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Dilma 100 Dias
 
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01/11/2012 - 07h00

Leia a íntegra da entrevista de ACM Neto à Folha e ao UOL

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DE BRASÍLIA

ACM Neto, deputado federal e prefeito recém-eleito de Salvador, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 31.out.2012 no estúdio do UOL em Brasília.

http://www3.uol.com.br/module/playlist-videos/2012/trechos-da-entrevista-com-acm-neto-1351708210832.js

ACM Neto - 31/10/2012

Narração de abertura: Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto, o ACM Neto, tem 33 anos. É filiado ao DEM e foi eleito prefeito de Salvador na eleição de 2012. Assumirá a prefeitura em 1º de janeiro de 2013.

Formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, ACM Neto carrega no nome as mesmas iniciais do avô, Antônio Carlos Magalhães, que morreu em 2007, e do pai, Antônio Carlos Magalhães Jr., dirigente da Rede Bahia, que retransmite a Rede Globo nesse Estado.

ACM Neto atualmente exerce seu 3º mandato de deputado federal, cargo que deverá deixar para assumir a Prefeitura de Salvador. Seu 1º mandato de deputado foi obtido aos 23 anos, na eleição de 2002.

ACM Neto acompanhou de perto a troca do nome de seu partido em 2007, de PFL para DEM, e também a debandada de seus colegas que, em 2011, deixaram a sigla para fundar o PSD.

Em 2005, foi um dos críticos mais duros do governo Lula durante o escândalo do mensalão. Da tribuna da Câmara, chegou a dizer que daria uma surra no petista.

Eleito prefeito de Salvador, Neto, como é mais conhecido, é uma a única estrela DEM com expressão nacional.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha, em Brasília.

O entrevistado desta edição do Poder e Política é o deputado federal, Antônio Carlos Magalhães Neto, do Democratas (DEM) da Bahia, que acaba de ser eleito prefeito de Salvador.

Folha/UOL: Olá deputado, prefeito eleito. Muito obrigado por sua presença.

ACM Neto: Obrigado, Fernando. É com maior prazer que participo dessa conversa.

Folha/UOL: O sr. está em Brasília nessa semana, vai se encontrar com alguém do Governo Federal, com algum líder da oposição? Qual é o objetivo da sua presença aqui em Brasília?

ACM Neto: Bom, primeiro eu tenho que completar o meu mandato de deputado federal antes de assumir a prefeitura. Já iniciei o processo de transição da Liderança do Democratas. Até a semana que vem, eu devo estar me afastando da liderança do partido para me dedicar, principalmente, ao processo de transição da prefeitura.

Folha/UOL: Já vai entregar o seu mandato ou fica até o final do ano?

ACM Neto: Não, eu fico até dezembro. A ideia é cumprir o mandato até o limite.

Folha/UOL: Quem é o seu suplente?

ACM Neto: É o deputado federal Luiz de Deus, da Bahia.

Folha/UOL: Qual partido?

ACM Neto: Democratas também. Pessoa muito qualificada, da região de Paulo Afonso. Eu sei que vai ser um bom deputado. Então, nesta semana, é claro, a gente começou também algumas conversas com deputados, senadores. Há definições importantes para a cidade de Salvador de emendas de bancada para o orçamento desse ano, que eu já quero participar dessa discursão. Portanto, uma agenda de trabalho intenso. E avançando também na composição da equipe de transição aqui em Brasília.

Folha/UOL: O sr. pretende conversar, disse já, com o vice-presidente da República, Michel Temer, até porque o partido dele, em parte pelo menos, lá na Bahia, apoiou o sr. no segundo turno. Pretende conversar também com a presidente Dilma Rousseff?

ACM Neto: Com certeza. Com o vice-presidente da República, eu já tenho uma relação antiga. Nós fomos colegas de Câmara dos Deputados. Eu fui corregedor e vice-presidente da Câmara quando ele era presidente da Câmara. E, no segundo turno, quando eu busquei o apoio do PMDB, eu conversei com o Michel Temer. É claro que ele não teve nenhuma participação, a decisão foi local. Mas eu disse à Michel que eu gostaria que ele fosse uma das nossas pontes aqui em Brasília. Agora, é claro que o diálogo principal nós queremos manter com a presidente Dilma Rousseff.

Folha/UOL: O sr. já requereu uma audiência com ela?

ACM Neto: Não, ainda não. Nós estamos, primeiro, iniciando o diálogo com governador Jaques Wagner, como tem que ser, e, em seguida, vamos abrir o diálogo com a presidente Dilma Rousseff.

Folha/UOL: A minha impressão é que a presidente Dilma Rousseff foi, no mínimo, indelicada numa das participações que teve na Bahia, fazendo citações ao sr. de maneira indireta. Me pareceu um pouco além da conta. Esse tipo de relação ruim na campanha vai atrapalhar daqui pra frente?

