúdo nacional

Folha/UOL: O sr. disse que o prazo para 65% de integração nacional seria de quantos anos? 4 anos?

Sergio Habib: Ao redor de 4 anos, que é o tempo que uma fábrica leva para se implantar.

Folha/UOL: E o sr. sentiu do governo alguma receptividade por essa sua proposta?

Sergio Habib: Eu senti do governo uma receptividade em mudar e adequar o decreto que foi feito para permitir novos players. Não é JAC Motors não. É qualquer novo player que queira investir no Brasil.

Folha/UOL: O que garante para os integrantes do governo, digamos, que depois depois de um prazo que se dá para uma empresa que vai se instalar com IPI cobrado igual ao das outras que já estão aqui, que essa fábrica vai de fato ser instalada? Se ela não for instalada depois de dois ou três anos o que poderia acontecer? Uma multa sobre essa empresa?

Sergio Habib: Eu... O que eu sei é o seguinte: o grupo SHC, nós temos cinco mil funcionários. Nós vendemos, esse ano [2010] nós vamos vender, entre carros novos e carros usados, 120 mil carros. Nós somos o maior distribuidor de automóveis no Brasil.

Folha/UOL: Qual o faturamento anual do grupo [SHC]?

Sergio Habib: Nós não declaramos. Mas é fácil fazer a conta. A gente vende...

Folha/UOL: Faz a conta para a gente.

Sergio Habib: Não, não, não, eu não declaro. Nós vamos vender esse ano 80 mil carros novos. Nós vendemos um carro a cada dois minutos. Nosso grupo vende um carro a cada 2 minutos. Nós temos concessionárias de Poto Alegre a Belém. E de Campo Grande a Vitória. Ou seja, nós cobrimos o território nacional inteirinho. Nós temos hoje quase 100 concessionárias. Quase 95 concessionárias. Então nós somos um grupo sério, somos uma empresa grande.

Folha/UOL: A instalação da fábrica, só pra gente deixar bem claro, se o governo não fizer nenhuma mudança, inviabiliza a instalação dela?

Sergio Habib: Se o governo não fizer mudança, nós não podemos fazer a fábrica. Mas eu te digo. Eu estive lá. Eu estive em Brasília. Eu falei com o governo, o governo está disposto a estudar mudanças para permitir a implementação de novos investimentos.

Folha/UOL: Deixe eu fazer uma pergunta de ordem mais conceitual, histórica. Porque países como Coreia do Sul e, agora, China, conseguiram desenvolver uma indústria automobilística genuinamente nacional e o Brasil não?

Sergio Habib: Erro no Brasil foi feito 50 anos atrás, quando fizeram a GEIA, que era o Grupo Executivo da Indústria Automobilística de Kubitschek [Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil de 1956 a 1961]. O que aconteceu foi o seguinte: em 1956, quando o Kubitschek decidiu trazer a indústria para o Brasil, ele na época não exigiu que as montadoras tivessem sócios brasileiros. Muito interessante essa pergunta. O que ele exigiu é que eles comprassem peças de fornecedores genuinamente brasileiros. E essa lei criou campeões nacionais. Como, por exemplo, Amortecedores Cofap, terceira fábrica mundial de amortecedores. A Metal Leve, terceira fábrica mundial de pistões e anéis. Freios Varga, que foi a segunda maior fábrica de equipamentos de freio do mundo. Só acontece que, com o tempo e com as crises, a Cofap foi vendida para a Magneti Marelli, uma multinacional. A Metal Leve foi vendida para a Mahle, outra multinacional alemã. E, com o tempo... hoje quem faz freio no Brasil é a Bosch. Ou seja, com o tempo, esses campeões nacionais que fabricavam autopeças foram desaparecendo. Foram comprados por multinacionais.

No nosso caso, nós somos a primeira montadora de capital 80% nacional. Por isso que nós vamos montar centro de pesquisa, centro de estilo. Por exemplo, o nosso carro flex, nós já estamos desenvolvendo isso, ele vai ter um sistema de partida frio sem gasolina, com pré-aquecimento do bico injetor. Nós somos a primeira marca no Brasil a ter isso.

Folha/UOL: O sr. acha que, possivelmente... essas mudanças na decisão sobre o IPI vão demorar um pouco para serem realmente efetivadas. Quanto tempo tem a JAC Motors de estoques para manter suas vendas nos preços anteriores?

Sergio Habib: Nós não estamos aumentando nossos preços. Nós temos estoques suficientes, eu diria, para várias e várias e várias semanas. Eu não falo quanto a gente esteja...

Folha/UOL: ...qual o número de unidades já vendidas pela JAC Motors no Brasil desde o início da operação que foi em março?

Sergio Habib: Nós lançamos a JAC Motors em março. Nós estamos vendendo, mais ou menos... Aliás, exatamente três mil carros por mês desde então. Nós temos 1% do mercado brasileiro.

Folha/UOL: E essa operação agora junto com a Tata, a indiana [que produz o Nano]. Qual é a expectativa real de importar veículos da montadora indiana, do grupo Tata?

Sergio Habib: O grupo Tata é um grupo enorme, fatura 70 bilhões de dólares, é um grupo muito diversificado na Índia. Eu estou conversando com eles já faz mais de um ano. Mas nós não temos absolutamente nada acertado. Nós estamos testando uns carros da Tata no Brasil. A Tata tem o Nano. A Tata fabrica 400mil caminhões por ano. O mercado brasileiro é de 170 mil caminhões. Mas com esse decreto parou tudo. Eu estou indo para a Índia agora nesses próximos dias para tentar explicar para eles o que o governo fez, porque eles lá pararam absolutamente tudo.

Folha/UOL: O sr. falou que vai para a Índia nesses dias. Eu sei que o sr. viaja em geral com os aviões corporativos que eu acho que são do grupo. Como o sr. tem viajado? O sr. tem um avião que...

Sergio Habib: Não. Às vezes sim, às vezes não. Muitas vezes eu vou via Dubai pela [diz o nome da companhia].

Folha/UOL: Nessa viagem para a China, por exemplo, recente que o sr. fez, o sr. foi com avião do seu grupo?

Sergio Habib: Não, não, não. Nós fomos via Dubai.

Folha/UOL: Via Dubai.

Sergio Habib: É.

Folha/UOL: Como é que o sr. decide se vai com o avião do grupo ou se vai pela...

Sergio Habib: Depende, depende...

Folha/UOL: No Brasil também o sr. usa o transporte executivo da sua empresa?

Sergio Habib: Depende. Às vezes a gente usa o avião executivo da empresa, às vezes não.

Folha/UOL: Eu queria fazer umas perguntas de ordem mais geral agora. Até sobre política. Eu li uma nota que o sr. estava se integrando a um grupo que vai pensar programa de governo, ter ideias, para a campanha do candidato Gabriel Chalita [do PMDB] à Prefeitura de São Paulo. O sr. vai ajuda-lo na campanha do ano que vem se ele vier a ser o candidato do PMDB a prefeito de São Paulo?

Sergio Habib: Eu me filiei ao PMDB. Eu acredito no projeto do Gabriel Chalita, do professor Gabriel Chalita para São Paulo. Eu acho que a gente tem muita coisa para melhorar na nossa cidade, eu nasci em São Paulo, tenho orgulho de ser paulistano, amo minha cidade e eu acho que o Gabriel pode fazer uma grande campanha e ser um grande prefeito para nossa cidade. Tenho orgulho de trabalhar nesse projeto junto com o professor Chalita.

Folha/UOL: O sr. já foi filiado a algum partido político antes?

Sergio Habib: Não.

Folha/UOL: Foi a primeira vez? Quando é que foi a sua filiação?

Sergio Habib: Ah [riso], essa semana.

Folha/UOL: É mesmo?

Sergio Habib: Mas porque eu quero ajudar o professor Chalita a ser o nosso prefeito. Vai ser um grande prefeito.

Folha/UOL: Em processos eleitorais políticos passados. Não sei se o sr. poderia me responder. Em quem o sr. votou para governador, para presidente da República em últimas eleições?

Sergio Habib: Eu respondo. Eu votei para o Alckmin [Geraldo Alckmin, do PSDB, governador de São Paulo eleito em 2010] e para a Dilma [Dilma Rousseff, do PT, eleita presidente da República em 2010].

Folha/UOL: Alckmin em 2006 e Dilma em 2010?