ACM Neto: Não, Fernando. Você sabe, eu venho de uma família política. Nasci nisso, estou há 33 anos vivendo e respirando o ambiente político. Já participei de diversas campanhas. Essa foi minha quinta eleição como candidato. E eu sei o que é o processo político. Aquele calor do palanque, do embate. Eu acho que a presidente tinha direito de ir á Salvador, pedir voto para o seu candidato, o deputado Nelson Pelegrino. Mas, no entanto, as declarações da presidente são sempre no sentido de que ela é presidente de todos. Da mesma maneira que agora eu sou prefeito de todos os soteropolitanos, ela é presidente de todos os brasileiros e, consequentemente, de todos os soteropolitanos. Eu tenho certeza que ela vai saber construir uma relação institucional de respeito, de colaboração. Salvador vai receber muitos investimentos do Governo Federal. Já estão previstas obras do PAC. Salvador vai sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Portanto, essa relação de trabalho conjunto da prefeitura com o governo do Estado e com o Governo Federal vai ser uma relação necessária. E, eu disse claramente e quero repetir, para mim, o dia 28 encerrou a disputa e encerrou o embate político. Agora eu sou prefeito de Salvador. O prefeito de Salvador tem outro papel e outras responsabilidades do líder de oposição na Câmara dos Deputados. E, por isso mesmo, eu vou saber construir as pontes tanto com o governador Jaques Wagner como a presidente Dilma Rousseff.

Folha/UOL: O seu discurso é muito conciliador. O seu partido, o DEM, nesta eleição, fez alianças das mais diversas, aliás, como todos os partidos fizeram. Vou citar duas: o DEM ajudou o candidato a prefeito do PT [Washington Luiz] em São Luís do Maranhão e o DEM ajudou o candidato do PSOL [Clécio Luís], que é um partido de extrema esquerda, a prefeito de Macapá, no Amapá. Acabou a oposição no Brasil?

ACM Neto: Não. Eu acho que a circunstância municipal é o que determina as alianças municipais. Veja, por exemplo, que no segundo turno eu tive apoio do PMDB, que é um partido que faz parte da base do governo federal. Mas, só que, na Bahia, ele era oposição ao PT. Então, eu acho que o que determina e determinou as alianças esse ano foram as circunstâncias locais. Isso tem que ser entendido. O Brasil é muito grande. O Brasil tem mais de cinco mil municípios. Você não pode imaginar que vai haver uma verticalização de ponta a ponta na eleição municipal. É importante frisar que, esse ano, não estava em disputa nem o cargo de governador, nem o cargo de presidente. Era o cargo de prefeito.

Folha/UOL: Mas, para quem está de fora da política e olha os partidos, a impressão é de que há uma geleia geral. Ninguém tem uma espinha dorsal mais ou menos reconhecível no país. É desejável que seja assim? Tem como resolver isso?

ACM Neto: Eu acho que tem. E acho, inclusive, Fernando, vou defender o meu partido, a gente vem mantenho uma coerência muito importante nos últimos 10 anos aqui no Congresso Nacional. Eu vou completar 10 anos de deputado, 10 anos na oposição. O Democratas podia ter ido para a base do governo, ter aderido, ter trocado favores, interesses, cargos e não fez. Manteve-se coerente com o veredito das urnas. De ser oposição. Nós temos uma política muito clara dentro do partido de defender governos eficientes, né? De condenar elevação de carga tributária. De apoiar e estimular o investimento privado como maneira de desenvolver a economia. Então, a gente não perde a nossa identidade.

Folha/UOL: Mas, deixe-me falar uma coisa: o Democratas no Congresso, de fato, tem feito oposição ao Governo Federal desde o início do governo Lula. Mas será que por isso até foi punido pelos eleitores? Porque, veja só, estou com os números aqui para prefeitos. No ano 2000, 15,4% dos votos no Brasil para prefeito do Democratas. 15,4%. Em 2004, 12%. 2008, 9%. Agora, 4%. É uma linha descendente brutal para o Democratas.

ACM Neto: É. Vamos fazer aí um corte. Não há dúvida que o fato do Democratas ter ficado na oposição nesses últimos anos gerou uma perda de musculatura. Ponto. Isso é fato. Se o Democratas tivesse optado por ser governo com qualquer que fosse o presidente eleito, teria um número de deputados maior, de senadores, de prefeitos, de governadores.

Folha/UOL: Então onde o Democratas errou para encolher tanto?

ACM Neto: Não, eu não acho que o Democratas errou. O Democratas, de certa forma, pagou o preço da coerência. Pagou o preço de ter decidido ficar na oposição e respeitar a vontade das urnas. E, quando eu digo que é preciso fazer um corte, só para eu completar, não dá para você comparar a eleição de 2008 com a eleição de 2012. Porque no meio disso houve a criação do PSD. E, com a criação do PSD, e com essa brecha que foi aberta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de criação de novos partidos, a migração, a saída, foi uma coisa brutal.

Folha/UOL: Mas a queda começou no ano 2000, muito antes da criação do PSD.

ACM Neto: É evidente. Então, veja que existem duas razões para a queda. A primeira eu já reconheci, que é o fato do Democratas ter optado por ser oposição. E, no Brasil, existe mais ou menos uma coisa assim "Ah, ser oposição é ter problema, é não conseguir sobreviver". Tem gente que acha isso. Eu fiquei 10 anos na oposição e hoje sou prefeito da terceira maior cidade do Brasil.

Folha/UOL: Mas, veja só, essa sua teoria não se aplica, por exemplo, ao PT, que cresceu na adversidade. Durante várias eleições sem ser Governo Federal, sem ser governo de São Paulo, sem ser governo do Rio [de Janeiro], de Minas [Gerais], de nenhum lugar, o PT foi crescendo de eleição a eleição até chegar à presidência da República. E ele não caiu, ele cresceu. Depois que chegou á presidência da República, ele continuou a crescer. No caso do Democratas, ele crescia enquanto foi governo, apoiando o Governo Federal. Quando acabou o Governo Federal que ele apoiava, só caiu. O Democaratas não sabe fazer uma eleição?