Sergio Habib: Não, não. Presidente da República? Lula [em 2006] e Dilma [em 2010]. Eu gosto muito do Lula. Eu gosto muito da Dilma. Eu acho que ela tomou... o governo dela tomou uma medida muito brusca, mas eu gosto muito da Dilma, eu gosto muito do Lula...

Folha/UOL: ...mas qual é a diferença do PT no plano federal e do PSDB no plano estadual? Alckmin é do PSDB.

Sergio Habib: No Brasil eu voto em pessoas. Eu gosto do Lula, eu gosto da Dilma, eu gosto do jeitão que ela tem de trabalhar. Eu também sou uma pessoa enérgica. Admiro a vida que ela teve. E no caso de São Paulo eu acho que o Alckmin é um governador muito sério. Da mesma maneira que eu acredito que o professor Chalita é a pessoa mais preparada para fazer um grande governo na nossa Prefeitura em São Paulo.

Folha/UOL: O sr. já em campanhas ou eleições passadas fez contribuições a políticos ou a candidatos?

Sergio Habib: Não. Eu nunca achei que tivesse um candidato com quem eu devesse de fato me identificar. Eu me identifico muito com o professor Chalita, foi secretario de Educação durante oito anos [do Estado de São Paulo]. Eu tenho um projeto de educação muito grande em Trancoso com quase dois mil alunos. E nós vamos fazer uma grande campanha e nós vamos ter um grande prefeito em São Paulo.

Folha/UOL: Uma pergunta que tem relação também com política. No Brasil sindicatos são muito fortes, desde o final da ditadura militar se fortaleceram. Aqui há uma pressão grande dos sindicatos sobre as empresas, sobretudo no setor automobilístico. Na China não é bem assim. A JAC Motors em se instalando no Brasil, como vai se relacionar com os sindicatos no Brasil?

Sergio Habib: A JAC Motors é uma empresa brasileira. Controlada 80% pelo grupo SHC. Eu acho sindicato extremamente importante. Eu acho que o sindicato cria uma balança, eu não tenho problema nenhum com nossos cinco mil colaboradores. Eu acho sindicatos muito importantes para o desenvolvimento do nosso Brasil. E eu concordo com o que o Lula falava. O Lula sempre disse: quando a gente transfere renda para gente de baixa renda, ele consome. Quando a gente passa renda para gente que tem renda alta, ele poupa. Então o fato de transferir renda e distribuir renda no Brasil, faz o nosso Brasil crescer. Para você ter uma ideia, no primeiro ano do governo Lula, o mercado de automóveis era um milhão e quinhentos mil carros. Hoje o mercado é três milhões e meio de carros. Oito anos depois. Nos oito anos do governo Lula, dois milhões de carros a mais são vendidos todo ano. O brasileiro em média usa um carro 32 meses. Isso quer dizer o seguinte, tem cinco milhões e meio de brasileiros comprando carro agora que oito anos atrás não compravam carro, andavam de ônibus. Isso foi pela distribuição da renda, o Brasil ainda tem uma renda muito desigual, mas isso é uma coisa que melhorou muito, que foi uma distribuição de renda melhor, mais distribuída para o nosso país. Isso que está fazendo o Nordeste crescer. O Nordeste cresce quase a taxas chinesas.

Folha/UOL: Deixa eu fazer uma pergunta sobre meio-ambiente. A indústria automobilística no mundo virou um pouco vilã sobre toda essa discussão a respeito de aquecimento global. No caso da sua empresa, haverá ou há alguma preocupação em desenvolver algum meio de transporte mais limpo do que o automóvel?

Sergio Habib: O que acontece com o automóvel é o seguinte: o automóvel a álcool ele devolve, ele absorve mais carbono no processo inteiro do que ele gasta. Isso quer dizer o seguinte: o carbono que o álcool tira da atmosfera para crescer é mais... ele tira mais carbono da atmosfera do que o automóvel depois quando for andar. Ou seja, o carro a álcool, ele é ecologicamente um carro que é... que se chama de carbono neutro, o carro a álcool. Carro elétrico no Brasil...

Folha/UOL: Há divergências sobre isso. Porque, por exemplo, no processo de fabricação do álcool nas indústrias, se gasta é... combustível fóssil.

Sergio Habib: Os estudos que eu tenho mostram que quando você pega a cana, todo o álcool que a cana tira, todo o carbono que a cana quando cresce tira da atmosfera é menos do que o processo de coleta, industrialização, distribuição o carro a álcool andar e andar com álcool. Ou seja, o carro a álcool é uma solução ecológica fantástica, cria mais de dois milhões de empregos no Brasil e para o Brasil eu não acredito em carro elétrico.

Folha/UOL: Não acredita por quê?

Sergio Habib: Carro elétrico no Brasil é impossível. A primeira coisa...

Folha/UOL: Por quê?

Sergio Habib: Pelo seguinte: primeiro, nossa energia elétrica, que graças a Deus, e ao Sol e à água e ao nosso país, ela é toda a base de energia hidráulica. A energia elétrica brasileira, 90% dela é elétrica. Só que acabou energia hidráulica. Energia hidráulica no Brasil acabou. Nós temos mais duas grandes barragens que nós vamos fazer no Amazonas e depois acabou. Se você tiver um carro elétrico, e você precisa ter uma térmica para produzir energia elétrica, a térmica está gastando com petróleo do mesmo jeito, ou carvão. Essa é a primeira razão. A segunda, é que você precisa criar uma distribuição de energia elétrica nas cidades... Por exemplo, quando nós abrimos nosso escritório aqui, esse escritório aqui onde nós estamos é em São Paulo, gente. Nós ficamos seis meses com gerador. Porque a Eletropaulo [empresa de energia de São Paulo] não tinha condição na nossa rua de puxar um cabo que aguentasse a energia elétrica que a gente consome. É um escritório para 450 pessoas. Ficamos seis meses. Nós temos concessionárias da JAC Motors, que a gente abriu, em Salvador, em Curitiba, em... tem mais algumas cidade, em São Paulo, seis meses depois ainda tem gerador porque a empresa distribuidora de energia elétrica não conseguiu ligar. Então o Brasil teria que mudar toda a estrutura elétrica das cidades para você poder puxar carga... Um prédio, por exemplo, você praticamente tem que por um prédio abaixo. Você tem que quintuplicar a entrada de energia elétrica, eu sou engenheiro eletrônico, você tem que quintuplicar a entrada de energia elétrica para carregar o carro elétrico dos moradores que moram lá. E o Brasil tem álcool. Nós somos o único país do mundo que tem duas colheitas por ano, nós já consumimos mais álcool do que gasolina. E esse projeto que começou lá atrás e foi desenvolvido de novo no governo Lula é um projeto maravilhoso. Cria emprego, ecologicamente neutro. Uma maravilha, carro a álcool.

Folha/UOL: Voltando no começo agora: se, digamos que demore um pouco a negociação com o governo que o sr. está empreendendo sobre a volta do IPI ao que era. Quanto tempo o sr. acha que consegue manter suas atividades em curso aqui?

Sergio Habib: Nós vamos manter nossas atividades em curso. Nós vamos continuar importando os nossos carros, vamos continuar vendendo os nossos carros, oferecendo uma relação custo benefício fantástica para o consumidor. Eu recebo e-mail de consumidor, no fale com o presidente, eu leio quase todos. São mais de 300 por dia, de consumidor que fala: "levei meu carro para fazer a revisão de 15 mil quilômetros, faço 900 quilômetros de gasolina com um tanque, gastei R$ 120 na minha revisão. Adoro meu carro". Isso não vai mudar. O que acontece é que nós vamos estar em condições econômicas péssimas até o governo poder avaliar o nosso projeto e tomar as medidas. Mas eu acredito que, da mesma forma como o governo foi muito rápido para tomar uma medida restritiva, ele também vai ser muito rápido para tomar uma medida desenvolvimentista, que permita a criação de emprego no Nordeste do nosso país.

Folha/UOL: A medida foi mais ideológica ou econômica?

Sergio Habib: Ideológica. Não tinha nenhuma função econômica. Os carros importados que concorrem com os carros fabricados no Brasil representam 3,3% do mercado local.

Folha/UOL: Mas como é possível se a equipe econômica é praticamente a mesma do governo anterior. O ministro da Fazenda é o mesmo. Como não tomou essa medida antes e tomou agora?