ACM Neto: Não, você tem uma diferença substancial. Aliás, algumas. A primeira delas é que o PT tinha liderança, tinha um expoente nacional que disputou todas as eleições presidenciais desde a democratização, que é o ex-presidente Lula. O Democratas não foi capaz de projetar quadros seus para disputar as eleições nacionais. Até tentou, mas não conseguiu. Eu lembro de Luís Eduardo, que era uma aposta do partido e acabou falecendo prematuramente, depois Roseana Sarney, que foi uma outra aposta do partido, e não deu certo. E Cesar Maia também. Foram três apostas do partido que não ne consolidaram.

Uma outra diferença. O PT tem um histórico de relação com os sindicatos, movimentos sociais etc. que a oposição de hoje não conseguiu construir. E essa é uma autocrítica que as oposições têm que fazer. Eu diria que a minha principal razão da minha vitória em Salvador, qual foi? A minha aliança com o povo. Eu ter buscado esse contato direto, essa comunicação direta com a população de Salvador. Essa tem que ser a receita. Nacional, inclusive. Não dá para ficar preso a um trabalho de oposição congressual. Aqui, dentro do Congresso, PSDB e Democratas vão muito bem na oposição. Mas não conseguiram refletir isso nas ruas.

Folha/UOL: Evidentemente, o sr. é um caso bem sucedido porque ganhou a eleição em Salvador. Agora, o sr. não enxerga nenhum erro na trajetória do Democratas nesses anos todos? Quais são eles?

ACM Neto: Claro, todos. E acabei de reconhecer aqui dois. Primeiro, não teve a capacidade de consolidar um projeto nacional próprio, de apresentar um candidato próprio de presidente da República durante todo esse período, né? E, segundo, não conseguiu criar uma identidade tão forte de comunicação direta com as pessoas. Quando eu consegui fazer isso em Salvador, eu saí vitorioso. Quando eu consegui mostrar claramente o que era possível fazer pela cidade, eu saí vitorioso. E assim ocorreu em outras cidades do Brasil já nesse ano, pelo partido. Agora, eu acho que o Democratas... Acho não. É fato. Os números mostram. [O Democratas] saiu maior do que entrou na eleição. Não do que em 2008 por conta do PSD. Agora, se você pegar os números do Democratas antes de outubro deste ano e depois, você vai ver que o partido saiu maior.

Folha/UOL: Foi correto mudar o nome de PFL para Democratas?

ACM Neto: Olha, eu acho que a aquela mudança toda podia ter sido revista. Agora não adianta mais ficar discutindo, né? Qual é a lição que fica disso? Não adianta você mudar a embalagem se você não muda o conteúdo.

Folha/UOL: Foi o que aconteceu na época?

ACM Neto: Olha, o que aconteceu na época foi o que? Você mudou a embalagem, de PFL para Democratas, mas, no entanto, você tinha um partido dividido. E essa divisão acabou eclodindo, agora, com a criação do PSD. Qual é a vantagem do Democratas de hoje, Fernando? O Democratas hoje é um partido unido. É um partido que tem uma linguagem só. É um partido que pensa em conjunto e que tem, hoje, uma relação muito harmônica dos seus principais líderes. Exemplo disso foi o apoio total que eu tive, não só do presidente Zé Agripino, mas de toda a minha bancada na eleição de Salvador.

Folha/UOL: Mas, olhando em retrospecto, aquele episódio foi uma dispersão de energia, cujo custo-benefício, na época, não foi o melhor possível, não é?

ACM Neto: É, mas cuja razão principal, o pano de fundo é que você tinha um grupo de pessoas que queriam deixar de ser oposição e passar a ser governo. O movimento do prefeito Kassab, que mobilizou deputados federais, senadores e até o governador de Santa Catarina [Raimundo Colombo], era em que direção? Abrir um canal para se tornar governo. E nós achávamos que a gente devia manter a coerência e ficar na oposição.

Folha/UOL: Do jeito que as coisas andam, é lícito supor que o Democratas não tem musculatura para imaginar que terá um candidato em 2014 à presidente da República. É certo ou errado?

ACM Neto: É muito difícil o partido preparar, a essa altura, um nome próprio para disputar a presidência. Eu acho que hoje não é um plano prioritário do partido. Não está descartado. Nós não começamos a discutir 2014 e nem vamos começar agora, na ressaca da eleição. Agora, de fato, não existe hoje um nome consolidado para disputar 2014.

Folha/UOL: O sr. fez um compromisso de ficar os quatro anos do seu mandato no cargo, é isso?

ACM Neto: Exatamente, vou ficar os quatro anos.

Folha/UOL: Não sai em nenhuma hipótese para ser candidato a governador ou outro cargo?

ACM Neto: Nada, não há hipótese. Vou cumprir os quatro anos do meu mandato.

Folha/UOL: E quais são as perspectivas de alianças futuras no plano nacional para o Democratas, que sempre se aliou ao PSDB?

ACM Neto: Fernando, eu acho que o Democratas tem que conversar com todo mundo. Eu sempre defendi isso.

Folha/UOL: O que significa? Até com o governo?

ACM Neto: Não era possível que o Democratas ficasse, tá certo, num diálogo único e exclusivo com o PSDB. Isso, inclusive, fez com que o Democratas perdesse muito ao longo do tempo. O PSDB continua sendo um parceiro importante nosso. O PSDB, por exemplo, teve um papel decisivo na minha eleição em Salvador. Reconheço isso. Mas o Democratas tem que conversar com todo mundo. Eu acho que a política é feita na base do diálogo.

Folha/UOL: O que significa todo mundo? Quem é todo mundo?

ACM Neto: A priori, não vejo restrições. É claro que, com alguns partidos, a conversa pode ser mais fluida do que com outros.

Folha/UOL: Cite alguns.

ACM Neto: Por exemplo, nós temos aí um PSB que saiu mais forte das urnas. Por que o Democratas não vai conversar com o PSB? Por que o Democratas não vai conversar com PMDB? Então, eu defendo que [o Democratas] converse com todo mundo. Agora, é cedo para tratar de alianças para 2014. Não dá para falar nisso agora.

Folha/UOL: Agora, prospectivamente então, eu estou entendendo, o sr. acha que o Democratas acha que deve conversar com PSDB, que foi sempre um parceiro, com o PSB, que foi um partido que emergiu um pouco mais forte das urnas, e com o PMDB. Prospectivamente falando, não é descartada, então, uma aliança formal no plano nacional com esses partidos, é isso?

ACM Neto: Eu acho que nesse momento não se deve dar nenhum veredito de que o caminho é esse ou, muito menos, descartar qualquer tipo de diálogo. Está cedo para isso. Esse momento, agora eu acho, do Democratas é de dar apoio, de dar condições para os prefeitos eleitos das principais cidades. Você tem aí Salvador, Feira de Santana, Aracaju, Vila Velha, Mossoró, Barueri. Várias cidades importantes cujos prefeitos foram eleitos pelo Democratas. Esses prefeitos, agora, tem que fazer boas administrações. A prioridade do partido deve ser essa.

Folha/UOL: O sr. está há 10 anos no Congresso. Queria que o sr. fizesse uma análise dos nomes... Enfim, eu sei que é cedo, mas é uma análise prospectiva dos nomes que são sempre citados como possíveis candidatos à presidente em 2014. A presidente Dilma, que pode ser candidata à reeleição. O senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, que pode ser candidato à presidente. E o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, que também pode vir a ser candidato. Como o sr. analisa cada um desses três como possíveis candidatos? Dilma.

ACM Neto: Olha, é natural o tabuleiro estar colocado e esses nomes hoje aparecem. Pode ser que surjam outros nomes. A presidente Dilma, hoje, goza de muita popularidade e vai ser, certamente, um nome muito forte para disputar a reeleição. O sistema político brasileiro acaba prestigiando muito quem está no cargo. Então, a gente já viveu isso.

Folha/UOL: Se fizer um bom mandato.

ACM Neto: Sim, claro. Se fizer um bom mandato, se a economia for bem. Enfim, aí tem uma série de coisas que contribuem. A presidente Dilma jamais vai poder ser descartada como um nome fortíssimo para 2014 não só por ser presidente, mas porque hoje goza de popularidade no país.

Folha/UOL: Aécio Neves.

ACM Neto: Aécio é um dos grandes quadros dessa nova geração de políticos. Acho que o senador Aécio Neves vai, agora, se dedicar mais a percorrer o Brasil, a dialogar com o Brasil. É um quadro qualificadíssimo e pode, sim, pleitear a presidência da República.

Folha/UOL: Mas o arco de alianças possível para ele é um pouco é um pouco estreito, não é? Em termos do número de partidos que possa apoiá-lo..

ACM Neto: Hoje sim. Eu acho, entendeu Fernando, que é muito cedo para você carimbar "Aécio vai ser candidato" ou "Eduardo Campos vai ser candidato". É muito cedo. Hoje, o único quadro mais claro é que é natural que a presidente dispute a sua própria reeleição. É assim o sistema político brasileiro.

Agora, a gente percebe em Aécio o desejo de Disputar, Eduardo Campos tem dado sinais que pode querer ajudar, pode acontecer o surgimento de outros nomes nesse processo. Marina Silva a gente não sabe se vai querer ser novamente candidato ou não. Então, é cedo para carimbar qual vai ser o quadro de 2014.

Folha/UOL: Com certeza é cedo. Agora, como o sr. avalia, prospectivamente porque é cedo, uma eventual candidatura de Eduardo Campos? Qual musculatura ele teria?

ACM Neto: Olha, Eduardo Campos tem, hoje, um trabalho muito consolidado no seu estado, Pernambuco. Conseguiu eleger, já no primeiro turno, o prefeito da capital, Recife, o Geraldo Júlio. Agora, evidentemente, que ele ainda não é uma figura conhecida em todo o Brasil. Eduardo Campos ainda não conseguiu, por exemplo, fincar pés no Sul e no Sudeste, que são regiões fundamentais para uma eleição nacional. Então vai depender muito do trabalho que ele faça nesse próximo ano. Ele vai conseguir se transformar numa figura nacional? Ele vai conseguir colocar o trabalho dele onde hoje ele não entra? São as perguntas. É difícil responder nesse momento. Isso vai depender muito do trabalho que ele faça. Como vai depender do trabalho que Aécio faça e vai depender do trabalho que Dilma faça.