Sergio Habib: O que acontece é o seguinte: primeiro, antigamente não tinha carro chinês no Brasil. Os carros chineses estão incomodando as montadoras, as multinacionais que estão implantadas no Brasil. A China tem custos de produção baixo. Mas, por exemplo, não é só... eu vou dar um exemplo: a nossa fábrica no Brasil está orçada, a construção do galpão de 150 mil metros quadrados, o projeto está pronto, a construção do galpão de 150 mil metros quadrados é mais ou menos R$ 1 mil, R$ 1,1 mil o metro quadrado construído. Na China, a JAC Motors está fazendo uma fábrica exatamente como a nossa na China, porque eles crescem muito lá, eles fazem fábrica o tempo todo, na China o mesmo galpão custa R$ 400 o metro quadrado. R$ 400 o metro quadrado. E operário que trabalha no galpão, que faz o galpão na China, ele ganha R$ 400. O nosso, ele ganha R$ 800, R$ 900. Então não é só mão de obra. Por exemplo, a carga tributária lá em cima de um trabalhador é 25%. Aqui é quase o dobro. O concreto no Brasil, concreto não dá para exportar, gente. O concreto quando exporta vira pedra. O concreto no nosso país custa três vezes mais caro que o concreto na China. O aço na China feito com nosso minério de ferro, da Vale do Rio Doce, que vai até lá, custa metade do aço aqui. Então a China tem uma estrutura onde o aço metade daqui. O concreto custa um terço do que custa aqui. A mão de obra custa 60%. Definição não é mão de obras, são outras coisas.

Folha/UOL: Essa medida que o governo tomou de aumentar o IPI, em certa medida não está fazendo efeito? Veja só, nós estamos falando aqui, o sr. vai apresentar agora nesta sexta-feira um plano concreto já de construção de fábrica. Será que se o governo não tivesse aumentado o IPI, o sr., os integrantes da JAC Motors da China não teriam corrido menos para fazer a fábrica?

Sergio Habib: Não! Nós já depositamos um projeto no MDIC em dezembro do ano passado. Nem tinha lançado a JAC. Nosso projeto está pronto. Eu comecei o nosso projeto quando... O que acontece com o Brasil é o seguinte: eu estou nesse ramo faz mais de 20 anos, a rede emprega mais gente e utiliza mais capital do que a montadora. Isso é fato. Uma rede para vender 100 mil carros, tem 12 mil empregos diretos. Na rede. Uma fábrica para vender 100 mil carros ela tem 3.500 empregos. A rede para vender esses 100 mil carros, com o preço dos imóveis atuais no Brasil, é mais ou menos R$ 2 bilhões de investimento. A fábrica é R$ 900 milhões. O que acontece é o seguinte: eu preciso comprar em real e vender em real. Quando eu anunciei a fábrica em agosto o dólar estava a R$ 1,55. Eu me lembro que jornalistas, como você, me falaram: "mas Sérgio, para que fazer uma fábrica com o dólar a R$ 1,55?". Eu falava o seguinte: "eu preciso fabricar no Brasil, eu preciso ter custo em real, eu preciso ter venda em real". Eu não posso ter 12 mil empregos, R$ 2 bilhões de investimentos por empresários brasileiros na rede dependendo de alíquotas...

Folha/UOL: ...taxa do dólar...

Sergio Habib:...taxa do dólar. Eu já vi o dólar a R$ 2,5, eu já vi o dólar a R$ 1,6. A R$ 1,85. Não dá para trabalhar desse jeito. Então a gente ia fazer uma fábrica de qualquer jeito para ter custo em real. E preço de venda em real. Não mudou absolutamente nada. Não precipitou absolutamente nada. Eu já estou negociando com o governador da Bahia faz mais de um ano. Antes de trazer a fábrica, a marca para o Brasil, eu já conversava com o governador Jaques Wagner [do PT, da Bahia] e outros governadores. Porque eu sabia que o projeto ia ter que ter uma fábrica no Brasil para garantir estabilidade na regra do jogo, no fornecimento dos carros. Custo em real, venda em real.

Folha/UOL: Muito bem. Sérgio Habib, presidente da JAC Motors, muito obrigado por sua entrevista.

Sergio Habib: Obrigado.

 

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