Folha/UOL: O sr. enxerga o Democratas, ou algum óbice para que o Democratas venha apoiar para presidente Aécio Neves ou Eduardo Campos?

ACM Neto: Eu acho que é cedo, viu, Fernando? Evidente que nós temos uma relação histórica com o PSDB, não dá para desconsiderar isso. Aécio é uma pessoa que tem muitos amigos dentro do Democratas. Que tem uma relação histórica com o partido, inclusive em Minas Gerais. Mas ainda é cedo. Primeiro...

Folha/UOL: Mas descartaria Eduardo Campos?

ACM Neto: Não, eu não quero descartar nada agora. Eu não estou descartando absolutamente nada.

Folha/UOL: Então poderia.

ACM Neto: Nós acabamos de sair de uma eleição.

Folha/UOL: Mas então poderia.

ACM Neto: Ô Fernando, nós acabamos de sair de uma eleição para prefeito. Não dá para falar em 2014. Eu quero insistir nisso. Agora, você não pode nem descartar e nem carimbar.

Folha/UOL: Mas nós estamos falando de 2014.

ACM Neto: Mas, veja só, não dá para você, nesse momento, nem descartar, nem carimbar. É muito cedo. Vai ter todo um processo de arranjo político. Vamos ver como é que vão ficar, inclusive, as forças dentro do Congresso Nacional. Em janeiro, aliás, em fevereiro do ano que vem, você vai ter eleição para presidente da Câmara e presidente do Senado. Isso vai ter, de alguma maneira, impacto em 2014. Então, é difícil você carimbar agora quem são os nomes.

Folha/UOL: Mas, o sr. está dizendo que não pode descartar ninguém?

ACM Neto: Ninguém. Eu acho que, nesse momento não se deve descartar nenhuma hipótese.

Folha/UOL: Até apoiar a presidente Dilma, então?

ACM Neto: Ô Fernando, entendo. Todo mundo sabe. O Democratas é um partido que faz oposição no Congresso já há alguns anos. 10 anos fazendo oposição no Congresso. A maioria das alianças que o Democratas fez foi em um campo diferente do PT. Mas nós precisamos aguardar. É preciso ter paciência, é preciso ter calma. Carimbar 2014 agora é temerário. Seria irresponsável, da minha parte, dizer: "O caminho do partido é esse ou aquele". O caminho do partido, primeiro, é aguardar para ver quem serão os candidatos. Você sabe, por exemplo, se Aécio será candidato de fato? Temos que ouvir dele: "Serei candidato, ou não". Eduardo Campos será candidato de fato? Teremos que ouvir dele. E assim com os outros todos.

Folha/UOL: Agora, certamente, o Democratas não vai se abster de apoiar alguém.

ACM Neto: Ah, claro. O partido vai ter uma posição. É natural é que tenha uma posição. E, o seu presidente nacional, o senador José Agripino Maia, vai saber conduzir. Eu tenho muita confiança na força e na capacidade do senador José Agripino de conduzir o partido. Aliás, ele vem fazendo todo esforço possível para manter o Democratas o mais forte dentro das condições, das dificuldades que o partido enfrentou. Eu não tenho dúvidas que ele vai saber conduzir isso.

Folha/UOL: Deixa eu resumir: Então, em 2014... Está cedo isso, acho que todo mundo concorda. Quem está um pouco na política acha que é muito cedo, todo mundo sabe. Mas, 2014, está tudo em aberto ainda para o Democratas.

ACM Neto: Eu acho. Eu acho que, nesse momento, é a única coisa.

Folha/UOL: Esses nomes que foram apresentados podem ser considerados, desconsiderados, não se sabe o que vai acontecer para o Democratas.

ACM Neto: Tudo em aberto. Qualquer veredito agora é precipitado.

Folha/UOL: Agora, daí uma interpretação minha, não é sua: Isso significa que pode ser tanto Aécio Neves ou Eduardo Campos.

ACM Neto: Ou outro nome que até surja, tá certo? Eu acho que é cedo. A gente não sabe quem serão os atores de 2014.

Folha/UOL: Mas, esses dois nomes... Só seria queria deixar isso aí, eu não estou dizendo que o Democratas vai apoiar o Aécio ou o Eduardo, eles não são descartados.

ACM Neto: Eu não quero excluir outras alternativas. Eu acho que a gente não pode reduzir, nesse momento, as alternativas do partido. Nesse momento, pelo contrário, o que o Democratas tem que fazer é ampliar o seu diálogo. É abrir conversa com todo mundo que puder abrir conversa. É procurar ser o mais plural possível. Até para dar condições de ter bancadas fortes em 2014, tanto na Câmara dos Deputados, como no Senado Federal. Então, esse é o momento de não restringir e, sim, de ampliar.

Folha/UOL: Quando que o Democratas vai decidir o seu futuro do ponto de vista institucional. O partido está muito pequeno, agora, no Congresso, não é novidade para ninguém. Ele, certamente, terá dificuldades para fazer mais de 51 deputados em 2014 nas condições atuais. O que significa que, daí, fica fragilizado. Quem tem menos de 10% da Câmara fica fragilizado. Quando o Democratas vai fazer uma análise de conjuntura e decidir se precisa se fundir, convidar alguém para montar uma nova agremiação ou não? Quando essa decisão pode ser tomada?

ACM Neto: Primeiro que o processo de fusão não está na pauta. Não se está discutindo, nesse momento, nenhum tipo de movimento de fusão, de aliança com outros partidos etc. O Democratas tinha um desafio, que era passar pela eleição municipal. Nós entramos nela sem nenhum prefeito de capital. Saímos com dois prefeitos de capital, sendo que um deles no terceiro maior município do país, que é Salvador, tá certo? Conseguimos sair maior do que entramos. Tivemos uma quantidade de votos superior ao que havíamos recebido. Então, o partido venceu esse primeiro desafio pós-PSD, vamos considerar assim. O partido venceu o seu primeiro desafio.

Agora, os outros desafios do partido, quais são? Na minha opinião, prioridade é se estruturar para ter uma boa bancada de deputados em senadores em 2014. Essa é, agora, a prioridade para 2014. Mais do que discutir uma candidatura própria à presidente da República, é isso. E, claro, tentar estimular, aonde for possível, candidaturas ao governo do Estado. Sendo que nós temos agora uma governadora, que é a governadora Rosa Alba, do Rio Grande do Norte, que, naturalmente, vai disputar a reeleição. E outros candidatos a governador que podem surgir.

Folha/UOL: O Democratas poderia ter evitado essa dissidência de Gilberto Kassab com a criação do PSD?

ACM Neto: Fernando, nós tentamos. Eu, particularmente, tentei. Fui ao prefeito Gilberto Kassab, perguntei que condições ele queria para permanecer no partido.

Folha/UOL: Que condições ele deu?

ACM Neto: Ele não deu condições. Porque, no fundo, ele não queria permanecer no partido. Ele queria fazer esse movimento de criar um novo partido e de se aproximar da base do governo. Essa é a razão verdadeira da criação do PSD. Nós chegamos a fazer uma convenção, tá certo, que foi fruto de um acordo, de um entendimento. E toda essa turma que foi para o PSD chegou a compor o Democratas, com o Agripino presidente do partido. Foi um acordo, uma negociação que nós fizemos. Só que, logo em seguida, o prefeito Kassab fez o movimento de criação do PSD. Então, no fundo , ele não quis ficar no Democratas. Porque foi oferecido ao prefeito Kassab, todas as condições para ele ficar no partido.

Folha/UOL: A brecha que foi encontrada pelos advogados que auxiliaram o prefeito Gilberto Kassab estaria à disposição de todos os partidos. Na verdade, de todos os políticos, para criarem novas legendas. Há uma iniciativa no Congresso com apoio de várias cúpulas partidárias para fechar essa brecha. Ou seja: impedir que novos partidos sejam criados nos moldes do PSD. O Democratas é a favor desse projeto que vai fechar essa brecha?

ACM Neto: Fernando, veja, nós aplaudimos a fidelidade partidária quando o Supremo decidiu por ela. Inclusive, eu cheguei a dizer que foi a maior reforma política que o Brasil conheceu nos últimos anos. Feita pelo Judiciário. Na minha opinião foi lamentável a decisão do Supremo de dar espaço para o PSD se constituir e levar com ele o tempo de televisão e o Fundo Partidário. Por quê? Isso abre espaço para uma espécie de mercantilização do tempo de televisão e do Fundo Partidário. Então foi a reforma política ao oposto. Agora, a gente tem que fechar essa brecha, não tem jeito.

Folha/UOL: O Democratas votará a favor desse projeto?

ACM Neto: Nós não discutimos internamente na bancada, mas eu, particularmente, como líder do partido, até o dia em que for líder, vou defender que seja fechada qualquer hipótese de sair aí criando partido a torto e a direito.

Folha/UOL: E algum tipo de cláusula de desempenho, o sr. é a favor?

ACM Neto: Votei a favor.

Folha/UOL: Sim, mas...

ACM Neto: Votei a favor, depois o Supremo considerou inconstitucional, o que o Congresso Nacional aprovou. Eu sou radicalmente a favor. Não é possível que no Brasil existam 30 partidos, é inaceitável isso. Está certo? Não dá para você conviver com um sistema como esse.

Eu trago meu exemplo. Eu fiz aliança em Salvador [com] Democratas e mais quatro partidos. O meu principal adversário teve ao lado dele 14 partidos no primeiro turno e 17, no segundo turno. Se ele tivesse vencido as eleições, a prefeitura estaria hoje toda loteada, fatiada entre os partidos políticos. Quem paga o preço disso? O eleitor.

Folha/UOL: No Congresso agora, o sr. mencionou numa resposta anterior, haverá eleições para presidente da Câmara e do Senado no dia 1º de fevereiro. O Democratas deve apoiar os candidatos naturais, vamos dizer, do establishment do Congresso que são, no caso do Senado, o senador Renan Calheiros pelo PMDB, e, na Câmara, o deputado Henrique Alves, do PMDB também?

ACM Neto: Bom, no Senado, o senador José Agripino como líder do partido, da bancada, naturalmente está participando das conversas e vai falar sobre a posição partidária. Na Câmara, nós ainda não começamos a conversar. Temos uma boa relação com o líder Henrique Alves, acho que é até natural que ele pleiteie isso, mas só que a decisão não foi tomada ainda. Provavelmente, Fernando, eu não serei mais líder no momento em que o partido venha a se pronunciar a essa respeito. Eu devo estar fazendo agora...

Folha/UOL: Mas a sua opinião é qual?

ACM Neto: Não, eu quero conversar com a bancada. Mesmo quando eu fui líder e decidi processos eleitorais internos na Câmara, eu fazia primeiro ouvindo a bancada. Então, eu não posso antecipar. A bancada tem que ser ouvida. E se eu opinar, evidentemente, eu vou opinar de acordo com a vontade da maioria.

Folha/UOL: Como foi possível o Democratas conviver tantos anos com Demóstenes Torres e não perceber as relações impróprias dele com Carlinhos Cachoeira?

ACM Neto: Nós simplesmente não conhecíamos Demóstenes. Da mesma maneira que o Senado Federal não conhecia Demóstenes. Que a imprensa não conhecia Demóstenes. Que o Brasil não conhecia Demóstenes. Todo mundo conviveu com Demóstenes. E todo mundo considerava Demóstenes um sujeito ético, correto. Pelo menos era a tradução do mandato do senador líder, combativo, membro da CPI, membro do Conselho de Ética. Quando surgiu tudo aquilo, foi uma surpresa não só para o Democratas, mas também para todo o Brasil.

Folha/UOL: Esse argumento vale também como explicação para o ex-presidente Lula, que diz que não sabia nada sobre o mensalão também?

ACM Neto: Não, veja só. Eu acho que é um pouco diferente, entendeu, Fernando? Uma coisa é todo um esquema ser construído dentro de um seio de um governo. O presidente Lula dizia que não conhecia, não sabia do mensalão. A CPI não constatou, por exemplo, uma relação direta do ex-presidente da República com o mensalão. Então eu fico preso aos fatos concretos. Você tem a palavra de Lula e uma percepção de que podia ser diferente. No nosso caso, eu garanto a você, ninguém conhecia Demóstenes. Tanto o fato surgiu, o Democratas não titubeou, determinou a expulsão de Demóstenes. Isso fez com que ele saísse do partido e, ao sair do partido, ele perdeu as condições políticas de continuar o seu mandato de senador.

Folha/UOL: Por falar em afastamento de políticos, o Congresso vai conviver por algum tempo, ao que tudo indica, com deputados que foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal. O seu partido... O sr. acha que deve ser apresentado um pedido de cassação imediata desses mandatos políticos?

ACM Neto: Olha, na minha interpretação... Claro que Supremo ainda vai julgar o que precisa ser feito. Na minha interpretação, e eu fui corregedor da Câmara, estudei um pouco isso, a decisão transitada em julgado de perda do mandato por uma instância do Poder Judiciário, ela não tem que ser julgada politicamente pelo Poder Legislativo. Tem-se que fazer um trâmite interno. Mas, na minha opinião, a Câmara dos Deputados através de sua Mesa Diretora, tem que decretar perda do mandato. Ou seja, não cabe o julgamento político. Não cabe análise em Conselho de Ética, não cabe votação no plenário da Câmara. Para mim é apenas um ato formal e burocrático formal e burocrático.

Folha/UOL: Agora, vamos conviver com uma situação anômala, porque o Supremo já condenou os deputados, não é? José Genoíno [que é suplente e pode assumir uma vaga na Câmara em 2012), Pedro Henry, João Paulo Cunha. Já estão condenados. Agora falta a execução da pena. Isso vai demorar, talvez, até um ano. Então durante esse ano, esses deputados vão ficar lá, dentro do Congresso. É correto isso?

ACM Neto: Olha, Fernando. Aí são as coisas da Legislação que a gente tem que encarar. Está certo? O que está previsto pelo regimento interno da Casa, o que está previsto pela Constituição Federal é o trânsito em julgado. Então, se o deputado, na minha opinião, não vai cumprir a pena no Supremo Tribunal Federal, no Poder Judiciário, não sei se a pena já deveria ou poderia se cumprida. Até devesse ser cumprida, mas não sei se poderá ser cumprida pelo Congresso Nacional.

Folha/UOL: Exemplo que o Congresso pudesse dar, já estão condenados.

ACM Neto: Eu acho que, do ponto de vista político, é muito ruim que esses deputados continuem no Congresso. E acho, inclusive, que eles deviam ter consciência disso e sair do Congresso.

Folha/UOL: Mas o seu partido não poderia apresentar um requerimento para que eles se antecipassem ao fato, não sei, uma medida?

ACM Neto: Não adianta fazer uma medida inócua. Tem que ser uma medida que tenha consequência prática, que comungue com o regimento da Casa, que comungue com o Código de
Ética e com a Constituição Federal. Por isso que lhe digo: é preciso interpretar. [De] uma coisa eu tenho certeza: não há julgamento político no Congresso, ponto. Terá que se respeitar a decisão do Judiciário e eles terão que ser cassados. Agora, o momento de aplicação dessa pena é que precisa ser estudado de acordo com a legislação interna.

Folha/UOL: O sr. acha que o Supremo foi na medida no julgamento, extrapolou, ficou um pouco aquém do que deveria ser... Qual é a sua avaliação?

ACM Neto: Eu acho que o Supremo merece a homenagem de todos os brasileiros.

Folha/UOL: Poderia ter ido além, [ou] não, [ou] foi na medida?

ACM Neto: Não, eu acho que foi na medida. Eu acho que o Supremo demonstrou total independência, imparcialidade, tecnicidade na avaliação do mensalão.

Folha/UOL: Duda Mendonça foi absolvido, o sr. acha que foi correto?

ACM Neto: Olha, eu respeito a decisão do Supremo, Fernando. Eu acho que a decisão do Supremo tem que ser validada no seu conjunto porque foi a maioria da Corte que se posicionou. E ficou muito claro que não houve interferência política, não houve interferência externa nenhuma. O Poder Judiciário julgou com independência e acabou com essa história de impunidade no Brasil, que é o mais grave. Eu acho que esse episódio do mensalão e o julgamento do Supremo, com consequências práticas, vai mudar muito a política brasileira. E homenageio e parabenizo o Supremo. E, claro, que no todo eu acho que o Supremo acertou.

Folha/UOL: Quem são, na sua opinião, os políticos de maior expressão política nacional hoje?

ACM Neto: Você tem vários, não é? Você não tem apenas um político de expressão nacional.

Folha/UOL: Por exemplo? De expressão nacional realmente.

ACM Neto: Você tem políticos no campo do governo, tem político no campo da oposição. A presidente Dilma Rousseff, por ser presidente da República. O ex-presidente Lula é um político de expressão nacional. Para citar dois no campo do governo.

No campo da oposição, você tem o senador Aécio Neves, é um político de expressão nacional. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é um político de expressão nacional. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, está procurando se transformar num político de expressão nacional. Ainda não é, na minha opinião, precisa alargar esses horizontes mas está caminhando nessa direção. Então você tem alguns políticos com peso e expressão nacional.

Folha/UOL: Quem que o sr. admira desses?

ACM Neto: Todos têm as suas qualidades e todos têm os seus defeitos. Eu não sou daqueles de gostar e ficar julgando as pessoas.

Folha/UOL: O sr. admira alguém?

ACM Neto: Claro que admiro.

Folha/UOL: Quem?

ACM Neto: Eu acho que... Repito, todos têm qualidades. Todos têm virtudes, tá certo? E todos...

Folha/UOL: Mas cite um.

ACM Neto: ...todos eles têm [qualidades]. Todos os que nós citamos aqui. Até os meus adversários. Não tem porque, por exemplo, eu não reconhecer qualidades e virtudes da presidente da República.

Folha/UOL: O sr. admira a presidente da República?

ACM Neto: Eu acho que ela é uma pessoa que tem respeitabilidade no cargo. É uma pessoa que cumpre o seu papel de presidente da República e tem qualidades, como o senador Aécio Neves, está certo? [que é] um dos grandes líderes da oposição, é uma pessoa também admirável, que tem qualidades e que tem, evidentemente, como todos nós , como eu tenho, os seus defeitos. E isso é da vida. Não existe alguém que seja 100% perfeito em nada, tá certo?

Folha/UOL: Quais defeitos tem a presidente Dilma?

ACM Neto: Veja, eu acho que, do ponto de vista político, e nós colocamos isso aqui ao longo de praticamente um ano e meio que eu exerci a liderança como deputado de oposição, o governo poderia ter outras prioridades. O governo poderia ter dado um tratamento à outras questões nacionais, está certo?
Acho, por exemplo, no que se refere à política de desenvolvimento econômico. Essa coisa de você priorizar certos segmentos da economia. Eu não acho isso correto. Eu acho que se faz política econômica com redução de carga tributária, com alívio fiscal...

Folha/UOL: A redução do IPI para os automóveis, o sr. acha uma posição equivocada?

ACM Neto: N acho equivocada. Eu acho que a política devia ser mais homogênea. Ela devia ser mais linear. Ela não devia privilegiar apenas certos setores. Devia ser uma coisa que alcançasse e abrangesse, de uma maneira mais ampla os fundamentos da economia.

Folha/UOL: Mas o governo argumenta que, se der esse tipo de incentivo para todos os setores, para de arrecadar. Tem que escolher algum que influi muito na cadeira produtiva, portanto, é esse.

ACM Neto: Sim, mas, aí, você tem outros aspectos que têm que ser considerados. Por exemplo, o tamanho da máquina do Estado. Eu acho que o Governo Federal tem uma máquina muito grande. Nós colocamos isso. Era possível racionalizar: Com uma máquina menor, você tem mais espaço para fazer política de redução de carga tributária.

Folha/UOL: Que nota o sr. dá para a presidente Dilma?

ACM Neto: Fernando, eu nesta campanha fui perguntado que nota eu dava ao prefeito de Salvador, que nota eu dava ao governador do Estado. E eu disse o seguinte, que eu não sou membro de júri de programa de auditório para dar nota a ninguém. Acho que dar nota é você carimbar uma coisa que nem sempre traduz a dimensão do governo ou da pessoa.

Folha/UOL: Mas o governo Dilma é melhor, pior ou é igual ao do Lula?

ACM Neto: Eu acho que o governo Dilma é melhor que o do Lula.

Folha/UOL: Por quê?

ACM Neto: Porque eu acho que é um governo que tem, digamos, mais equilíbrio na posição institucional. É um governo que não é tão condescendente com aquelas velhas práticas da política, do "toma lá, dá cá". Claro que existe uma presença muito forte, partidária, no governo, mas eu acho que a presidente, nesse aspecto, ela é mais dura no tratamento.

Folha/UOL: O sr. acha que ela vai recebe-lo em breve?

ACM Neto: Não sei. O meu desejo é ter com a presidente a melhor relação possível. Não só porque respeito ela, respeito a posição que ela ocupa, mas porque Salvador precisa. Precisa tanto do prefeito como da presidente da República.

Folha/UOL: Muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.

ACM Neto: Obrigado, Fernando.

 

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